Catequistas açorianos em peregrinação vivem fé, esperança e encontro ao lado do Papa

A peregrinação no Jubileu dos catequistas, em Roma, foi marcada por emoção, partilha e comunhão reunindo sacerdotes (7) e catequistas de cinco ilhas dos Açores (112) – (Notícia atualizada a 2 de outubro, 21h30)

Foto: Igreja Açores/TF

A dimensão comunitária desta caminhada de fé que levou mais de 100 catequistas açorianos até Roma, para participarem no Jubileu dos Catequistas, convocado pelo Papa Francisco e presidido pelo novo Papa Leão XIV, é porventura um dos aspetos mais referidos por sacerdotes e leigos que desde sexta-feira participam nesta jornada que teve como ponto alto a celebração da Eucaristia, na praça de São Pedro, esta manhã de domingo.

O padre António Santos, pároco do Cabo da Praia, ilha Terceira, acompanhado por cinco catequistas, viveu  em Roma uma “experiência intensa de fé”, marcada pela “dimensão universal da Igreja”, pela “riqueza do património artístico” e pela participação em celebrações presididas pelo Papa Leão XIV.

Segundo o pároco, a viagem foi também vivida em espírito de sinodalidade e fortaleceu a consciência da missão catequética, destacando a centralidade do Kerigma — o anúncio de Jesus morto e ressuscitado, vivo no meio do seu povo.

Para o Padre Carlos Simas, responsável pelo Serviço Diocesano da Catequese em São Miguel e Santa Maria, as duas ilhas que levaram o maior número de catequistas,  esta peregrinação foi “a realização de um sonho”.

O sacerdote destacou que trazer o grupo foi um momento de esperança e confirmação do papel da Igreja como caminho partilhado: “Ninguém é Igreja sozinho. A cada encontro, podemos levar a alegria do Evangelho, fazendo caminho com o outro.”

Sublinhou ainda que a missão do catequista é “oferecer o seu próprio caminho ao próximo”, tornando-se guia e testemunha da fé.

Coragem, esperança e testemunho

O Padre Vítor Medeiros, desde meados de setembro a servir em São Jorge, sintetizou esta experiência em três palavras: “coragem, esperança e testemunho”.

Para o presbítero, a peregrinação mostrou a importância de “sermos rosto e voz da Igreja”, lembrando que “somos semeadores e não os responsáveis pelo resultado da sementeira”.

Apesar do cansaço dos dias, afirmou ter visto “um grupo de heróis” que, mesmo entre a confusão, guardam a força necessária para escutar os seus guias na terra, como é o caso do Papa e levar às comunidades “a riqueza desta experiência”.

Não caminhamos sós

Já o Padre Carlos Espírito Santo falou da peregrinação como uma experiência de comunhão: “Não caminhamos sós, caminhamos com Jesus e com este grupo de apóstolos. Celebrar ao lado do Papa, o nosso pastor universal, e trazer na sua bênção todos os que nos são próximos é muito bom.”

Também os leigos partilharam a intensidade da vivência. Para Fátima Ponte, membro da equipa da Catequese nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, estes foram “dias maravilhosos e muito ricos”:

“Estar junto do Papa é uma sensação única. A força que ele nos dirige como catequistas e evangelizadores dá-nos ânimo para, como São João, apregoar até por cima dos telhados.”

O Papa desafiou hoje os catequistas de todo o mundo a uma atenção particular por quem sofre, por causa da pobreza e da violência.

“Às portas da opulência jaz hoje a miséria de povos inteiros, atormentados pela guerra e pela exploração. Com o passar dos séculos, parece que nada mudou”, disse Leão XIV, na Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, perante dezenas de milhares de pessoas.

Após a homilia, o pontífice instituiu como catequistas 39 leigos e leigas de 16 países, incluindo Rita Santos, de Lisboa, e Elisabete Nunes, de Aveiro.

Os catequistas instituídos neste ministério receberam do Papa o crucifixo como “sinal da sua vocação especial”, pelo Dicastério para a Evangelização (Santa Sé).

O grupo incluía responsáveis da Itália, Espanha, Inglaterra, Brasil, México, Índia, Coreia do Sul, Timor-Leste, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Estados Unidos, Moçambique, Brasil, Peru e República Dominicana.

A homilia partiu de uma passagem do Evangelho de São Lucas, na qual Jesus apresenta uma reflexão sobre pobreza e riqueza, com destaque para um pobre, chamado Lázaro.

O Papa apontou as tentações da “ganância” e da “indiferença” perante o sofrimento alheio, apresentando o Jubileu como “tempo de conversão e perdão, de empenho pela justiça e de busca sincera da paz”.

Leão XIV disse esta manhã que os catequistas devem ser “uma pessoa de palavra, uma palavra que pronuncia com a própria vida”.

“O anúncio da fé não pode ser delegado a outros, mas acontece no lugar onde vivemos. Em primeiro lugar, nas nossas casas, à volta da mesa: quando há uma voz, um gesto, um rosto que conduz a Cristo, a família experimenta a beleza do Evangelho”, indicou.

“Enquanto crianças, adolescentes, jovens, depois como adultos e também como idosos, os catequistas acompanham-nos na fé, partilhando um caminho constante, como vós fizestes hoje, na peregrinação jubilar.”

O Papa assinalou que a fé comum, indicada no catecismo, “protege do individualismo e das discórdias”.

“Quando educamos na fé, não damos uma lição, mas plantamos no coração a palavra da vida, para que ela dê frutos de vida boa”, prosseguiu.

O Jubileu dos Catequistas decorreu em Roma desde sexta-feira, reunindo mais de 20 mil peregrinos de 115 países.

(Com Graça Amaral e Tito Fontes)

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