Carta Pastoral “Batizados na Esperança” desafia à conversão pessoal e comunitária e a uma vivência “autêntica” da sinodalidade

No início do primeiro triénio pastoral que tem como horizonte o ano de 2034, data em que se celebra os 500 anos da diocese, o bispo de Angra apela à prioridade de um auto conhecimento da Igreja diocesana a partir da pergunta “Cristão, que dizes de ti mesmo?” , como ponto de partida para todo o caminho pastoral.
Segundo a Carta Pastoral “Batizados na Esperança” publicada esta quinta-feira por D. Armando Esteves Domingues, a interrogação que mobiliza todo o ano pastoral, ecoa na tradição da Igreja, desde os Padres até aos teólogos contemporâneos, e constitui o alimento para a fidelidade ao Evangelho em cada tempo histórico.
“Conhecer-se como Igreja é, antes de tudo, encontrar Cristo: Se nós somos, de alguma forma, a casa onde Jesus mora ou quer morar, Ele é, definitivamente, a nossa morada”, afirma o documento muito centrado em Jesus, a partir do evangelho de João “Rabi, onde moras?”.
A centralidade desse encontro traduz-se num caminho de conversão contínua, refere o prelado na Carta Pastoral, um documento com 49 pontos e 14 páginas que consubstancia o respaldo teológico-pastoral para o próximo triénio.
“Nada fará sentido dentro da Igreja sem a primordial e mais radical condição no seu seio: a nossa conversão, pessoal e comunitária”, sublinha o bispo.
Essa conversão, inspirada na espiritualidade sinodal, implica a passagem do “eu” ao “nós”, superando individualismos e uma pastoral autorreferencial.
A carta pastoral insiste, assim, na necessidade de discernimento em comunidade: “O discernimento comunitário é um ato de fé no Espírito Santo, que fala através de todo o Povo de Deus”.
A Carta dedica uma atenção especial à compreensão da Igreja como simultaneamente hierárquica e sinodal, destacando que ambas as dimensões se completam no dinamismo da comunhão trinitária.
“Hoje, e para além da dimensão hierárquica da Igreja, valoriza-se a sinodalidade como sendo, também ela, constitutiva da Igreja”, lê-se no documento, que recorda o Concílio Vaticano II.
“A sinodalidade não designa um simples procedimento operativo, mas a forma peculiar na qual a Igreja vive e opera”, lê-se numa referência aos Atos dos Apóstolos e sublinha o ideal da primeira comunidade cristã.
Na Carta Pastoral, D. Armando Esteves Domingues situa a questão na realidade concreta da Diocese de Angra, marcada pela sua condição arquipelágica e pela dispersão geográfica das nove ilhas. O texto lembra ainda a “forte dimensão social da fé do nosso povo”, profundamente enraizada nas tradições religiosas, mas também exposta à secularização e à pobreza endémica que afeta muitas famílias.
“É um meu grande desejo que a Igreja nos Açores, e apesar de todas as diversidades, a começar pelas geográficas, se compreenda numa perspetiva de comunhão, que faz parte da sua essência”, escreve o bispo.
E conclui com um apelo à unidade: “Olhemos então para a Igreja como comunidade que, fiel ao ensinamento e ao testemunho dos apóstolos, caminha com Cristo para a santidade, sendo, assim, missionária, em saída, luz para o mundo e ao serviço do mundo”.
No próximo domingo, o prelado diocesano presidirá á abertura do ano pastoral em Santa maria, a primeira ilha a ser descoberta e, por isso, escolhida simbolicamente para iniciar esta nova etapa da Igreja diocesana. A cerimónia de abertura terá lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto, às 16h00, seguindo-se depois a celebração da Eucaristia, às 18h00, na Igreja Matriz de Vila do porto, igreja jubilar da ilha. A sessão de abertura terá transmissão em direto em https://www.facebook.com/igrejaacores/. Na ocasião será lançado o caderno operativo deste primeiro ano do triénio, sob o lema “Cristão, que dizes de ti mesmo”.