Anúncio foi feito esta tarde pelo reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, no final da missa dominical, no dia dos fiéis defuntos

O Bispo de Angra nomeou esta segunda-feira, dia em que a diocese assinala 491 anos, a Comissão Histórica que irá analisar a vida e as virtudes da Madre Teresa da Anunciada, religiosa clarissa do século XVII associada à origem do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
“Tendo o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Ouvidoria de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, desta Diocese de Angra, através do respetivo Reitor assumido a autoria da causa de Beatificação da Madre Teresa da Anunciada, por carta datada de 27 de outubro de 2025, nos termos do Artigo 10 da Instrução Sanctorum Mater, de 17 de Maio de 2007, da Congregação das Causas dos Santos” pode ler-se no Decreto Episcopal.
A comissão, que será responsável por estudar a documentação, as fontes e o contexto de vida da religiosa clarissa, será presidida pela historiadora Margarida Sá Nogueira Lalanda e marca um passo decisivo na abertura do processo de beatificação da veneranda religiosa micaelense, de forma a que a sua causa seja aberta a nível diocesano, o que pressuporá ainda a nomeação posterior da Comissão Teológica e de um postulador.
Margarida Sá Nogueira Lalanda, doutora em História da Cultura e das Instituições e professora aposentada da Universidade dos Açores, investigadora do CHAM – Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, é reconhecida pelos seus estudos sobre religiosas, cultura conventual e práticas sociais nos Açores entre os séculos XVI e XVIII.
Farão também parte da equipa António Camões Gouveia, historiador e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Paula Almeida Mendes, linguista e historiadora, investigadora na Universidade do Porto.
Segundo o Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, a criação da comissão “é um trabalho que agora se inicia e que esperamos passe e acabe em Roma”, sublinhando o desejo de que a causa avance de forma sólida e conclusiva.
“Depois da nomeação da Comissão Histórica irão seguir-se as outras nomeações e esperemos que também com o auxílio das vossas orações o processo comece a avançar de forma imparável”, disse ainda no final da Eucaristia no âmbito da celebração dos fiéis defuntos, que a Igreja Católica celebra a 2 de novembro.
“Ao longo dos tempos muitas vezes têm acontecido os reinícios, assim se pode dizer, do processo, mas depois por uma razão ou por outra, até porque as pessoas também vão cedendo o seu lugar na vida, vão falecendo e o trabalho fica a meio, esperemos que desta vez seja um trabalho a começar e acabar em Roma para que haja a resposta da igreja acerca da beatificação de Madre teresa da Anunciada”., afirmou o cónego Manuel Carlos Alves.
Segundo o Reitor, que afirmou este domingo no final da missa dominical em dia de fieis defuntos que este ano e o próximo serão dedicados a esta causa “com muito afinco”, ainda este ano está previsto o descerramento da estátua da Madre Teresa da Anunciada no pátio da roda do Convento da Esperança, por ocasião da festa de Cristo Rei, gesto simbólico que reforça a ligação entre a religiosa e o culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, tradição central da fé micaelense.
Nascida em 1658 na Ribeira Seca da Ribeira Grande, Teresa de Jesus — mais tarde conhecida como Madre Teresa da Anunciada — entrou no Convento da Esperança de Ponta Delgada em 1682, onde dedicou toda a sua vida à promoção do culto do Senhor Santo Cristo. A sua devoção, caridade e firmeza espiritual tornaram-se um exemplo de fé e amor a Deus, sendo considerada já em vida uma mulher de virtudes heroicas.
Embora o processo de beatificação tenha sido iniciado em 1740, nunca chegou a ser concluído. A reativação da causa, agora com nova comissão histórica, é vista como um sinal de esperança por parte do Santuário, que há séculos mantêm viva a devoção inspirada por Madre Teresa.
O trabalho da nova comissão pretende reunir e validar as provas históricas e espirituais necessárias para que a Madre Teresa da Anunciada possa ser oficialmente reconhecida pela Igreja Católica como Beata — passo fundamental no caminho da santidade que o povo açoriano há muito anseia.