Alerta para o vírus da desesperança

Por Renato Moura

“Com o resultado desta análise de sangue, já ele deveria estar morto!”, ouvi eu de um médico, dirigido a minha mãe, sobre mim. Criança, mantive-me quedo, mudo, aterrado; mas pensei: “Não morri, mas vou morrer em breve!”. Pretendeu afirmar tratar-se de análise mal feita; mas só anos depois percebi! Situações vividas e ou relatadas criaram-me a convicção de alguns médicos não terem a cadeira de psicologia!

Há dias ouvi uma senhora, identificada como médica, apresentar uma lista enormíssima de sintomas eventualmente sinalizadores da Covid19, todos além dos três já vulgarizados. Evidente: antes da Covid19 podemos ter todas as doenças, até nada sentir e ter imensa saúde. Mas, depois de ouvir outro tanto, não é preciso ser hipocondríaco para temer estar já contaminado!

Há profissionais a esclarecer bem e a recomendar eficientemente. E há muita gente a falar demais; de lá de cima, até cá abaixo. Quem fala para milhões deveria medir e pesar as palavras, pois nem todo o auditório tem estabilidade psicológica. A exasperação fará perder o equilíbrio emocional. O desespero não permitirá enfrentar os perigos com tino.

O receio da infecção pelo novo coronavírus, elevado a pânico, gerou descrença no sistema de saúde e afastou doentes com patologias crónicas, com consequências talvez fatais; o desalento tem de ser revertido pelas autoridades, pelos serviços sociais, pelas instituições de solidariedade social, pelas famílias, por todos nós.

Está-se a falar antes do tempo: sobre prazos e cancelamentos. A eliminação de eventos futuros assumiu foros de flagelo. Será a atitude certa para quantos implicariam investimentos e despesas antecipadas; e uma concretização incerta. Quando as decisões de cancelar são de entidades públicas, para situações muito distantes no tempo, infundem certeza do mal durar, daqui a muitos meses; e levam ao desânimo.

Quando puramente se cancela à distância e nem tão pouco se admite adiamento, para quando melhorassem as circunstâncias e o rigor da lei o permitisse, fica uma desconsolação. Nalguns casos, como por exemplo nas festas municipais, não mereceria a pena considerar uma redução do aparato e dos custos (sem pandemia já seria aconselhável), esperando mais algum tempo e evitando a desilusão imediata?

As previsões negras sobre o futuro da economia e do emprego são conjecturas, mas machucam. Pregadas na pandemia, geram emoções negativas e desmobilizam.

Impedir que o vírus da desesperança mate, é obrigação dos governantes, dever dos homens em geral e dos cristãos em especial.

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