As dimensões humana e divina de Jesus revelam-se  em sete `lugares´, diz conferencista

Pe. Alexandre Palma, de Lisboa, proferiu segunda conferência do ciclo comemorativo dos 60 anos de criação do Santuário diocesano do Senhor Santo Cristo dos Milagres

Realizou-se esta noite na Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, em Vila Franca do Campo, a segunda de quatro conferências que assinalam o 60º aniversário da criação do Santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo dos Milagres. O Pe. Alexandre Palma, do Patriarcado de Lisboa e docente na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, falou sobre “Jesus, Ecce Homo”, e propôs uma reflexão sobre os “sete lugares” onde há uma diálogo permanente entre a humanidade que Jesus respira e a divindade que se mostra e revela.

O teólogo, que caracterizou sumariamente as duas escola de Teologia cristológica na Antiguidade Clássica- a de Alexandria e a de Antioquia- lembrou que na primeira se valorizava a “divindade do verbo encarnado” enquanto que na segunda se valorizava a “autêntica humanidade de Jesus” para chegar a um conceito mais alargado da relação entre Jesus e o Homem, propondo sete lugares onde coexistem estas duas dimensões.

“O que vos proponho é percorrermos sete lugares onde podemos olhar a humanidade de Jesus e, nessa humanidade, se revela a sua divindade”, disse o docente de Teologia

O Pe. Alexandre Palma começou por referir-se à noção de Jesus Profeta, “não como um anunciador mas sim como um profeta”, cuja humanidade em nada belisca “o alcance divino da sua profecia”.

Depois referiu-se à dimensão de sábio, isto é, viver retamente diante de Deus, sendo que de si tinham a perceção das virtudes humanas da sapiência, da prudência ou da justiça. “Ele foi reconhecido pela sua sabedoria: de tão humano que é só pode ser Deus”, acrescentou o teólogo.

O Pe. Alexandra Palma falou também da dimensão de Jesus, que “faz curas e milagres” que numa perspetiva da época antecipa a ideia da vitória de Cristo sobre o mal. É preciso notar que, à época de Jesus a doença era considerada como um sinal de pecado. Por isso, diz, “vencer a morte é vencer o demónio e consequentemente o pecado”.

O sacerdote do Patriarcado de Lisboa lembrou, por outro lado, o Jesus Servo.

“A cruz é o supremo serviço de Cristo ao Pai e à humanidade” disse, sublinhando que “simbolicamente esta noção de serviço é reforçada na última ceia” onde Jesus lava os pés aos discípulos para lhes mostrar, na primeira pessoa, o caminho que queria que eles seguissem, de serviço. Depois há ainda a dimensão de Jesus Mestre e pedagogo.

“O ensino e a pregação constituíram a parte mais substancial da vida de Jesus

“Esta ousadia de Jesus de inventar uma nova lei corrigindo a antiga ia além do que era aceitável; o ato de ensinar torna-se expressão de um excesso que só é alcançável por Deus” diz ainda o Pe Alexandre Palma. Finalmente as noções de martirio e de relação filial, destacando sempre que jesus para explicitar a sua relação com Deus usa sempre uma referência Humana.

Depois da conferência teve lugar um pequeno recital com o Coro Bach..

No dia 19 de março, o Pe. José da Silva Lima, de Coimbra, falará sobre o “Santuário , arte de cuidar”. A última conferência será protagonizada por D. Carlos Azevedo, do Conselho Pontíficio para a Cultura e debruçar-se-á sobre o tema “Viver em Cristo: pleno humanismo de santidade”. Será no dia 12 de julho, último dia do Simpósio que abordará a temática da religiosidade popular, centrada nos cultos ao Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

O programa festivo do Santuário conta ainda com a festa dos Espinhos, no dia 23 de março e, no dia 22 de abril, será celebrada uma Missa de ação de graças pelo 60º aniversário da criação deste Santuário diocesano.

No dia 24 de maio realiza-se o primeiro Encontro de Reitores dos Santuários Diocesanos dos Açores, que precede o fim de semana da festividade maior deste lugar de culto em Ponta Delgada

O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres foi impulsionado a partir dos séculos XVII e XVIII, dentro dos princípios adotados pela Igreja Católica no Concílio de Trento, no sentido da defesa da importância do culto e da veneração de imagens, um dos princípios de divergência em relação à Reforma protestante.

Na atualidade, aquando das festas em honra do Senhor Santo Cristo, uma multidão acorre ao Campo de São Francisco e ao Convento da Esperança para viver e celebrar uma das maiores manifestações de devoção, fé e respeito. Além de se prestar homenagem à imagem do Senhor, são pagas as promessas feitas.

Ao longo do restante do ano, a imagem encontra-se guardada numa capela do convento, localizada em frente e em sentido oposto ao altar-mor da igreja, separada da nave por um gradeamento.

As festas do Senhor Santo Cristo realizam-se no quinto domingo a seguir à Páscoa e são as maiores festas religiosas dos Açores, atraindo milhares de peregrinos que durante o fim de semana percorrem as ruas de Ponta Delgada.

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