Documento “Batizados na Esperança” marca o arranque do primeiro ano do primeiro triénio de uma caminhada de nove anos até 2034, data em que a diocese celebra cinco séculos de fundação
A Diocese de Angra inicia no próximo domingo, 5 de outubro, uma caminhada pastoral com horizonte em 2034 e no arranque deste tempo o Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, publica uma Carta Pastoral na qual traça as linhas orientadoras para os próximos nove anos, centradas na esperança, na corresponsabilidade e na construção de uma Igreja sinodal.
Um dos pontos mais determinantes deste documento é a obrigatoriedade de todas as paróquias da diocese constituírem, até ao final do ano pastoral de 2025/2026, os seus Conselhos Pastorais Paroquiais. Esta determinação, assumida como prioridade estrutural do caminho sinodal que se pretende trilhar, visa garantir que todas as comunidades cristãs possam viver de forma mais concreta e representativa a dimensão da escuta, da partilha e do discernimento em conjunto.
Embora o Código de Direito Canónico preveja o carácter consultivo destes Conselhos, o Bispo de Angra reforça que a sua missão não pode ser meramente formal. Devem ser verdadeiros espaços de participação e corresponsabilidade, onde a voz do Povo de Deus seja tida em conta nos processos pastorais. Sublinha mesmo que “a autoridade pastoral tem o dever, como serviço que é, de escutar aqueles que participam na consulta e, por conseguinte, não pode atuar como se não tivesse escutado”.
“Não podendo, do ponto de vista canónico, alterar o `carácter consultivo´ dos conselhos pastorais, desejo, no entanto, que esse carácter tenha uma dimensão mais ampla, de um ponto de vista pastoral, isto é, que os Conselhos Pastorais, participem ativamente nos processos de decisão”, refere o prelado sintonizando o caminho pastoral da diocese com as orientações vindas de Roma no documento final da XVI Assembleia do Sínodo sobre Sinodalidade, adoptado pelo papa Francisco como documento do magistério.
“O carácter consultivo dos Conselhos não os pode remeter para a esfera secundária de serem apenas um repositório ao serviço do Bispo, do Pároco ou do Ouvidor. Como em qualquer comunidade que vive segundo a justiça, na Igreja, o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária” prossegue.
“Assim, e sem contrariar o que o Direito estabelece, podemos criar órgãos consultivos alargados e processos de discernimento partilhado. Deste modo, a voz do Povo de Deus torna-se mais audível também nas decisões que tocam a vida da Diocese, sinal de uma Igreja que caminha unida na corresponsabilidade”, pode ler-se.
Neste sentido, D. Armando Esteves Domingues apela à criação de Conselhos Pastorais com representatividade efetiva, capazes de integrar não só os agentes pastorais habituais, mas também outros membros da comunidade, incluindo representantes da piedade popular ou de movimentos e grupos que exprimem a vivência concreta da fé no território. Salienta também que, em determinadas situações, estes Conselhos poderão ser interparoquiais ou a nível de ouvidoria, adaptando-se à realidade pastoral de cada zona.
Além disso, a Carta Pastoral “Batizados na Esperança, aponta para a possibilidade de leigos coordenarem e presidirem a conselhos de âmbito intermédio, como os de ouvidoria ou zonas pastorais, reforçando a necessidade de valorizar os carismas laicais e promover uma cultura de participação efetiva. A Carta propõe a criação de uma comissão para rever e atualizar os estatutos dos Conselhos Pastorais, à luz das exigências atuais da missão da Igreja.
Este documento marca o início do designado Projeto Pastoral Diocesano, que será desenvolvido ao longo de três triénios —Anúncio (2025-2028), Caridade (2028-2031) e Celebração (2031-2034) —, depois de uma longa auscultação das bases, iniciada em 1992, no Congresso de Leigos, continuada na Caminhada Sinodal Diocesana entre 2018 e 2021 e já nestes dois anos do seu episcopado, através dos Laboratórios.
No primeiro triénio deste novo ciclo, a atenção estará voltada para a redescoberta do batismo e da identidade cristã, com especial foco na escuta da Palavra, no acolhimento e no anúncio, num movimento contínuo de conversão pessoal e comunitária.
O contexto da publicação desta Carta é também marcado pelo Ano Jubilar da Esperança, que pretende reavivar a confiança nas promessas de Deus, mesmo em tempos de incerteza. Por isso, toda a proposta pastoral é atravessada por uma espiritualidade de esperança ativa e comprometida, que leve as comunidades a superar a inércia e a indiferença, e a descobrir caminhos novos de missão e serviço.
A formação cristã, a valorização dos ministérios laicais, a preparação cuidada para os sacramentos — como no caso da criação de Centros de Preparação para o Batismo — e o diálogo entre a tradição e a renovação são elementos presentes ao longo do texto, composto por 49 pontos distribuídos por 14 páginas, que apresenta um claro desejo de mobilizar toda a diocese numa dinâmica de comunhão e corresponsabilidade.
A sinodalidade, longe de ser entendida como uma simples estratégia organizativa, é apresentada como um modo de ser Igreja, uma espiritualidade que convida a passar do “eu” ao “nós”, e a caminhar juntos ao ritmo do Espírito.
O documento, dirigido a “presbíteros, diáconos, consagrados, leigos, batizados e pessoas de boa vontade”, destaca que a esperança “é o fundamento da fé e da ação eclesial”, sendo esta a atitude que deve marcar toda a caminhada da Igreja nos Açores.
No documento há um apelo diferenciador sublinhando a importância da vocação sacerdotal e o papel central dos presbíteros, salientando que o ministério sacerdotal é “um serviço de amor e entrega”, inspirado no exemplo de Cristo que veio “não para ser servido, mas para servir”.
Os padres são, por isso, chamados a viver a sua missão com proximidade, acolhimento e escuta, animando e promovendo a sinodalidade nas comunidades. O processo de “desclericalização” é visto como essencial para valorizar a vocação de cada batizado numa Igreja missionária e fiel ao Evangelho.
A Carta recorda, ainda, que a Igreja nos Açores tem uma identidade própria, marcada pela condição arquipelágica, forte tradição religiosa, realidade migratória e desafios sociais. Por isso, a Carta incentiva o Projeto Pastoral a procurar estar enraizado no concreto da realidade açoriana, ao mesmo tempo que se insere na dinâmica da Igreja Universal.
Apesar das dificuldades impostas pela dispersão geográfica das ilhas, a unidade e a comunhão devem prevalecer como sinal de autenticidade cristã. “«Vede como eles se amam» continua a ser a primeira forma de evangelização, sem a qual tudo se torna incoerente”, refere ainda o documento.
Sem impor metas rígidas, o Bispo de Angra manifesta abertura para que, a seu tempo, esta caminhada possa culminar numa Assembleia Sinodal Diocesana, desde que se reconheça maturidade suficiente no percurso realizado.
No encerramento da Carta, D. Armando Esteves Domingues confia este caminho à proteção da Virgem Maria, Senhora da Esperança, sublinhando que a meta de 2034 deve ser também um novo princípio: “A mais não nos obrigamos do que, em 2034, sermos uma Igreja preparada para 2035”.
No próximo domingo, o prelado diocesano presidirá á abertura do ano pastoral em Santa maria, a primeira ilha a ser descoberta e, por isso, escolhida simbolicamente para iniciar esta nova etapa da Igreja diocesana. A cerimónia de abertura terá lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto, às 16h00, seguindo-se depois a celebração da Eucaristia, às 18h00, na Igreja Matriz de Vila do porto, igreja jubilar da ilha. A sessão de abertura terá transmissão em direto em https://www.facebook.com/igrejaacores/. Na ocasião será lançado o caderno operativo deste primeiro ano do triénio, sob o lema “Cristão, que dizes de ti mesmo”.