O bispo de Angra assinala esta terça-feira sete anos de ordenação episcopal, num episcopado marcado por orientações com vista a renovações estruturais, apelo à corresponsabilidade e por gestos simbólicos alinhados com o pontificado do Papa Francisco

D. Armando Esteves Domingues, bispo de Angra, completa esta terça-feira sete anos de ordenação episcopal, celebrada em Viseu a 16 de dezembro de 2018, com uma primeira nomeação como bispo auxiliar do Porto e uma segunda como bispo da Diocese de Angra pelo Papa Francisco em novembro de 2022, após um longo período de sede vacante na diocese insular, a onde o prelado tem procurado imprimir um ritmo de mudança pastoral e estrutural à Igreja açoriana.
Natural de Oleiros, D. Armando Domingues foi ordenado sacerdote 03 de janeiro de 1982, na Catedral de Viseu. Ao longo do seu ministério destacou-se pela ligação à pastoral juvenil, à formação e à comunicação, tendo sido durante vários anos diretor de um jornal da diocese de Viseu, onde foi ecónomo entre novembro de 2004 e julho de 2015.
O ano pastoral de 2025 na diocese de Angra ficou particularmente marcado pela publicação da sua primeira Carta Pastoral para o primeiro triénio de um ciclo de três, que conduzirá à celebração dos 500 anos da Diocese de Angra. Intitulada “Batizados na Esperança”, a carta assume-se como um documento estratégico, no qual o bispo convida todos os cristãos a serem neste “mundo desesperançado” um “vigoroso sinal de contradição”.
Na Carta Pastoral, com 49 pontos em 14 páginas, D. Armando Esteves Domingues traça as linhas orientadoras para os próximos nove anos na Diocese de Angra, centradas na esperança, na corresponsabilidade e na construção de uma Igreja sinodal, destacando-se a obrigação de todas paróquias criarem ‘Conselhos Pastorais’, até ao final deste ano 2025/2026.
“E, em alguns casos específicos, zonas interparoquiais e de ouvidoria, os respetivos Conselhos Pastorais, estruturas básicas de corresponsabilidade eclesial e espaços fundamentais de sinodalidade. Que os que já existem se possam enriquecer com a presença de outros membros da comunidade, mesmo não sendo do âmbito eclesial, para que o seu carácter eminentemente representativo do Povo de Deus seja eficaz,”, desenvolve o bispo de Angra.
“O caráter consultivo dos Conselhos não os pode remeter para a esfera secundária de serem apenas um repositório ao serviço do Bispo, do Pároco ou do Ouvidor; sem contrariar o que o Direito estabelece, podemos criar órgãos consultivos alargados e processos de discernimento partilhado. Deste modo, a voz do Povo de Deus torna-se mais audível também nas decisões que tocam a vida da Diocese”, acrescenta.
Ainda neste âmbito, o bispo de Angra vê que os Conselhos Pastorais intermédios (interparoquiais, de Ouvidoria e de ilha) “poderão ir já mais além”, porque “menos vinculados juridicamente à Paróquia ou à Diocese”, e possa, por isso, ser “um leigo” a presidir.
O novo documento assinala o papel das estruturas diocesanas que, em conjunto, procuram dar corpo ao dinamismo sinodal que marcará a vida desta Igreja insular até 2034, porque “a comunhão, a participação e a missão não são apenas conceitos, mas caminhos concretos”, nomeadamente o Serviço de Coordenação da Pastoral Diocesana, responsável por acompanhar e articular a execução das propostas já delineadas; o Instituto Católico de Cultura, porque “é tempo de encontrar novas linguagens para que a mensagem cristã seja compreendida no mundo de hoje”; os seminaristas açorianos estão a estudar no Porto, mas o Seminário Episcopal de Angra continuará a ser “um farol cultural e educativo para a Diocese”, e a Equipa Sinodal tem a responsabilidade de implementar as orientações de Roma, no caminho rumo à Assembleia Eclesial de 2028.
Este ano do episcopado ficou igualmente assinalado pela maior remodelação de sacerdotes de que há memória recente na Diocese de Angra: 37 padres mudaram de paróquia ou serviço. Em algumas ilhas verificou-se a mudança total ou quase total do clero, com especial incidência nas ilhas do grupo central — São Jorge, Faial e Pico.
No plano da governação eclesial, destacou-se, ainda, a realização de uma assembleia conjunta entre o Conselho Presbiteral e o Conselho Pastoral Diocesano, um sinal concreto da aposta do prelado numa maior articulação e sinodalidade entre os diferentes organismos da diocese.
O ano ficou também marcado pelo encerramento de dois processos relacionados com alegados abusos sexuais de menores, ambos arquivados sem culpa provada dos sacerdotes alegadamente visados, após os respetivos procedimentos canónicos e civis.
No plano simbólico e pastoral, D. Armando Domingues voltou a dar sinais da sua proximidade às periferias e da sintonia com o Papa Francisco. Na Quinta-feira Santa, lavou os pés às reclusas da prisão de Angra do Heroísmo, estabelecimento prisional onde, de resto, gravou a sua mensagem de Natal em 2024, gesto assumido como expressão da sua ligação ao estilo pastoral do papa Francisco.
Sete anos após a ordenação episcopal, D. Armando Esteves Domingues apresenta um episcopado marcado por reformas, por um forte apelo à corresponsabilidade dos fiéis e por uma visão pastoral orientada para o futuro da Diocese de Angra, num caminho que já aponta para a histórica celebração dos seus cinco séculos de existência, em linha com o caminho que a Igreja Universal está a fazer sob a liderança do papa Leão XIV.
D. Armando Esteves Domingues nasceu a 10 de marco de 1957, na paróquia e freguesia de Oleiros, no distrito de Castelo Branco. É o oitavo de onze irmãos.
Após o exame da 4.ª Classe na Vila de Oleiros, ruma a Viseu e ingressa no Seminário Menor de S. José, em Fornes de Algodres, em outubro de 1967. Concluiu, em junho de 1980, o Curso de Teologia dos Seminários no Seminário Maior de Viseu.
A partir de julho de 1980 ate outubro de 1981, faz um ano de Estágio pastoral em Roma, numa comunidade com 7 seminaristas e um sacerdote, no Centro Mundial de Espiritualidade e Teologia do Movimento dos Focolares. Especificamente frequentou estudos sobre pastoral juvenil, espiritualidade e pastoral familiar com incidência na preparação de noivos para o matrimónio. Realizou também trabalhos como tradutor de italiano/português em Congressos internacionais.
Ao regressar à Diocese, é ordenado diácono a 25 de novembro de 1981 e presbítero a 03 de janeiro de 1982, na Sé Catedral de Viseu.
No dia 15 de janeiro de 1982, é chamado a dar apoio pastoral as paróquias de Fragosela e Santos Evos. Posteriormente, a 24 de maio de 1982, é nomeado pároco de S. Martinho das Moitas, Gafanhão e Covas do Rio e, em outubro de 1983, assume também a paroquialidade de Reriz, nos concelhos de S. Pedro do Sul e Castro Daire.
A 02 de setembro de 1984, frequenta o Curso de Capelães Militares e, no final, fica como Capelão Militar na Força Aérea Portuguesa, colocado no Estado Maior da Força Aérea e capelão da Base de Tropas Paraquedistas de Monsanto, Comando da Força Aérea, comando das Tropas Paraquedistas, DGAFA e Aeroporto de Trânsito n.º 21. Em marco de 1984, é nomeado Capelão da Base de Alfragide e adjunto do Capelão Chefe da Forca Aérea. Ainda como militar, entre dezembro de 1984 e janeiro de 1987, é Assistente da 4.ª Secção do Escutismo na Região de Lisboa e Adjunto do Assistente Regional, colaborando também com os Cursilhos de Cristandade.
De regresso à diocese de Viseu foi pároco em várias paróquias, ecónomo e vigário-geral.