A peregrinação no Jubileu dos catequistas, em Roma, foi marcada por emoção, partilha e comunhão reunindo sacerdotes (7) e catequistas de cinco ilhas dos Açores (112)

A dimensão comunitária desta caminhada de fé que levou mais de 100 catequistas açorianos até Roma, para participarem no Jubileu dos Catequistas, convocado pelo Papa Francisco e presidido pelo novo Papa Leão XIV, é porventura um dos aspetos mais referidos por sacerdotes e leigos que desde sexta-feira participam nesta jornada que teve como ponto alto a celebração da Eucaristia, na praça de São Pedro, esta manhã de domingo.
Para o Padre Carlos Simas, responsável pelo Serviço Diocesano da Catequese em São Miguel e Santa Maria, as duas ilhas que levaram o maior número de catequistas, esta peregrinação foi “a realização de um sonho”.
O sacerdote destacou que trazer o grupo foi um momento de esperança e confirmação do papel da Igreja como caminho partilhado: “Ninguém é Igreja sozinho. A cada encontro, podemos levar a alegria do Evangelho, fazendo caminho com o outro.”
Sublinhou ainda que a missão do catequista é “oferecer o seu próprio caminho ao próximo”, tornando-se guia e testemunha da fé.
Coragem, esperança e testemunho
O Padre Vítor Medeiros, desde meados de setembro a servir em São Jorge, sintetizou esta experiência em três palavras: “coragem, esperança e testemunho”.
Para o presbítero, a peregrinação mostrou a importância de “sermos rosto e voz da Igreja”, lembrando que “somos semeadores e não os responsáveis pelo resultado da sementeira”.
Apesar do cansaço dos dias, afirmou ter visto “um grupo de heróis” que, mesmo entre a confusão, guardam a força necessária para escutar os seus guias na terra, como é o caso do Papa e levar às comunidades “a riqueza desta experiência”.
Não caminhamos sós
Já o Padre Carlos Espírito Santo falou da peregrinação como uma experiência de comunhão: “Não caminhamos sós, caminhamos com Jesus e com este grupo de apóstolos. Celebrar ao lado do Papa, o nosso pastor universal, e trazer na sua bênção todos os que nos são próximos é muito bom.”
Também os leigos partilharam a intensidade da vivência. Para Fátima Ponte, membro da equipa da Catequese nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, estes foram “dias maravilhosos e muito ricos”:
“Estar junto do Papa é uma sensação única. A força que ele nos dirige como catequistas e evangelizadores dá-nos ânimo para, como São João, apregoar até por cima dos telhados.”
O Papa desafiou hoje os catequistas de todo o mundo a uma atenção particular por quem sofre, por causa da pobreza e da violência.
“Às portas da opulência jaz hoje a miséria de povos inteiros, atormentados pela guerra e pela exploração. Com o passar dos séculos, parece que nada mudou”, disse Leão XIV, na Missa a que presidiu na Praça de São Pedro, perante dezenas de milhares de pessoas.
Após a homilia, o pontífice instituiu como catequistas 39 leigos e leigas de 16 países, incluindo Rita Santos, de Lisboa, e Elisabete Nunes, de Aveiro.
Os catequistas instituídos neste ministério receberam do Papa o crucifixo como “sinal da sua vocação especial”, pelo Dicastério para a Evangelização (Santa Sé).
O grupo incluía responsáveis da Itália, Espanha, Inglaterra, Brasil, México, Índia, Coreia do Sul, Timor-Leste, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Estados Unidos, Moçambique, Brasil, Peru e República Dominicana.
A homilia partiu de uma passagem do Evangelho de São Lucas, na qual Jesus apresenta uma reflexão sobre pobreza e riqueza, com destaque para um pobre, chamado Lázaro.
O Papa apontou as tentações da “ganância” e da “indiferença” perante o sofrimento alheio, apresentando o Jubileu como “tempo de conversão e perdão, de empenho pela justiça e de busca sincera da paz”.
Leão XIV disse esta manhã que os catequistas devem ser “uma pessoa de palavra, uma palavra que pronuncia com a própria vida”.
“O anúncio da fé não pode ser delegado a outros, mas acontece no lugar onde vivemos. Em primeiro lugar, nas nossas casas, à volta da mesa: quando há uma voz, um gesto, um rosto que conduz a Cristo, a família experimenta a beleza do Evangelho”, indicou.
“Enquanto crianças, adolescentes, jovens, depois como adultos e também como idosos, os catequistas acompanham-nos na fé, partilhando um caminho constante, como vós fizestes hoje, na peregrinação jubilar.”
O Papa assinalou que a fé comum, indicada no catecismo, “protege do individualismo e das discórdias”.
“Quando educamos na fé, não damos uma lição, mas plantamos no coração a palavra da vida, para que ela dê frutos de vida boa”, prosseguiu.
O Jubileu dos Catequistas decorreu em Roma desde sexta-feira, reunindo mais de 20 mil peregrinos de 115 países.
(Com Graça Amaral e Tito Fontes)