Papa elogia “lugar de encontro e de intercâmbio cultural”, alertando para riscos do turismo e das alterações climáticas

Foto: Vatican News

Missa na Praça de São Marcos encerra visita à cidade italiana, com passagem pela Bienal de Arte

“E Veneza, que sempre foi um lugar de encontro e de intercâmbio cultural, é chamada a ser um sinal de beleza acessível a todos, a começar pelos últimos, um sinal de fraternidade e de cuidado pela nossa casa comum. Veneza, terra que faz irmãos”, disse, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Marcos.

A celebração encerrou uma visita de seis horas à cidade italiana, dedicada ao pavilhão da Santa Sé na Bienal de Arte, instalada na prisão feminina de Giudecca.

Após ter atravessado de barco os canais venezianos, Francisco falou da “beleza encantadora” da cidade e dos “muitos problemas que a ameaçam”.

“As alterações climáticas, que têm impacto nas águas da lagoa e no território, a fragilidade dos edifícios, do património cultural, mas também das pessoas, a dificuldade de criar um ambiente à escala humana através de uma gestão adequada do turismo”, advertiu.

A homilia, sublinhada com uma salva de palmas, nesta passagem, considerou que estas realidades correm o risco de gerar “relações sociais desgastadas, individualismo e solidão”.

O Papa destacou o simbolismo de uma cidade “construída sobre a água e reconhecida por esta singularidade”.

“Veneza é uma só com as águas sobre as quais se encontra e, sem o cuidado e a proteção deste ambiente natural, poderia mesmo deixar de existir. O mesmo acontece com a nossa vida: também nós, imersos desde tempos imemoriais nas fontes do amor de Deus, fomos regenerados no Batismo, renascemos para uma vida nova pela água e pelo Espírito Santo e fomos colocados em Cristo como ramos na videira”.

Depois de atravessar o pontão que liga a Basílica da Saúde, onde se encontrou com jovens das dioceses do Veneto, à Praça de São Marcos, o Papa foi recebido por responsáveis regionais e autárquicos.

Perante milhares de pessoas, Francisco sustentou que os cristãos devem oferecer à sociedade “frutos de justiça e de paz, frutos de solidariedade e de cuidado mútuo, escolhas de cuidado com o ambiente, mas também com o património humano”.

“Precisamos que as nossas comunidades cristãs, os nossos bairros, as nossas cidades se tornem lugares hospitaleiros, acolhedores, inclusivos”, reforçou.

A homilia recorreu a imagens da “longa história que liga Veneza ao trabalho da vinha e à produção de vinho”, bem como às passagens da Bíblia que fazem referência a estas realidades.

“A metáfora da videira, se por um lado exprime o cuidado amoroso de Deus por nós, por outro adverte-nos, porque se rompermos este vínculo com o Senhor, não poderemos gerar frutos de vida boa e corremos o risco de nos tornarmos nós próprios ramos secos. É feio isto, tornar-se ramos secos, esses ramos que são deitados fora”, observou.

O Papa acrescentou que “permanecer no Senhor significa crescer na relação com Ele, dialogar com Ele, acolher a sua Palavra, segui-lo no caminho do Reino de Deus”.

No final da Missa, antes da recitação do ‘Regina Coeli’, D. Francesco Moraglia, patriarca de Veneza, agradeceu a presença de Francisco, destacando as mensagens do seu pontificado em favor dos migrantes, da paz e da defesa da natureza.

O Papa saudou os presentes e todos os responsáveis pela organização da visita, deixando um pedido final: “Por favor, não se esqueçam de rezar por mim, porque este trabalho não é fácil”.

Francisco, que visita de forma privada a Basílica de São Marcos, segue em barco-patrulha até ao heliporto do Colégio Naval ‘F. Morosini’, em Santa Helena, para regressar ao Vaticano.

 

Foto: Vatican Media

Francisco foi o quarto pontífice a visitar Veneza, que recebeu Paulo VI em 1972, João Paulo II em 1985 e Bento XVI em 2011, mas o primeiro a visitar a Exposição Internacional de Arte da Bienal, na sua 60ª edição.

O espaço do Vaticano, em 2024, é “dedicado ao tema dos direitos humanos e à figura dos últimos”, para promover “a construção de uma cultura do encontro, eixo central do magistério do Papa Francisco”.

A prisão feminina de Giudecca acolhe o projeto intitulado ‘Com os meus olhos’, confiado a Chiara Parisi e Bruno Racine, em colaboração com artistas como Maurizio Cattelan, Bintou Dembélé, Simone Fattal, Claire Fontaine, Sônia Gomes, Corita Kent, Marco Perego & Zoe Saldana, Claire Tabouret, além da participação especial de Hans Ulrich Obrist.

(Com Ecclesia e Vatican News)

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