Carta ao Menino Jesus

Por Anabela Borba*

Neste tempo de Natal que se aproxima, vêem-me à memória palavras da minha avó, que me dizia muitas vezes, sem que percebesse bem o alcance do que dizia, “vivemos num cantinho do céu”. Então Menino Jesus, o que desejo, em primeiro lugar, é agradecer-te por tantas pessoas que podem viver assim, como “num cantinho do céu”, livres, amadas, em segurança, com acesso a condições de bem-estar, onde é fácil fazer festa neste tempo de Natal, em que as famílias se reúnem, trocam presentes e estão felizes.

Mas, infelizmente tu sabes que a grande maioria da humanidade não vive assim, neste mundo tão desigual, onde poucos têm muito, mas milhões não têm nada. Neste mundo em guerra, com tantas pessoas irmãs nossas: sem casa, sem teto, sem lugar, apetece-me usar as palavras da minha avó, e pedir-te “um cantinho do céu”, onde as pessoas vivam amadas, em casas cheias de luz, enfeitadas com bonitas flores, quentinhas e confortáveis, em aldeias ou cidades onde as pessoas estão a trabalhar, onde existe comida, acesso à educação, e saúde, onde as ruas estão limpas, sem bombas, nem atiradores furtuitos, sem casas destruídas, numa palavra em PAZ.

Tu, que conheces bem o que é nascer sem lugar, sem condições, sem conforto, mas com todo o aconchego do amor de uma mãe e de uma família, infunde o Teu amor no coração dos líderes mundiais, e no de todos os homens, para que cada um acolha o outro, e permita que todo o homem possa viver com dignidade e em segurança.

É urgente que olhes para este mundo em desagregação, onde toda a gente suspeita do vizinho, o ódio cresce entre irmãos, só porque são de cor, ideologia ou fé diferente, onde não há lugar para muitos. Faz com que a Tua mensagem, que sempre foi de amor, toque no coração de cada homem.

Embora não goste da pressa, das correrias sempre associadas ao que dizem ser o Teu tempo, o tempo do Natal, continuo fã das luzes, dos enfeites, das canções de Natal, da festa; é que a Tua presença entre nós é motivo de festa. De certo, ficas triste, quando nós não vivemos este tempo de Natal, como Tu desejarias; que fiquemos pela azáfama das compras, pelos sacos com embrulhos, pelas luzes que encandeiam, mas não iluminam.

O Teu tempo, que não é meramente este tempo de Natal, mas o ontem, o hoje e o amanhã, é o tempo da Luz que vem do Alto, que ilumina o Mundo, que ilumina cada Homem, para a construção de um Mundo melhor, mais justo, mais solidário. O Teu tempo é tempo de esperança, da certeza que Contigo, o nosso tempo, pode ser melhor, com paz, justiça, vida e verdade.

Que o Teu tempo seja para cada Homem, “um cantinho do céu”, aqui na terra.

 

*Anabela Borba é Diretora da Cáritas Diocesana

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