Dificuldades não podem fazer com que a igreja desista dos seus meios de comunicação social, diz bispo de Angra

Sessão solene dos 100 anos do jornal O Dever realizou-se este sábado no Pico

A igreja Católica e os meios de comunicação social de inspiração cristã não podem desistir no meio das dificuldades, disse esta tarde o bispo de Angra na sessão solene comemorativa dos 100 anos do jornal O Dever, propriedade da igreja Matriz da Santíssima Trindade, nas Lajes do Pico.

“A imprensa de inspiração cristã está perante desafios muito exigentes. A resposta não é desistir, muito pelo contrário, com inteligência e com sabedoria, com coragem e confiança abraçar o futuro, auscultando o que o Espirito nos diz a partir do interior da realidade onde somos chamados a mergulhar”, disse D. João Lavrador.

O prelado diocesano reconheceu a importância dos meios de comunicação social para a evangelização.

“Proporcionando o diálogo entre a Igreja e o mundo, os meios de comunicação são necessários para propor o Evangelho, no respeito e na abertura perante a diversidade cultural e religiosa”, salientou.

“Na verdade é o bem das pessoas que deve orientar a comunicação social. A verdade, o bem, a beleza e o respeito pela dignidade da pessoa humana terão forçosamente de emergir de toda a tarefa da comunicação social” destacou ainda o prelado.

D.João Lavrador sublinhou a importância deste jornal centenário e referiu-se ao dever de gratidão que todos os picoenses, especialmente os ligados à igreja, devem ter para com os promotores deste semanário. O prelado percorreu os cem anos de história de O Dever e referiu-se, em particular, ao contexto histórico em que o jornal foi fundado, marcado por um crescente secularismo e anticlericalismo por parte de alguns sectores da sociedade açoriana, em particular, contra os quais foi preciso “lutar”.

“É nosso dever, hoje, reconhecer como as gerações passadas souberam auscultar os sinais dos tempos e de maneira destímida e sábia procuraram responder a uma cultura que dava sinais de percorrer um itinerário que deformava o ser humano e criaria ruptura na sociedade de difícil previsão” disse D. João Lavrador.

“São estes homens valentes, de inteligência, de coração e de fé com horizontes rasgados para um futuro que depende do esforço e da coragem de nele intervir que nós hoje saudamos e agradecemos e nos inspiramos”, destacou referindo-se aos fundadores do jornal.

O bispo de Angra debruçou-se ainda pelos desafios da comunicação sobretudo nesta época digital, que requere uma maior “atenção e disponibilidade” por parte da Igreja, que deve encarar a comunicação social como um “desafio critico e evangelizador”, tendo em conta as novas realidades, nomeadamente das redes digitais.

Salientando o exemplo de O Dever, o prelado destacou ainda a realização de um jornalismo de proximidade e de relação com as comunidades, que pode ser uma saída para a sobrevivência dos jornais da igreja.

A primeira edição do Dever foi publicada no dia 2 de junho de 1917, um dia em que se “fez história” que só “pode ser continuada se todos tivermos vontade” disse o atual diretor, Pe. João António Neves.

“Até quando o Dever vai aguentar só Deus sabe. A paróquia sozinha não consegue aguentar as despesas; temos que ter mais entusiasmo, mais assinantes porque o futuro depende de todos”, disse ainda o sacerdote.

“Se o amarmos, o assinarmos e o estimarmos certamente que ele terá futuro”, disse o sacerdote que se distanciou de polémicas e de questões políticas porque “um órgão de comunicação social- especialmente de inspiração cristã- não pode nem deve alimentar polémicas”.

Presente nesta sessão solene, o Presidente da Câmara das lajes, Roberto Silva,  que atualmente suporta duas páginas de publicidade do jornal, garantiu que enquanto for dirigente autárquico o jornal “não morrerá” porque “faz falta ao concelho”.

A sessão solene contou ainda com a inauguração da exposição sobre Cem Anos do Dever, no Museu dos Baleeiros nas lajes, composta por 10 painéis que retratam a vida e a história deste semanário.

“Um trabalho de alma lavada, sem intolerâncias e sem preconceitos” que agarrou nas primeiras páginas mais emblemáticas do jornal e recortou os leads das várias noticias que explicaram títulos de primeira pagina, esalientou o diretor do Museu, Manuel Francisco Costa, responsável pela exposição juntamente com a equipa do Museu dos Baleeiros.

“Foi um trabalho morosos e minucioso que levou à analise de mais de 5 mil jornais, de fio a pavio;  duas mil peças de jornalismo; horas e horas a fio” reforço ainda lembrando o trabalho árduo e apaixonado” que todos desenvolveram.

Depois da exposição veio um momento musical do coro das lajes que interpretou três músicas: a Avé Maria dos baleeiros; a Lira de São Jorge e a Montanha, com arranjos musicais do Maestro Emílio Porto

De referir que com a ajuda da autarquia o jornal vai distribuir a segunda edição do primeiro número a todas as famílias das Lajes.

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