A festa decorre sempre no segundo domingo de agosto e é a primeira vez que é presidida por D. Armando Esteves Domingues

O bispo de Angra deixou esta tarde um apelo à necessidade de “uma injeção de coração no mundo”, na homilia da festa do Senhor Santo Cristo , que se realiza na ilha Graciosa anualmente no segundo domingo de agosto.
“Precisamos de uma injeção de coração no mundo, uma injeção de quem acredita no amor que Deus lhe tem e não desiste de amar. No mais íntimo de cada mulher e de cada homem, existe uma procura premente daquela felicidade que não desilude, que nenhum bem material pode saciar” afirmou D. Armando Esteves Domingues salientando as dificuldades que a humanidade atravessa.
“No mais íntimo de cada pessoa, existe uma procura premente daquela felicidade que não desilude, que nenhum bem material pode saciar” salientou o prelado, ao recordar que o cristão “é chamado a aceitar ser minoria no meio do mundo, mas uma minoria capaz de fazer a diferença, com rumo”. E acrescentou: “Embora pequenos, somos exortados a não ter medo”.
Refletindo sobre o Evangelho, explicou que o “coração” é o centro unificador da pessoa, lugar de sinceridade e de verdade, onde se guardam as intenções mais profundas. Já o “tesouro” é aquilo a que damos maior valor e que, por isso, deve ser discernido à luz da fé: “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”, afirmou.
Para o bispo de Angra, a experiência mostra que é preciso voltar sempre “à vida verdadeira, radical e exigente do amor evangélico”, lembrando que a caridade “não é só uma intenção de dar a vida, é dar a vida”.
D. Armando Esteves Domingues evocou também as palavras de Jesus – “A mim o fizestes!”- , para alertar que as feridas sociais — fome, pobreza, injustiça, exploração — não podem ser vistas apenas como estatísticas ou categorias, mas como rostos concretos, com nome e identidade.
“Quantos Ecce homo no mundo e à nossa beira! Meu Deus, quantos “Ecce homo” como Jesus no pretório de Pilatos à mercê de todo o tipo de crueldade física e psicológica. Quantas violências, até domésticas!” lamentou.
“Aos doentes, Cristo é a esperança de conforto e força, sustentando nos momentos de fragilidade; aos pobres convida a partilhar e promover a justiça”; aos migrantes, apresentou Jesus como companheiro de viagem”, que conhece a dor do exílio e pede acolhimento generoso e às vítimas de violência e injustiça, garantiu que Cristo é “refúgio e justiça”, transformando o ódio em sinal de amor e esperança.
A homilia terminou com um apelo à solidariedade concreta, inspirada pelo próprio Cristo, que não abandona nenhum dos seus filhos.
“No ano em que assinalamos o Jubileu da Esperança esta festa que esta festa traga a todos mais confiança e vontade de testemunhar a esperança que nos vai no coração”, concluiu.
A imagem do Senhor Santo Cristo que se venera na ilha Graciosa esteve desde ontem ao fim da tarde na Igreja Matriz de Santa Cruz depois de ter sido mudada em procissão desde a Igreja da Misericórdia, onde é venerada durante todo o ano.
A Imagem do Ecce Homo, que também se venera na ilha Graciosa, a segunda mais pequena do arquipélago, foi mudada ontem numa procissão acompanhada pela filarmónica Recreio dos Artistas. Esta tarde, a seguir à missa decorreu a procissão pelas principais ruas da vila de Santa Cruz.
Desde o século XIX, esta festa na ilha reúne muitos emigrantes que nesta altura de verão se deslocam de férias. É porventura a maior festa da ilha e hoje é promovida também pela irmandade do Senhor santo Cristo da Graciosa. A festa realiza-se sempre no segundo domingo de agosto.
O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres tomou impulso a partir dos séculos XVII e XVIII, primeiro em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e rapidamente se espalhou pelas restantes ilhas do arquipélago dos Açores, devendo-se esse facto, sobretudo, às dificuldades financeiras dos habitantes das outras ilhas em se deslocarem a Ponta Delgada para venerar a imagem original. Na actualidade, o Senhor Santo Cristo dos Milagres é venerado em todas as ilhas, sendo que, depois de Ponta Delgada, as maiores festas e procissões a ele dedicadas são as de Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, e as da ilha Graciosa, bem no Faial.
Devido à emigração de muitos açorianos para os Estados Unidos da América e para o Canadá, particularmente oriundos da ilha de São Miguel, o culto e a devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres faz com que também seja expresso pela realização de festas e procissões em algumas cidades do continente americano. Exemplos disso são as cidades de Montreal, na província de Quebec, Brampton, Cambridge, London, Kingston e Leamington, na província de Ontário, no Canadá, assim como na própria capital, em Toronto; e as cidades Fall River e Cambridge, no estado de Massachusetts, entre outras no estado de Rhode Island, nos Estados Unidos. Em Fall River foi mesmo edificada uma igreja paroquial dedicada ao Senhor Santo Cristo.
Na cidade de Hamilton, na Bermuda, é também realizada uma procissão solene em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres.