Adelino Raposo descobriu em Roma o céu que procurava: “quando me encontrei com o Papa parecia que estava no Céu e chorei de emoção”

Adelino Raposo, 55 anos, natural de Santa Cruz, Lagoa, participou há duas semanas no Jubileu dos Pobres, em Roma, a primeira viagem da sua vida adulta para fora dos Açores e um momento que descreve como “estar no céu”. A experiência marcou mais um passo de uma história de superação construída entre a ajuda social, o trabalho e a fé

Foto: Igreja Açores/CR

 

“Eu chorei de emoção. Foi a primeira vez que vi o Para em carne e osso e estive no Jardim das Oliveiras onde esteve Nosso Senhor”.  A frase , que não foi dita de uma só vez, fica presa na garganta de Adelino Raposo. Aos 55 anos, ainda se surpreende com a força dos sentimentos que Roma lhe despertou. A ida ao Jubileu dos Pobres, possível graças às assistentes sociais e a algumas ajudas,  abriu-lhe uma porta que nunca imaginou atravessar: ver o Papa “de carne e osso”, caminhar pelas ruas da cidade eterna, rezar nos lugares onde tantos peregrinos encontram consolo.

“Parecia que estava no céu”, conta. E diz que não fala muito sobre isso para não voltar a chorar. Mas essa emoção diz muito sobre o caminho que o trouxe até aqui.

Natural de Santa Cruz, Lagoa, foi nas Capelas que encontrou a primeira estrutura que o ajudou a crescer: “Foi lá que aprendi a ler, que fui à escola, que aprendi a rezar”, na Casa do gaiato. A ligação à fé acompanha-o até hoje. Antes de dormir, “fala” sempre com Deus.

“Todos os dias peço pelos meus filhos, por mim e pela paz no mundo.”

 “Os pais e as mães que tive foram de lá… Não tenho vergonha. Foi lá que me fizeram homem” diz até com uma veemência que antecipa orgulho. “Ate morre ninguém me calará e eu direi sempre que foi lá que aprendi a ser homem”.

Já na vida adulta, teve uma união de facto que terminou. “Cada um foi para seu lado”, diz, sem amargura. Tem três filhos, todos presentes na sua vida.

Em Roma, eles seguiam cada fotografia, cada mensagem, cada momento. “Estavam orgulhosos… Eu ia partilhando tudo.”

O fim da relação deixou-o fragilizado: “Estranhava estar sozinho.”

Houve momentos difíceis, “por aqui e por ali”, como resume. Mas pediu ajuda, procurou ocupação e reencontrou um rumo.

Há sete anos que trabalha nos serviços florestais de Ponta Delgada. É trabalhador dos Serviços Florestais em Ponta Delgada e trabalha sobretudo na limpeza de jardins matas e estradas.

“Gosto do que estou fazendo: cuidar da nossa mãe natureza.”

Lembra que o trabalho veio depois de uma entrevista, arranjada pela assistente social.

“Eu precisava de ter o dia preenchido , das oito às cinco,  para não cair noutros caminhos que começavam a dar cabo de mim”.

Vive atualmente na residência da Cáritas de São Miguel, em Ponta Delgada, que chama de “hotel de cinco estrelas”. Foi lá que encontrou estabilidade. “Para mim é tudo.”

A viagem ao Jubileu dos Pobres foi uma revelação. Até da pobreza dos outros.

“Vi muita coisa que me faz mal. Não gosto de ver a pobreza… Vi tanta gente a pedir.”

Foto: Igreja Açores/CR

Entre celebrações, fotografias e descobertas gastronómicas –  “Era só massa, massa, mas no último dia a pizza foi uma delícia”- trouxe de Itália uma serenidade nova.

“Fez-me tanto bem ir a Itália… Eu estou em paz. Agora estou no meu paraíso.”

Todas as semanas vai à igreja –  à Matriz  de Ponta Delgada , mas sobretudo ao Santuário do Senhor Santo Cristo.

“Vou agradecer por mais uma semana de trabalho e pedir juízo, que nem sempre é muito”, diz com um sorriso tímido.

 “Só peço que Nosso Senhor me arranje uma companheira. É só o que me falta. Tenho esperança.”

A entrevista a Adelino Raposo pode ser ouvida no programa de Rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

Scroll to Top