A lógica cristã deve ser a do amor e não a do materialismo

Bispo das Forças Armadas preside à ordenação do primeiro sacerdote dehoniano oriundo de uma comunidade açoriana

A linguagem do Cristianismo assenta na “economia do amor e não no materialismo” e as vocações, enquanto serviço, “são prova disso”, disse este sábado o Bispo das Forças Armadas durante a ordenação presbiteral do primeiro padre dehoniano saído da comunidade açoriana da Congregação dos Sacerdotes do sagrado Coração de Jesus, situada na ilha de São Miguel.

Gil Alfredo Silva foi ordenado presbítero este sábado na Paróquia de Nossa Senhora do Livramento em Ponta Delgada, uma comunidade que é assistida por padres dehonianos há mais de 20 anos e que possui um Centro Missionário, atualmente composto por cinco sacerdotes, além do Bispo diocesano que também pertence à Congregação.

A partir do Evangelho e dirigindo uma palavra especial ao novo presbítero sobre o ministério sacerdotal, D. Manuel Linda, sublinhou que tal como Jesus multiplicou o contributo de um pequeno rapaz, também os cristãos devem dar tudo a jesus porque ele do pouco faz muito, “verdadeiras obras de prodígio”.

“O milagre da multiplicação dos pães, num contexto vocacional, mostra como os problemas da vida não se resolvem com dinheiro”, disse o Prelado que presidiu à ordenação, substituindo o Bispo Diocesano, D. António de Sousa Braga, que por motivos de saúde não esteve presente.

“À lógica do mundo, o Senhor contrapõe com outra lógica, usando o pouco para distribuir por muitos e este é o segredo da vida cristã. Nela só a economia do amor funciona e não o materialismo”, disse o Bispo das Forças Armadas.

“É assim que devemos entender uma vocação sacerdotal: alguém que é chamado a servir, a dar. E, este grande principio que deve ser observado por nós sacerdotes, deve contagiar também todos os cristãos porque só com esta chave podemos abrir os corações”, frisou porque “a alternativa é a chave do martírio”.

“A fecundidade do ministério sacerdotal reside nesta noção de amor, de entrega e de doação”, disse ainda o prelado que dirigiu uma palavra especial ao novo presbítero, sublinhando que a sua vida e as suas vivências corporizam quatro fundamentos da “fecundidade do ministério sacerdotal”: a universalidade, a dimensão social, a espiritualidade e a vivência comunitária.

D. Manuel Linda destacou o facto do novo padre ser “um produto” de duas realidades distintas: a igreja americana, onde nasceu,  no Canadá, há 32 anos e a europeia onde cresceu e despertou para esta missão; de ter crescido nos Açores sob uma forte influência da religiosidade popular, sobretudo no Culto ao Divino Espírito Santo; de viver uma espiritualidade centrada no mistério de Cristo crucificado e de ter uma vivência comunitária.

Antes da ordenação e nas breves palavras que dirigiu à assembleia, o Bispo das Forças Armadas confessou “ter um enorme contentamento” em presidir a esta cerimónia e pediu aos presentes que vissem nele o rosto de D. António de Sousa Braga a quem o une “uma profunda e sincera amizade”.

Aliás, o Bispo de Angra, que pertence à congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, a que está ligado desde os 13 anos de idade, foi uma das figuras mais presentes nesta cerimónia apesar da ausência física.

Quer na Homília de D. Manuel Linda quer nas intervenções que se seguiram no final da ordenação, do Superior Provincial e do pároco e anfitrião desta ordenação, Pe Pedro Coutinho, D. António de Sousa Braga foi lembrado e invocado por diferentes vezes.

“Falei com ele esta manhã e pediu-me para transmitir um enorme abraço a toda a comunidade lembrando que não estava presente por motivos de saúde, mas estava unido em oração e em espírito” disse o Pe José Agostinho Figueiredo de Sousa.

O novo superior provincial dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, que acaba de tomar posse, disse que este “é um momento de grande satisfação que queremos partilhar com toda a igreja, em especial com esta comunidade do Livramento e da Conceição na Ribeira Grande que souberam acarinhar esta vocação do Pe Gil”.

“É uma graça ainda maior porque desde 1978 que não tínhamos uma ordenação dos Açores e viver esta ordenação na paróquia de origem é uma bênção e um privilégio”, disse ainda.

Além disso, “ é o primeiro fruto da nossa missão aqui nos Açores o que constitui, por outro lado, um alento para prosseguirmos o nosso trabalho aqui na diocese, espalhando o nosso carisma”, referiu o Superior dehoniano, que vive a sua terceira ordenação desde que foi nomeado para dirigir a congregação em Portugal.

Também o novo sacerdote usou da palavra no final da celebração para agradecer os inúmeros presentes que lhe foram entregues quer pelo grupo de jovens que durante a sua estada nos Açores acompanhou; quer pela Congregação quer, ainda, pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, que reúne nos Açores todas as congregações de vida religiosa consagrada que servem na diocese de Angra.

Visivelmente emocionado, mas sempre com uma enorme serenidade, o novo padre foi contido nas palavras que reduziu a um “muito obrigada” em sinal de gratidão por todos os gestos de carinho manifestados estes dias.

Também os pais, que o acompanharam, estavam “emocionados” mas “confiantes” pela escolha do filho.

“Nunca passámos por esta experiência, ainda estamos um pouco adormecidos mas acho que está tudo a correr bem e é um motivo de grande alegria para toda a família” disse a mãe, Maria da Conceição Silva. Já o Pai, Alfredo Silva, disse que se “trata de um momento de grande satisfação e felicidade” certo de que “ele fez a sua escolha e nós apoiamo-la”.

Já o Pe Roberto Cabral, pároco da Conceição, paróquia onde cresceu, na cidade da Ribeira Grande e onde este domingo celebrará a sua missa nova, às 16h00, disse ao Sítio Igreja Açores que este momento “está a ser vivido com muita expetativa e simplicidade bem ao jeito do Gil”.

A paróquia da Conceição desde 1946 que não recebe uma missa nova nem tão pouco via um filho da terra ser ordenado sacerdote, está a “viver um momento histórico e por isso estão todos muito empenhados”.

Quanto a conselhos para o novo presbítero, o Pe Roberto Cabral lembra que ser sacerdote é “estar disponível para servir a comunidade sempre que ela precise sem cair na tentação de impor o que quer que seja”.

A festa deste sábado coincidiu com o dia da comunidade, e por isso, para além da ordenação realizaram-se vários eventos de natureza cultural e cívica, desde espetáculos, de teatro, musica, folclore e outras diversões. Logo a seguir à eucaristia houve um jantar partilhado.

De referir a presença de vários confrades do Pe Gil Silva, três deles colegas de turma e já ordenados sacerdotes. A cerimónia foi ainda concelebrada por alguns sacerdotes diocesanos, entre eles o Vigário Episcopal para a ilha de São Miguel, Pe Cipriano Pacheco e o Ouvidor Eclesiástico de Ponta Delgada, Cónego José Medeiros Constância, com uma presença significativa de vários institutos religiosos de São Miguel, entre eles, as Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, as Irmãs Doroteias, as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado  Coração de Jesus e as Irmãs de São José de Cluny.

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