Iniciativa decorreu em Vila do Porto, ilha de Santa Maria, numa cerimónia inédita de descentralização que há de percorrer todas as ilhas do arquipélago neste novo itinerário de 9 anos, até à comemoração dos 500 anos da diocese

O Bispo de Angra lançou este domingo, na ilha de Santa Maria, o novo Projeto Pastoral Diocesano 2025-2026, um itinerário que abre caminho a nove anos, alicerçados na esperança, unidade, formação e sinodalidade.
“Cristão, que dizes de ti mesmo?” é a pergunta que marcará o primeiro ano deste percurso, que pretende inspirar uma “Igreja viva, dialogante e comprometida com o mundo”.
“Não queremos um projeto pastoral de papel, mas uma Igreja viva, feita de alma e paixão por Jesus”, afirmou o prelado, sublinhando que “a esperança cristã é a força que transforma a fé em ação”.
Na cerimónia de lançamento, em que participaram três leigos que deram testemunho do seu Batismo, sacramento central deste triénio focado no anúncio, D. Armando Esteves Domingues evocou São Francisco de Assis e o seu Cântico ao Irmão Sol, pedindo que “a luz divina ilumine os olhos de todos os fiéis” e que este novo caminho pastoral seja “sinal de unidade e de comunhão”.
O bispo alertou para o contexto global de divisões e radicalismos, que também afetam o mundo religioso, e advertiu contra os “nacionalismos católicos”, que começam a surgir, por exemplo nos EUA e os “clubes de tendências” que ameaçam a universalidade da Igreja.
“Corremos o risco de viver escondidos, sem espaço para o confronto saudável e o enriquecimento mútuo. A evangelização não pode ser propaganda, mas caminho de escuta e de diálogo”, afirmou.
O prelado diocesano, que esta semana lançou a Carta Pastoral “Batizados na Esperança”, sublinhou ainda que a sinodalidade é o verdadeiro caminho da Igreja para o novo milénio, retomando as palavras do Papa Francisco: “A sinodalidade é uma grande ajuda à vida social e política, porque traz uma capacidade nova de ouvir e de construir juntos”.
O itinerário pastoral agora lançado baseia-se em quatro pilares centrais, sintetizados na Carta Pastoral .
O bispo diocesano sublinhou que a esperança é o coração deste caminho, lembrando que “o cristão é alguém capaz de ir contra a corrente”.
“Num tempo de desesperanças e incertezas”, afirmou, a Igreja açoriana “deve ser um sinal visível de confiança e alegria.”
A unidade, por sua vez, é chamada a manifestar-se numa comunhão efetiva entre leigos, religiosos e presbíteros, onde “se possa dizer de cada comunidade: vede como eles se amam”.
No campo da formação, o projeto prevê a criação de Escolas de Formação Cristã de Ouvidoria, a realização de retiros, catequeses querigmáticas e programas conjuntos destinados tanto a leigos como a ministros ordenados, reforçando o crescimento espiritual e a corresponsabilidade.
Finalmente, a sinodalidade surge como o eixo que integra todos os outros pilares, promovendo a renovação dos conselhos pastorais paroquiais e de ouvidoria e incentivando uma participação real e ativa dos leigos nos processos de discernimento e decisão da Igreja diocesana.Entre os principais desafios do projeto estão a diminuição da prática sacramental, a pobreza estrutural das ilhas, o afastamento de fiéis da vida eclesial e a necessidade de um novo diálogo com a cultura, o trabalho e a amizade social.
O bispo explicou que este Projeto Pastoral Diocesano foi construído “em estilo sinodal”, com “escuta, paciência e discernimento comunitário”, e será continuamente avaliado ao longo dos nove anos, “confiando sempre nas mãos do Espírito Santo”.
“Mais do que palavras, este projeto é alma, vontade e decisão de nos renovarmos para fazer deste mundo um lugar de esperança, um lugar de Cristo”, sublinhou.
O bispo de Angra apelou, ainda, aos fiéis para que sejam “promotores de unidade e animadores deste itinerário”, vivendo uma fé ativa e fraterna: “O amor cristão não é o que se diz a uma pessoa, mas o que se faz por ela. O cristão não nasce, faz-se.”
Confiando esta nova etapa à proteção de Nossa Senhora da Esperança, D. Armando Esteves Domingues concluiu com um apelo: “Oxalá vejamos a Igreja nos Açores a renovar-se, humilde e desinteressada, ao estilo das bem-aventuranças. Que cada gesto de caridade seja um sinal de esperança e comunhão.”
Durante a sessão, que contou com a participação de vários dirigentes de movimentos e serviços da ouvidoria bem como autoridades civis da ilha, o diretor do Serviço Diocesano da Coordenação Pastoral apresentou as linhas orientadoras do ano pastoral, exemplificando com as várias iniciativas propostas: criação de Centros de Preparação para o Batismo, Escolas de Formação de Ouvidoria e Conselhos Pastorais Paroquiais.
O Padre Jacob Vasconcelos falou também das três propostas de catequeses, apresentando-as como textos norteadores da reflexão e discernimento que as comunidades paroquiais devem fazer à cerca da sua condição como cristãos.
Três leigos deram também testemunho do seu batismo. O Casal Zélia e António Humberto Cabral, da paróquia de São Pedro, em Santa Maria, falaram da experiência como catequistas e animadores de grupos de jovens, depois de terem sido cursilhistas e de terem uma vida em Igreja de mais de 40 anos.
“A importância do exemplo é tudo num cristão” disse Zélia Cabral.
Também Ruben Melo, hoje casado e com filhos, deu testemunho da sua vocação cristã.
A cerimónia de apresentação e lançamento do projeto Pastoral culminou com uma concelebração na Igreja Matriz de Vila do Porto. A partir da liturgia deste domingo, D. Armando Esteves Domingues desafiou os diocesanos a terem uma fé do tamanho de um grão de mostarda: pequenina mas com uma qualidade capaz de contagiar o mundo”.
“Que seja um ano de fé para todos, para acreditarmos que somos todos necessários para um momento tão importante e decisivo na vida desta igreja. Sejamos servos de Jesus Cristo”.
“Esta é a hora da fidelidade ousada, criativa, do compromisso sincero com Deus e com os outros”, concluiu.+
O Projeto Pastoral Diocesano está disponível online e em breve a edição impressa chegará a todas as ouvidorias, serviços e movimentos, juntamente com a Carta pastoral do Bispo de Angra.