Convicção ou vantagem?!

Por Renato Moura

Há dias a Igreja Católica trazia à nossa reflexão um excerto do Evangelho no qual se narrava que Zaqueu, um homem rico e chefe de cobradores de impostos, sabendo que Jesus iria passar por ali, subiu a uma árvore para ver Jesus, que o olhou e disse: “Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa”. A atitude de Jesus causou murmúrio, pois Zaqueu, pela sua profissão, era considerado pecador. Perante as palavras de convicção de Zaqueu, Jesus declarou: “Hoje veio a salvação a esta casa” e esclareceu que viera ao mundo para “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,1-10). Noutra passagem: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores” (Lc. 5,31-32).

Recentemente temos visto muitos políticos a declararem publicamente as suas opções perante as religiões. Tem acontecido no Brasil, como também em Portugal. Ao invés alguns declaram-se ateus, ou agnósticos, com um tal aparato, parecendo haver menos de convicção e mais de imitação a uma espécie de modernidade de má esquerda!

Em Portugal a Constituição define o Estado como laico. Quem detém poderes deve manter igual respeito e equidistância perante as religiões, e consideração pelas crenças dos cidadãos. O Estado tem o dever de promover a aplicação da justiça, mas nenhum dos seus órgãos ou agentes tem o direito de combater e tentar abater qualquer religião. Seja onde for, ou qual a religião, jamais deveria servir para suporte do poder ou luta para o atingir.

Qualquer detentor do poder, ou político, tem direito às suas próprias convicções religiosas, cujos valores e princípios deveriam orientar as suas atitudes; mas melhor seria se eles se percebessem na qualidade dos seus actos, não na jactância das suas declarações. Assim se eliminaria a dúvida sobre se se trata de convicção ou de tentativa de obtenção de vantagem junto dos cidadãos, ou da ajuda de outros poderes.

Também não é aceitável a arrogância, seja de políticos ou de comuns cidadãos, quando se julgam omniscientes e omnipotentes.

Zaqueu, apesar de rico e acobertado pelo poder de Roma, sentiu necessidade de perceber QUEM era Jesus e converteu-se. Quem ainda hoje recusar o orgulho e recorrer aos Evangelhos retira inspiração e proveito nos ensinamentos de Jesus.

Seja qual for a postura dos homens que ocupam lugares públicos, muito frequentes são os domingos nos quais os católicos rezam para Deus os ajudar a serem servidores dos cidadãos e a exercer as suas funções com rectidão.

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