Porta de Assis: um projeto da Matriz da Horta que reabriu caminhos de esperança para 11 famílias vulneráveis

Projeto começou quando encerrou a Conferência Vicentina por falta de leigos

Foto: Facebook da Igreja Matriz da Horta

 

A Matriz da Horta tem um projeto de apoio social que nasce do compromisso de não deixar ninguém para trás. A Porta de Assis, coordenada por Teresa Morais, surge após o encerramento da antiga Conferência Vicentina da Matriz, que terminou por falta de leigos disponíveis. Esta iniciativa procura assegurar que a ação social da comunidade continua viva, próxima e eficaz, porque para além da questão material há também a questão humana.

“Sou uma pessoa que não se mete pela porta dentro, e ter de encarar as pessoas, trabalhar com elas e enfrentar os seus problemas custou um bocadinho”, confessa Teresa Morais, “mas era preciso, e por isso colocámos mãos à obra.”

A Porta de Assis funciona de forma muito semelhante às antigas conferências vicentinas. Mensalmente, nove leigos visitam 11 famílias da paróquia, entregando alimentos, medicamentos e, sobretudo, “presença e escuta”. Apesar de a comunidade não viver em abundância, Teresa  Morais sublinha que “há pessoas com necessidades profundas, sobretudo os mais velhos, com pensões muito baixas”.

“Vivemos numa sociedade indiferente. Além da pobreza material há muita vulnerabilidade resultante da solidão, da falta de esperança” refere centrando, uma vez mais, a atenção nos mais iodosos.

“Até têm família, mas nem sempre recebem atenção devida e isso reflete-se também no apoio, por exemplo à compra de medicamentos”.

Foto: Teresa Morais

Para a coordenadora das Porta de Assis, a maior aprendizagem cristã vem sempre dos próprios pobres: “Fizeram-me pensar mais. Infelizmente, nem todos vivem com as condições básicas… e muitos estão muito sozinhos”.

“A maior pobreza é não conhecer o amor e a atenção”, conclui Teresa. “E isso… isso nós podemos dar.”

Nos Açores, a taxa de pobreza é a mais alta de Portugal, atingindo 24,2% em 2024 (média nacional é de 16,6%), o que significa que quase um quarto da população vive em risco de pobreza, segundo o Balanço Social 2024. Isto representa cerca de 50 mil pessoas (um em cada cinco açorianos) vive em situação de pobreza, com o problema a ser mais acentuado em áreas como a habitação e alimentação, sendo a região mais desigual do país e com maiores carências materiais e sociais.

Segundo estes dados oficiais 12% da população vive em situação severa de privação,  com carências em saúde, habitação e alimentação.

Os Açores enfrentam um problema estrutural de pobreza, sendo uma das regiões com maiores desafios económicos e sociais em Portugal, apesar de alguma diminuição em relação a anos anteriores, o que demonstra a magnitude do desafio para o desenvolvimento regional.

Este Domingo celebra-se o Dia Mundial dos Pobres, pela nona vez e o  Papa Leão XIV na sua mensagem para este dia, intitulada “Tu és a esperança” recorda que a pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas” e afirma com firmeza que “os pobres não são um passatempo para a Igreja”, mas irmãos que revelam a verdade do Evangelho.

O Papa desafia as comunidades a desenvolver “novas iniciativas de apoio” e a criar “sinais de esperança”, exatamente como pretende a Porta de Assis. Hospitais, escolas, centros de escuta, casas-família e refeições solidárias são, segundo Leão XIV, respostas concretas que rompem com a indiferença.

No contexto do Ano Santo 2025, dedicado à esperança, o Dia Mundial dos Pobres recorda que a pastoral da Igreja tem os pobres no seu centro, não como objeto de ajuda, mas como “sujeitos criativos” que inspiram novas formas de viver o Evangelho.

É esse o espírito que anima a Porta de Assis. Mais do que entregar bens materiais, o projeto quer restabelecer dignidade, vencer a solidão e oferecer presença humana, numa comunidade que continua a acreditar que cada gesto pode ser um sinal de esperança.

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