Catequista “não é professor da fé” mas “alguém disposto a colaborar com Deus na transformação do mundo”, afirma a responsável do setor da Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã

Serviço Diocesano da Catequese assinalou ontem o 60º aniversário da sua fundação, numa noite de “memória e gratidão” que percorreu a história da catequese na igreja insular

O catequista “não é um professor da fé” mas “alguém apaixonado por Jesus e disposto a ajudar Deus na transformação do mundo” afirmou Cristina Sá Carvalho numa intervenção proferida esta quarta-feira à noite em Angra, na sessão solene que assinalou o 60 º aniversário do Serviço Diocesano de Apoio à Evangelização, Catequese e Missões.

A responsável do sector da Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã lembrou que “não basta transmitir conteúdos; é indispensável que o catequista faça ver Jesus”, isto é, que seja capaz de promover o encontro de cada pessoa com Jesus Cristo.

“É sempre o projeto de Deus, nunca somos nós” reiterou Cristina Sá Carvalho, numa intervenção onde citou abundantemente o Papa Francisco, sobretudo nos dois documentos A Alegria do Evangelho e Cristo Vive. A partir das suas experiências profissional, como psicóloga e como catequista e responsável pelo sector no País, deixou uma interpelação à assembleia, composta por inúmeros catequistas da ilha Terceira, religiosas e sacerdotes, no sentido de procurarem sempre “ver-se diante de si mesmos” cientes de “é Jesus que têm de mostrar”.

“Não somos nós nem na praia nem no paraíso; somos nós, com o nosso corpo, a nossa ação, a nossa maneira de ser, para sermos capazes de mostrar aos que estão connosco Jesus Cristo”, reiterou. Para isso, acrescentou, o catequista tem de se deixar transformar por Jesus e fazê-Lo entrar verdadeiramente na sua vida.

“Jesus cristo é o nosso projeto de vida: ilumina, fortalece e liberta… Temos tudo”, enfatizou.

A responsável nacional pela catequese deixou, ainda, alguns aspetos que marcam o itinerário de um catequista para que configure a sua vida à de Cristo para “ser com alguém e testemunhar a alegria que é estar com Jesus”.

Ser capaz de acompanhar espiritualmente o outro; Testemunhar a alegria de ter Jesus consigo; ser próximo e olhar com respeito e compaixão pelo outro; possuir uma identidade comunitária e eclesial forte; entender e anunciar a Palavra de Deus e não a sua, são alguns dos aspetos sublinhados para um “trabalho de grande responsabilidade”.

“O Catequista é o mediador entre o mistério de Deus e as pessoas; é um guia espiritual que está na base do encontro com Jesus Cristo, que está disponível e apto a percorrer com o outro o seu caminho e não ser o espectador da vida dos outros ou o seu critico”, referiu ainda ao concluir que evangelizar “é um exercício de hospitalidade mutua”.

Cristina Sá Carvalho elogiou, por outro lado, o trabalho dos sucessivos diretores do serviço da Catequese nos Açores constituído “pela coluna vertebral da igreja”.

“Os catequistas são a coluna vertebral da nossa igreja, embora isto não seja sempre totalmente percetível”, disse.

Nesta sessão solene, Monsenhor José Medeiros Constância, antigo diretor deste serviço, procurou fazer a história da ação pastoral na diocese e, em particular deste serviço já liderado por oito diretores, três deles já falecidos.

O sacerdote, cuja missão pastoral já se estende por três episcopados diferentes, defendeu que “sem comunidade é difícil desenvolver a catequese”.

“O Serviço Diocesano de Apoio à Evangelização, Catequese e Missões deve ser capaz de ajudar a Igreja a ser uma comunidade de portas abertas que ajude a entrar e a sair para o mundo”, referiu.

“O grande desafio é o de criação de uma comunidade sinodal em que se encare a família como promotora dela própria na construção cristã dentro e fora dela própria. Uma paróquia sinodal onde todos se sintam bem e se realizem e identifiquem com uma diocese que seja uma fraternidade de famílias” sublinhou ao elencar a catequese familiar como outro grande desafio.

“Acho que temos de encetar os caminhos dos secretariados em conjunto. O mundo é diferente hoje: ou nos organizamos de uma maneira nova ou vamos repetindo cada um por seu lado o que sempre fizemos” afirmou mostrando-se particularmente esperançoso no novo modelo de catequese para adolescência que se está a trilhar e que aponta para uma catequese cada vez mais adequada à realidade concreta de cada diocese.

Numa viagem diacrónica rápida pela história da catequese nos Açores, feita “mais com o coração do que como um exercício intelectual”, Monsenhor José Constância lembrou que a Região procurou estar sempre em comunhão com os ventos da Igreja Universal, mobilizou inúmeros catequistas e acompanhou as grandes questões e as tensões colocadas no pós-concilio e depois mais tarde, nas décadas de 80 e 90, quando se implementou a pastoral de domingo, com inúmeras jornadas formativas e a catequese atual, respetivamente. A relação entre a catequese e a família, o perigo da catequese ficar demasiado escolarizada e a falta de catequistas bem como a “estrutura de dez anos de catequese dirigida a filhos de uma era digital que vive tempos de grande secularismo e esgotada em muitos aspetos”, foram outras reflexões que a diocese acompanhou no seio da Igreja, procurando sempre a valorização desta ação pastoral como o pilar da nova evangelização.

Recorde-se, aliás, que durante a década de 90 o Diretor do Serviço Nacional de Educação Cristã foi o açoriano, Monsenhor Augusto Cabral, entretanto falecido.

Foi “em espírito de memória agradecida” que o atual diretor do Serviço Diocesano, Pe. Jacob Vasconcelos, o mais jovem sacerdote nomeado para a missão, se dirigiu a todos os participantes nesta sessão solene, que se realizou no Seminário de Angra.

“Esta celebração não deve ser apenas um ponto de chegada, mas sobretudo um ponto de partida e uma oportunidade para renovarmos o nosso empenho nesta nobre tarefa” referiu, procurando desafiar os catequistas a “um compromisso consciente e amoroso” para responderem com o Evangelho de Cristo aos desafios do mundo de hoje.

Por outro lado, referiu-se aos “seis mandamentos” de um bom catequista: profunda comunhão com Cristo; eclesialidade e inserção na comunidade; capacidade de interpretação dos sinais dos tempos à luz do Evangelho; desejo de se alimentar com a chama do  Evangelho cada momento; capacidade de servir cada pessoa animando-a na sua formação e crescimento; desejo de permanente renovação e de justa criatividade, apostando na formação permanente e procura permanente de conversão.

“A Igreja do futuro será sinodal ou não será… o Cristianismo ritualizado e individualizado está a desmoronar-se. Urge edificar uma Igreja verdadeiramente evangélica. É neste olhar, com esta confiança, que quero contar convosco. Cristo conta connosco e a sua Igreja também. Sejamos generosos. Se cada um der um pouco de si quão ricos ficamos todos. Os desafios são grandes: sejamos realistas mas sem perder a esperança; não deixemos que nos roubem a força missionária” terminou ao recordar os vários reptos deixados pelo Papa Francisco.

A sessão solene, que foi encerrada com um pequeno recital pelo Coro da Terra Chã, dirigido pelo Cónego Ricardo Henriques, contou ainda com a participação do Vigário Geral da Diocese, também ele ex-diretor deste serviço entre 1989 e 2005.

O cónego Hélder Fonseca Mendes procurou fazer uma resenha histórica deste serviço, o mais antigo serviço diocesano à exceção da Cáritas de Angra e lembrou a sua importância na ação pastoral diocesana e também no contexto nacional, particularmente quando a equipa diocesana no final dos anos 80 foi chamada a colaborar na elaboração do catecismo do 3º ano.

(Com João Silva)

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