Ajuda aos pobres implica «combate» por mais justiça social, diz presidente da Cáritas Portuguesa

Organização católica vai celebrar semana nacional entre 1 e 8 de março

O presidente da Cáritas Portuguesa defendeu que a ação da Igreja Católica junto dos mais pobres implica um “combate” por uma sociedade mais justa, que ultrapasse a ajuda material.

“Não podemos continuar a manter uma ação social que se limita a distribuir bens pelos mais carenciados e que dispensa o combate por mais justiça social”, escreve Eugénio Fonseca, em texto publicado na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

O responsável nacional pelo organismo católico de solidariedade e ação humanitária recorda que as instituições da Igreja têm atuado para “minorar a pobreza que, nos últimos anos, atingiu, dolorosamente, tantas famílias portuguesas”.

“Mas temos de aceitar que a maior parte das preocupações pastorais continuam muito direcionadas para o interior de cada comunidade cristã, com desproporcionadas preocupações no dinamismo missionário, incluindo aquele que é a essência da missão da Igreja: a prática da caridade”, adverte.

A organização católica vai celebrar a sua semana nacional entre 1 e 8 de março, promovendo, além do peditório público nacional, um programa específico nas várias dioceses com conferências, exposições e “dádivas benévolas de sangue”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o presidente da Cáritas apela aos portugueses que sejam generosos nas “dádivas financeiras”, embora reconheça que existem pessoas que já não são capazes de “dar mais” porque têm sido “muito solicitadas”.

Eugénio Fonseca sugere ainda que, mesmo aqueles que não podem dar um donativo, “cumprimentem e deem um abraço” aos voluntários que fazem o peditório.

“Isso também dá ânimo a quem anda na rua porque não é fácil mas sobretudo que não digam palavras de desencorajamento”, explica o responsável.

O presidente da Cáritas Portuguesa mostra-se particularmente preocupado com quem perdeu a casa depois de ficar desempregado, mas “continua com a despesa”.

“O banco ficou a ganhar com todo o investimento que a pessoa fez para trás”, acrescentou, defendendo que nestes casos poderia haver um tempo de carência, “redimensionando” a dívida quando as pessoas encontrassem trabalho.

Eugénio Fonseca realça que estar desempregado “não é só perder dinheiro”, mas perder também estatuto social e ficar desocupado.

“Uma pessoa que goste de cozinhar perde essa possibilidade, porque alguém lhes entrega a comida já feita”, exemplifica.

Nesse contexto, propõe a distribuição de “vales de compras universais para que não houvesse qualquer tipo de estigmatização”.

O presidente da Cáritas Portuguesa revela que a União Europeia não permite esta modalidade, que a instituição já experimentou e “resultou muito bem” nos casos de pobreza envergonhada.

“Existem pessoas que ainda não fazem todas as refeições diárias normais e pode dizer-se que é passar fome, há gente que não come em termos nutritivos o que é necessário até para salvaguardar problemas de saúde que já possuem”, advertiu.

CR/Ecclesia

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