Verão de Fé e Festa na Ilha das Flores: Um tempo de celebração entre o Céu e a Terra

Por António Maria Gonçalves

 

Na Ilha das Flores, o verão é, como por todos os Açores, sinónimo de cor, de encontro, de fé vivida em comunidade. Diziam os antigos que as festas religiosas começavam com o Filho – o Senhor Santo Cristo – e terminavam com a Mãe – Nossa Senhora do Rosário. E, entre essas duas grandes devoções, de junho a outubro, a ilha transforma-se num rosário vivo de múltiplas festas paroquiais, onde cada igreja, cada padroeiro, cada comunidade tem o seu momento de celebração.

A partir do Pentecostes e da Festa de São Pedro ( finais de junho),  e terminando em Santa Teresinha (meados de outubro) ,os domingos e fins de semana tornam-se ocasiões de profunda vivência espiritual e também de salutar convivência fraterna. O religioso e o profano entrelaçam-se com naturalidade: missas solenes, procissões, bênçãos e momentos de oração convivem com bailes, tascas, rifas, convívios, petiscos  e refeições  partilhadas. Tudo isto é expressão de um povo que celebra a fé com alegria e corpo inteiro.

As Comissões de Festas com os Conselhos Económicos e muitos colaboradores fazem um trabalho silencioso mas fundamental: como formigas diligentes, angariam fundos, organizam eventos, mantêm vivas as tradições e asseguram, com grande esforço e boa vontade, recursos que contribuem significativamente para o sustento do clero e a manutenção das igrejas, casas paroquiais  e outros espaços patrimoniais. E as Autarquias, sempre solícitas e colaborantes apoiam esses eventos, tornando tudo ainda mais fulguroso e animado.

É verdade que, por vezes, lamentamos ver os bancos das igrejas menos preenchidos. No entanto, é igualmente verdade que nunca os adros e largos das igrejas foram tão frequentados e animados como durante estas festas. A piedade popular, com as suas expressões simples e autênticas, continua a ser uma ponte entre o sagrado e o quotidiano. Ela lembra-nos que Deus não está apenas dentro da igreja: manifesta-se também no sorriso partilhado, no reencontro de familiares, na música que eleva o espírito, no gesto solidário de quem ajuda a preparar a festa.

Cabe-nos, como Igreja viva, acolher, orientar e valorizar este dinamismo. Promover a convivência, sem esquecer a centralidade do Mistério celebrado. Ensinar com paciência, mas também escutar com humildade. É nos passos destes santos padroeiros que o povo caminha. E é neste verão de fé e festa que o coração da ilha bate mais forte.

E quem sabe, um dia, aqueles que habitualmente se ficam pela parte profana, a meio da festa e da alegria, hão de  entrar nos templos  para saudar Aquele que no seu silêncio a todos acolhe e protege, por todos aguarda!

Assim a  “Festa” ficaria ainda mais completa.

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