Leão XIV denuncia “risco de vazio cultural” e pede renovação na linguagem teológica

Foto: Lusa/EPA

O Papa inaugurou hoje o novo ano académico na Universidade Pontifícia Lateranense, em Roma, alertando para o risco de um “vazio cultural” e apelando à renovação na linguagem teológica.

“Temos uma necessidade urgente de refletir sobre a fé para poder decliná-la nos cenários culturais e nos desafios atuais, mas também para combater o risco do vazio cultural que, na nossa época, se torna cada vez mais pervasivo”, referiu Leão XIV, no discurso que proferiu perante docentes e alunos da instituição académica.

O pontífice sublinhou, em particular, a missão da Faculdade de Teologia na reflexão sobre a “beleza e credibilidade” da fé nos diferentes contextos contemporâneos.

“Que a fé apareça como uma proposta plenamente humana, capaz de transformar a vida dos indivíduos e da sociedade, de desencadear mudanças proféticas em relação aos dramas e às pobrezas do nosso tempo e de encorajar a busca de Deus”, desejou.

Afirmando que a Universidade Lateranense ocupa um “lugar especial” no coração do Papa, Leão XIV convidou os presentes a “sonhar em grande, a imaginar espaços possíveis para o cristianismo do futuro, a trabalhar com alegria para que todos possam descobrir Cristo”.

A intervenção, transmitida em direto pelos canais do Vaticano, recordou a “longa história” que liga os Papas, bispos de Roma, à Lateranense, desde que Clemente XIV lhe confiou a formação do clero desta diocese, em 1773.

“A Universidade Pontifícia Lateranense, rica pela presença de estudantes, professores e pessoal dos cinco continentes, representa um microcosmo da Igreja universal: sejam, portanto, um sinal profético de comunhão e fraternidade”, apelou o Papa.

Leão XIV pediu que, no centro da formação desta instituição, estejam “a reciprocidade e a fraternidade”.

“Hoje, infelizmente, usa-se frequentemente a palavra pessoa como sinónimo de indivíduo, e o fascínio do individualismo como chave para uma vida bem-sucedida tem implicações inquietantes em todos os domínios: aponta-se para a promoção de si mesmo, alimenta-se o primado do eu e tem-se dificuldade em cooperar, crescem os preconceitos e as barreiras em relação aos outros e, em particular, àqueles que são diferentes, troca-se o serviço da responsabilidade por uma liderança solitária e, no final, multiplicam-se os mal-entendidos e os conflitos.”

O Papa sublinhou que a identidade própria da instituição deriva do “magistério do pontífice”, que a orienta como “centro privilegiado onde o ensinamento da Igreja universal é elaborado, recebido, desenvolvido e contextualizado”.

Esta missão, indicou, faz da Lateranense um recurso também “para o trabalho quotidiano da Cúria Romana”.

Sobre a filosofia, Leão XIV indicou que o estudo deve visar “a busca da verdade através dos recursos da razão humana, aberta ao diálogo com as culturas e, sobretudo, com a Revelação cristã”, alertando para “as formas emergentes de racionalidade ligadas ao transumanismo e ao pós-humanismo”.

O discurso destacou ainda os ciclos de Ciências da Paz e Ecologia e Ambiente, desejando que sejam desenvolvidos de modo “inter e transdisciplinar”, para formar “operadores de paz e justiça” capazes de apoiar “processos rumo a uma ecologia integral”.

Leão XIV citou a encíclica ‘Fratelli Tutti’ (2020), de Francisco, para alertar contra “o vírus do individualismo radical”.

“A formação académica ajuda-nos a sair da autorreferencialidade e promove uma cultura de reciprocidade, de alteridade, de diálogo”, afirmou.

O Papa advertiu depois para o risco de desvalorizar o estudo na Igreja, que leva a cair, na ação pastoral, “na banalidade, na aproximação ou na rigidez”.

“Precisamos de leigos e sacerdotes preparados e competentes”, insistiu.

Por fim, Leão XIV apresentou o “bem comum” como horizonte último da missão académica, chamando a formar pessoas “que, na lógica da gratuidade e na paixão pela verdade e pela justiça, possam ser construtoras de um mundo novo, solidário e fraterno”.

“Desejo que continuem a sondar o mistério da fé cristã com esta paixão e que se exercitem sempre na prática do diálogo com o mundo, com a sociedade, com as questões e os desafios de hoje”, concluiu.

(Com Ecclesia e Vatican News)

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