Bispo de Angra diz que os Açores não precisam de uma segunda diocese

Na entrevista ao jornal Açoriano Oriental, D. António de Sousa Braga responde às criticas que lhe têm sido dirigidas e revela o que pensa sobre a recente polémica do Resplendor do Senhor Santo Cristo.

Os Açores não têm dimensão nem população para terem uma segunda diocese pelo menos nos atuais moldes da Igreja disse este domingo o Bispo de Angra, na primeira entrevista após o polémico empréstimo do Resplendor do Senhor Santo Cristo ao Museu Nacional de Arte Antiga para integrar a exposição “Splendor et Gloria”, e que é publicada na edição de hoje do jornal Açoriano Oriental.

 

A criação de uma segunda diocese “teria feito sentido antes da grande emigração dos anos 60. Hoje, com a população que temos, com a facilidade de comunicação e dos transportes, talvez não haja razões suficientes, para que a Santa Sé aceite uma tal proposta, nos atuais moldes da Igreja”.

 

No entanto, admite que as reformas que o Papa Francisco está a introduzir na Igreja, em jeito de “revolução silenciosa” possam caminhar no sentido da “redefinição dos limites das dioceses e na criação de dioceses mais pequenas” o que poderia fazer com que “este dossiê fosse reaberto”.

 

“Poderíamos é perguntar: o que seria da Diocese de Angra sem São Miguel que tem mais de metade da população dos Açores?”, questiona D. António de Sousa Braga.

 

Quanto à polémica em torno do empréstimo temporário (até finais de outubro) do Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres ao Museu Nacional de Arte Antiga, para integrar a exposição “Splendor et Gloria” juntamente com mais quatro peças de joalharia portuguesa do período barroco entre 1756 e 1780, nomeadamente a Custódia da Sé Patriarcal de Lisboa, D. António de Sousa Braga esclarece que embora não tenha dialogado “diretamente com o povo” ouviu todas as partes envolvidas, “como sempre”.

 

“Eu procuro dialogar bastante, nomeadamente, com os sacerdotes e no seio dos organismos diocesanos. No caso concreto do Resplendor do Senhor Santo Cristo não dialoguei diretamente com o povo, mas com a Reitoria do Santuário, com a Irmandade do Senhor Santo Cristo e com a comunidade religiosa do Convento da Esperança. Não considerei objetivamente aceitáveis as razões apresentadas. Segui as razões apresentadas pelos técnicos da Comissão Diocesana dos Bens Culturais e da Direção Regional da Cultura, que estiveram envolvidos no processo”, frisa o Bispo de Angra.

 

Na primeira entrevista dada a um órgão de comunicação social generalista da região, depois da acesa polémica em torno do Resplendor do Senhor Santo Cristo, o responsável pela igreja católica nos Açores refere a situação financeira da diocese , “o maior problema que tive de enfrentar e que condicionou bastante a atuação pastoral” mas que “está sob controle” graças a  “ um esquema de funcionamento, com uma grande rigor nas contas e controle nas despesas, para honrarmos os compromissos com os bancos”.

 

Quanto ao papel da Igreja sublinha que foi herdeiro das sementes lançadas pelo Congresso de Leigos, realizado há 20 anos nos Açores, a partir do qual nasceu o Plano de Acção Pastoral e destaca que os desafios de hoje são ainda mais ambiciosos.

 

“Já não vivemos num regime de Cristandade. Urge passar de uma pastoral de manutenção a uma pastoral missionária, que vá ao encontro das pessoas, na sua situação concreta de vida. O paradigma da presença e ação da Igreja tem de ser outro. Não chegam pequenos ajustes estruturais” reconhece o prelado Diocesano que a este propósito lembrou a decisão saída do último Conselho Presbiteral, realizado em maio na ilha Terceira.

 

O órgão máximo do clero diocesano decidiu que a grande prioridade seria fazer uma análise da situação atual da igreja nos Açores.

 

Na entrevista ao AO, o Bispo de Angra reconheceu, ainda, a importância do património religioso nos Açores e as parcerias que têm sido feitas no sentido de o preservar e divulgar e, também dos esforços que estão a ser desenvolvidos para dinamizar a vida dos Santuários açorianos, em especial o do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada.

 

Questionado sobre o legado do seu episcopado, D. António de Sousa Braga diz que gostava de ser lembrado “como um romeiro de cajado na mão a peregrinar pelas ilhas para estar no meio do povo”.

 

Lembra que ser Bispo de Angra é “uma grande graça que exige todos os dias uma entrega total”.

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