“Ser católico é uma forma de estar na vida e não apenas na Igreja”- Sofia Couto

Catequista de São Carlos, na ilha Terceira, defende uma fé ativa e adaptada aos tempos modernos, numa altura em que em Fátima se definem os percursos da catequese no novo itinerário

Sofia Couto é catequista há cinco anos e afirma que o catolicismo não se pode resumir às paredes da igreja, numa entrevista ao Sítio Igreja Açores que vai para o ar no programa de rádio do próximo domingo na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, depois do meio-dia.

“Ser católico é uma forma de estar na vida, não é uma forma de estar na igreja. Nós estamos na igreja uma hora por semana, mas na vida estamos 24 horas por dia”, afirma a catequista do curato de São Carlos, na ouvidoria de Angra, destacando que a catequese “tem de ensinar isso: transformar a fé para a vida, não apenas para a hora que passamos por semana dentro da igreja.”

O seu percurso como catequista começou, segundo conta, “por completo acaso”. Envolvida na organização das festas de São Carlos, foi convidada a integrar a equipa de catequistas.

“Nada que tivesse ambicionado fazer, mas foi um bom acaso que correu bem”, recorda. Desde então, acompanhou grupos de diferentes idades — dos adolescentes do 9.º e 10.º anos às crianças do 3.º ano — e descobriu na missão de ensinar um caminho de crescimento pessoal e espiritual.

Aprender a fé com as `mãos na massa´

Sofia couto acredita que a catequese deve ser vivida de forma prática e envolvente.

“A experiência é fundamental. Sentar os jovens numa sala e dizer que devem ajudar os outros não é o mesmo que pô-los a viver isso”, explica.

Exemplo disso foi uma atividade em que os jovens que orientou antes do Crisma, ao trabalharem o tema “a humildade precede a honra”, passaram uma manhã a varrer as ruas com os funcionários municipais.

“Perceberam que alguém tem de cuidar do que os outros descuidam. Foi uma lição de humildade que nunca esqueceram.”

Noutra ocasião, o grupo dedicou-se ao mandamento “honrar pai e mãe”: os adolescentes prepararam e serviram um pequeno-almoço aos pais, aprendendo o valor do serviço e da gratidão.

“O que fazemos é viver o Evangelho no quotidiano. Não é decorar o catecismo, é experimentar o amor, a partilha e a responsabilidade”, sublinha.

“A catequese não é só transmitir doutrina. É viver e ensinar pelo exemplo. Quando os miúdos varrem as ruas para compreender a humildade ou servem o pequeno-almoço aos pais para aprender a honrar pai e mãe, estão a viver o Evangelho”, enfatiza.

“Se Deus é amor, temos de encarnar essa forma de ser. A catequese deve ensinar a viver a fé todos os dias. Ser católico é uma forma de estar na vida.”

Para Sofia, é essencial usar as linguagens e ferramentas do mundo contemporâneo para aproximar os jovens da fé — sem perder autenticidade.

“Temos de aproveitar o que as novas tecnologias têm de bom. O importante é que a mensagem chegue e faça sentido.”

Com os mais novos, Sofia Couto aposta em atividades criativas em sala de aula, respondendo às perguntas curiosas e, por vezes, desafiantes das crianças.

“As perguntas deles fazem-nos pensar. Às vezes perguntam: ‘Mas Jesus existiu mesmo?’. E é importante explicar que Jesus existiu de verdade, esteve na Terra e fez o bem. Essa é a base.”

A catequista defende que a Igreja deve acompanhar a evolução dos tempos.

“Em muitos lugares, a Igreja Católica parou no tempo. E quer que os católicos parem também. Isso não vai acontecer. Temos de ser inteligentes para acompanhar o mundo moderno e estar na vanguarda”, afirma.

Para Sofia Couto, o distanciamento dos jovens da Igreja não é sinal de perda de valores.

“Os jovens não estão perdidos. Estão desligados de uma Igreja que muitas vezes não os acompanha. Se soubermos falar a sua linguagem, eles respondem com entusiasmo.”

A catequista admite que a sua experiência no ensino da fé a transformou profundamente.

“Voltei a acreditar. Ganhei muita fé nos jovens. Eles têm vontade e valores; precisam é de uma orientação que lhes faça sentido”.

A entrevista, feita no contexto das Jornadas Nacionais de Catequistas em Fátima, vai para o ar este domingo depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra. Também pode ser ouvida aqui, a partir de domingo.

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