
Sessenta anos após a publicação da declaração Nostra Aetate, do Concílio Vaticano II, o diretor da Subcomissão de Diálogo Inter-religioso da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Adelino Ascenso, sublinha que o documento “continua a ser profundamente atual” e inspira um encontro de reflexão em Fátima.
“É muito atual. Talvez porque toca a essência da humanidade. Vivemos um tempo terrivelmente fragmentado e complexo — tal como há 60 anos. Por isso, a Nostra Aetate tem hoje uma verdadeira pertinência”, afirmou o sacerdote, em entrevista à Agência Ecclesia.
Promulgada pelo Papa Paulo VI a 28 de outubro de 1965, a declaração Nostra Aetate — sobre a relação da Igreja com as religiões não cristãs, com especial destaque para o judaísmo — rejeita toda e qualquer forma de discriminação ou violência motivada por raça, cor, condição ou religião.
Para o padre Adelino Ascenso, o diálogo com outras tradições religiosas está no centro da missão da Subcomissão: “As religiões devem ser instrumentos de paz, de concórdia e de reconciliação. É algo de que o nosso tempo tem urgente necessidade. Essa será a base do nosso trabalho”, afirmou.
Como parte das celebrações do 60.º aniversário do documento, o cardeal George Koovakad, prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso (Santa Sé), visitará o Santuário de Fátima no próximo dia 16 de outubro (quinta-feira).
O programa inclui Eucaristia às 10h30, na Capelinha das Aparições, e uma conferência às 12h00, no Centro Pastoral Paulo VI, sobre “a génese e a atualidade da Nostra Aetate”, proferida pelo cardeal Koovakad.
O tema do diálogo inter-religioso tem estado também presente nas intenções de oração do Papa Francisco. No vídeo do Papa de outubro, o pontífice pede que “pessoas de diferentes tradições religiosas trabalhem juntas para promover a paz, a justiça e a fraternidade humana”, por ocasião do 60.º aniversário do documento conciliar.
“Todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a este caminho. Não podemos permanecer fechados apenas no nosso mundo cristão; é preciso sair, abrir-nos ao outro. Essa abertura já está presente na própria Nostra Aetate”, acrescentou o missionário da Sociedade da Boa Nova.
A Subcomissão de Diálogo Inter-religioso da CEP prepara já um novo encontro, previsto para fevereiro de 2026, centrado na Declaração de Abu Dhabi sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz e da Convivência Comum, assinada em 2019 pelo Papa Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb.
“Esse documento é essencial para a fraternidade universal. O diálogo inter-religioso não serve para converter, mas para escutar, compreender e construir juntos um mundo melhor”, concluiu o padre Adelino Ascenso.