Bispo de Angra apela ao “diálogo colaborador” entre a Igreja e a sociedade civil para defesa e salvaguarda do património

 

Foto: Igreja Açores/CR

“Os lugares onde o património se encontra podem ser novas salas de catequese”- D. Armando Esteves Domingues

O bispo de Angra presidiu esta manhã ao arranque das comemorações dos 500 anos do Convento de São Francisco, em Ponta Delgada e defendeu a necessidade de um diálogo permanente entre a Igreja e a sociedade civil de forma a evitar “bloqueios e impasses administrativos” na defesa e salvaguarda do património.

“O facto do património da Igreja ser tantas vezes o património da humanidade, das culturas, dos povos, das regiões, de irmandades e associações, pede que se procurem formas de cooperação  para defesa e valorização do mesmo. O diálogo entre a Igreja e a sociedade civil quer-se sempre ativo e não se compadece de obstáculos ou questões administrativas que bloqueiem decisões” disse D. Armando Esteves Domingues na homilia da Missa a que presidiu esta manhã na Igreja da São José, em Ponta Delgada, no arranque das comemorações dos 500 anos do Convento de São Francisco e que foi concelebrada pelo provincial da Ordem Franciscana dos Frades Menores, padre Fernando Mota e outros sacerdotes.

“Frequentemente o melhor património da Igreja é também, em boa parte formado pelo património de cada cultura, de cada povo, de cada região. Não admira, por isso, que seja um encontro profundo entre a inspiração religiosa e a inspiração estética como facilmente se verifica no domínio das artes plásticas, da música, da arquitectura ou até nas obras literárias, que manifestam a cumplicidade que existe entre o esplendor e a beleza da arte e as expressões da fé”, acrescentou o prelado diocesano.

“Precisamos de um diálogo colaborador entre Igreja e a sociedade civil” enfatizou sublinhando a experiência acumulada nos Açores onde, por causa das intempéries naturais, tem “exigido esse esforço de cooperação”.

Por outro lado, ressalvou D. Armando Esteves Domingues, além da valorização do património, é preciso que “ele fale” para que se transforme numa “nova forma de evangelização” e os lugares onde esse património se encontre “possam ser novas salas de catequese”.

“Não basta saber a data ou o autor de uma obra de arte; sem proselitismo a verdade do património encerra uma verdade de fé que devemos ser capazes de mostrar e que o turista poderá sempre levar consigo” pois o património “não é apenas uma peça de museu, tem de nos falar”.

“É bom vermo-nos aqui e alegra-me saber que estas celebrações são abraçadas pelo Governo, autarquias e demais entidades”, ressalvou ainda pedindo a que nunca se desligue o património de Jesus.

“Fazer memória do património é fazer com que ele perdure e nós temos o maior património de todos que é Jesus Cristo”.

A partir da liturgia proclamada neste V Domingo da Quaresma em que ecoa, com insistência, a preocupação de Deus em nos mostrar o caminho que conduz à Vida nova, ao enviar-nos o seu filho que desenha e nos oferece o mapa desse caminho, D. Armando Esteves Domingues confrontou os fieis com o significado da cruz. E lembrou a importância de privilegiar e escolher sempre as realidades mais pobres e desprezadas.

“Quantas vocações religiosas e laicais nasceram de um despojamento e gastaram a sua vida por amor ao irmão doente ou excluído?” interpelou desafiando à sua imitação.

“Quantos desafios à vida estão escritos na cruz de Cristo. Valorizemo-la porque nela está escrita a marca da vida cristã”, disse ainda lembrando como a cruz pode ser um itinerário catequético para “tocar e mudar” a vida das pessoas , porque “conduz-nos sempre à esperança”.

A missa dominical de São José assinalou já a solenidade do seu padroeiro, que se celebra a 19 de março, dia do Pai associando assim, simbolicamente, duas memórias que “intensificam o brilho da fraternidade”.

“Ao Cântico das Criaturas de São Francisco junto o louvor destas iniciativas culturais que vamos desenvolver enquanto comunidade” disse o pároco, padre Duarte Melo, sublinhando o “longo alcance espiritual e cultural” destas celebrações.

“A todos, de coração grato, digo bem-vindos. Estamos no coração da Igreja”.

As celebrações, iniciadas este domingo prolongam-se até ao final de 2025. O programa comemorativo inclui um ciclo de conferências, coordenadas por uma Comissão Científica liderada pela professora Rute Gregório, da Universidade dos Açores e responsável pela Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja.

Durante o período das comemorações, a igreja acolhe três concertos, com a participação do Coral de São José e outros músicos, “como forma de valorizara sonoridade e a beleza do mais importante órgão histórico dos Açores”, construído em 1797, referem os organizadores.

Em abril de 2025, o circuito visitável da Igreja de São José é inaugurado, data em que abre o Núcleo de Liturgia e Música, um espaço que vai reunir diversos objetos litúrgicos e musicais integrados no espólio artístico da Igreja de São José.

No que toca a publicações, o programa inclui a atualização e reedição da obra “Igreja Paroquial de São José, Nossa Senhora da Conceição: Património Móvel e Integrado”, que tem como autores o padre Duarte Melo, Ana Maria Fernandes e Pedro Pascoal F. de Melo, tendo sido editada, em janeiro de 2023, pela paróquia de São José.

As conferências realizadas no âmbito do programa comemorativo vão ser depois editadas num livro de atas das conferências.

As “Conversas na Sacristia”, que se realizam periodicamente na sacristia da Igreja de São José, desde março de 2023 e que são um espaço de reflexão plural, aberto a crentes e não crentes, vão ser editadas em livro.

No âmbito do aniversário do Convento, um conjunto de 10 a 15 artistas plásticos vai ser convidado a criar uma peça inspirada no espírito dos 500 anos do Convento de São Francisco, cujo resultado vai ser reunido numa exposição de arte moderna a realizar em Ponta Delgada, em setembro de 2025.

As celebrações inserem-se na celebração dos 500 anos da Diocese de Angra, em 2034, têm já no próximo dia 21 de março a sua primeira iniciativa: pelas 20h30, a conferência inaugural terá como tema as “Ordens de São Francisco: regra, religiosidade e património”, que conta com Duarte Nuno Chaves e Margarida Lalanda, da Universidade dos Açores, investigadores do CHAM- Universidade dos Açores, como oradores.

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