“A Caridade tem de ultrapassar as paredes da Igreja”

Lúcia Garcia é “irmã” Vicentina desde os 14 anos. Ajudar os mais necessitados é o seu lema.

Portal da Diocese (PD)- A sociedade de São Vicente de Paulo assinala este ano 200 anos do nascimento do seu fundador. A mensagem de Frederico Ozanam mantém-se atual?

 

Lúcia Garcia(LG)- Sim, mantém a sua atualidade, na medida em que continua hoje a apelar ao sentido comunitário na organização da caridade. Só uma ação conjunta fará com que a caridade ultrapasse as paredes da igreja e se torne real junto dos que são  verdadeiramente necessitados.

 

PD- No essencial, o que é que ela preconiza?

LG- Ozanam preocupava-se e questionava-se com o facto de muitos cristãos não viverem uma fé ativa, isto é, comprometida com a verdadeira caridade cristã em comunidade. Nesse sentido, a mensagem de Ozanam impele-nos à dedicação no serviço aos que mais sofrem e cuja voz pouco ou nada se faz ouvir, através de uma ação, por um lado, humanizadora a assistencial, e por outro, de incansável luta perante as injustiças de que muitos são vítimas. Esta é a atitude do cristão comprometido no ideal vicentino: o socorro aos mais desprotegidos, vendo neles a presença de Cristo.

PD- É vicentina desde os 14 anos. Como e porque é que aderiu a esta “causa”?

LG-Entrei na Conferência a convite de uma vizinha que me levava às reuniões e assim descobri esse carisma e essa vocação para estar ao serviço dos irmãos mais necessitados.

PD- O que é ser Vicentino?

É ser um cristão que vive a Palavra de Deus no serviço aos outros enquanto irmãos em Cristo. É ser um cristão comprometido com uma vocação que nos chama ao serviço pessoal dos pobres.

PD- Há ideia pré formada (ou deformada!) de que estes movimentos são ocupados só por gente mais velha. Como é que os jovens aderem à ação vicentina nos Açores?

LG-Só posso falar pela nossa Conferência Vicentina: de facto já houve uma época em que era constituída por pessoas mais idosas. Mas, de há uns anos para cá, aproveitando o facto de muitos casais jovens passarem pela vivência de um Cursilho de Cristandade, foi possível a renovação da nossa Conferência através da sua adesão ao ideal vicentino. Felizmente, todos os que fomos convidando aceitaram este desafio e hoje permanecem bastante ativos e comprometidos. É com especial regozijo que notamos que estes casais vão passando aos filhos os mesmos ideais e alguns destes também integram-se nas atividades da Conferência.

 PD- Nos dias difíceis que vivemos a ação sócio-caritativa da igreja torna-se ainda uma necessidade maior. Como é que o movimento vicentino se insere nesta ação?

LG- No nosso caso , Conferência Vicentina da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, Ribeira Grande, acompanhamos as famílias carenciadas, sempre em ligação com os serviços sociais da zona. A nossa ação é diversa mas tem ocorrido sobretudo junto de famílias numerosas e com muitas carências, idosos e mães solteiras. Temos vindo ao longo de anos a suportar os custos com leite, pão para uma família e, há cerca de seis meses, tivemos conhecimento de um outro caso com três crianças muito pequeninas, com o mesmo tipo de carências e a pagar uma casa ao banco. Esta família também recebe o leite, o pão e cereais. Os tempos de acção mais fortes são o Natal, a Páscoa e o Espírito Santo que celebramos na Festa da Caridade.

Os cabazes de Natal, os Folares e doces e as pensões de carne são distribuídos por muitas famílias.

PD- Como é que os vicentinos açorianos vão assinalar a efeméride? 

LG- A nível Açores, não tenho conhecimento de qualquer atividade. Só posso acrescentar que na nossa Paróquia assinalamos o dia Vicentino com uma Eucaristia, na qual o nosso pároco dá a conhecer muito do nosso trabalho e da mensagem do próprio Ozanam.

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