A humanidade vive momentos desafiantes mas o homem tal como é não será substituído, defende o Pe. Anselmo Borges

O Teólogo participou no simpósio O Corpo, organizado em parceria pela Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde e a Capelania do Hospital do Divino Espirito Santo

A nova realidade cientifica está a provocar um verdadeiro salto da humanidade mas dificilmente o homem tal como o conhecemos, dotado de uma consciência reflexiva, será ultrapassado.

Esta foi a ideia principal deixada pelo Pe. Anselmo Borges, teólogo e professor universitário na sua intervenção intitulada “O corpo que pensa: o que nos espera”, proferida no âmbito do simpósio O Corpo, promovido esta sexta feira no Hospital Divino Espírito Santo em Ponta Delgada, numa iniciativa da Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde.

O teólogo organizou a sua comunicação em quatro momentos- O que é o homem, Quem é o homem, O que é que nos espera e Quem é que nos espera- e concluiu que apesar do desenvolvimento e progresso cientifico, introduzidos pelas nano e bio tecnologias, engenharia genética e outras,  e que está a provocar uma verdadeira revolução tecnológica que representará um salto qualiatitivo da humanidade, a verdade é que o homem tal como o concebemos- um ser dotado de consciência reflexiva e de liberdade- dificilmente será ultrapassado.

“Depois da inteligência artificial virá a consciência artificial e aqui estará o nervo da questão. As máquinas irão ajudar; a inteligência artificial fará mudar imensas coisas; o problema é o da consciência: será possível criar máquinas com consciência delas mesmas? É um enigma, mas eu penso que não”.

“A consciência de si é um milagre, é uma espécie de luz que se auto ilumina como ilumina tudo o resto” afirma o teólogo Anselmo Borges sublinhando a dimensão reflexiva da consciência humana que dificilmente será imitável por uma máquina, para além “do problema da liberdade”.

“A consciência humana tem uma qualidade fundamental: atribuir significado às coisas e as máquinas programadas não podem ser livres”, precisa o Pe. Anselmo Borges.

“Estamos  perante uma realidade que vai fazer com que a humanidade dê um salto” reforçou ainda alertando para muitos perigos que se levantam e, sobretudo, para os perigos que possam decorrer de um certo alheamento da humanidade em relação a esta revolução tecnológica que sendo ainda do domínio da ficção cientifica “está ao virar da esquina da humanidade”.

E deu como exemplo a questão da manipulação do genoma humano.

“Os laboratórios começam a superar as leis da seleção natural. Nós já mudámos um ser humano através da engenharia genética e podemos pensar em ressuscitar criaturas” exemplificou o professor universitário destacando que as nano e biotecnologias, cruzadas com  a inteligência artificial, a engenharia genética “abrem-nos um mundo de possibilidades”.

E acrescenta: “se é possível criar ratos super inteligentes também podemos pensar em pessoas”.

O Simpósio O Corpo, que reuniu diversos especialistas de várias academias, foi organizado pela Comissão Diocesana  da pastoral da saúde que é presidida pelo Pe. Paulo Borges.

Na nota de abertura que dirigiu aos participantes, o sacerdote lembrou o objetivo deste encontro que tinha por como ponto de partida propor uma reflexão integrada sobre a dor, a doença, os sentimentos do doente e do cuidador, a morte e o luto, a partir do Corpo pois é nele que o Ser humano se encontra todo.

“Vivemos tempos em que cada vez é mais nítido que nos encontramos existencialmente numa espécie de libo onde crentes e não crentes cruzam-se embaraçados pela mesma insatisfação e, até quiçá, pelo mesmo sentimento tão necessário como possível de uma espiritualidade emergente: onde se contrapõe o homem criatura do passado com a humanidade criadora do futuro”, disse .

O Pe. Paulo Borges afirmou, ainda, que  “esperam-nos renovadas plataformas de saber e olhar a vida com olhos renovados: superando dicotomias, desenhando dialogismos fecundos, ultrapassando equívocos, esclarecendo conteúdos e conceitos com janelas abertas que permitem vislumbres do que nos transcende”.

Por outro lado, o sacerdote, lembrando que o corpo transporta uma pessoa que sente, que se relaciona, que tem sentimentos, necessidades e que, quando tratamos o corpo, em caso de uma doença, não podemos esquecer as diferentes dimensões, destacou que a questão do sofrimento é cada vez mais premente “pois ele acompanha-nos como a sombra do nosso corpo”.

“Estica as cordas da alma, torna-nos muito mais sensíveis até os leves toques fazem vibrar melodias até então inauditas…Quando se trata a doença pode-se ganhar ou perder, mas quando se cuida da pessoa ganha-se sempre”, disse ainda.

O simpósio, que se estendeu ao longo de todo o dia de  sexta feira, começou com uma primeira conferência sobre o corpo que pensa “O que nos espera” por Anselmo Borges, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Copimbra; seguiu-se uma segunda conferência sobre o corpo que vive “Motivos para a Esperança” por António Martins, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa. Da parte da tarde realizaram-se mais três conferências a saber: uma sobre o corpo que morre “A Senescência da Pessoa” por António Gonçalves, médico de cuidados paliativos do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada; outra sobre o corpo que sente “Elaborar o impossível: alquimia da alma” por Ana Catarina Pimentel, psicóloga da Unidade de Oncologia do Hospital do Divino Espírito Santo e, finalmente, a última conferência sobre o corpo que ama “Expressão do meu ser na relação com o outro” por Renato Martins, psicólogo clínico da Liga Portuguesa contra o Cancro.

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