“Dilexi te — quem a vai ler?”

Por António Maria Gonçalves

Foto: Facebook António Maria Gonçalves

A nova Exortação Apostólica Dilexi te, do Papa Leão XIV, é um texto breve, luminoso e profundamente exigente. Inspirado nas últimas intenções de Francisco e firmado sobre a herança evangélica do amor preferencial pelos pobres, o documento recorda-nos que o coração de Cristo continua a pulsar nas feridas da humanidade.

Mais do que um discurso devocional, Dilexi te é um grito — manso, mas firme — dirigido a todos: crentes e não crentes, governantes e governados, cidadãos e comunidades. Recorda-nos que não há fé autêntica sem compaixão, nem sociedade justa sem o reconhecimento do valor sagrado da vida humana, sobretudo daquela que mais sofre.

O Papa fala de um mundo onde cresce a indiferença, onde muitos se resignam à pobreza dos outros como se fosse destino inevitável. E desafia-nos: “Deus escolhe os pobres”, não para os deixar na miséria, mas para nos libertar da nossa cegueira. Dilexi te é, portanto, uma convocação à conversão pessoal e social — a rever o modo como organizamos a economia, a política e o quotidiano.

Nos Açores, onde os índices de pobreza continuam preocupantes, este apelo ganha corpo e urgência. O amor de Cristo pelos pobres traduz-se em compromisso real: no direito ao trabalho justamente remunerado, na equidade de oportunidades, na solidariedade que gera dignidade. A pobreza não é apenas falta de recursos; é ausência de reconhecimento e de esperança.

A Igreja — e cada um de nós — é chamada a escutar este clamor e a dar-lhe resposta. Não há neutralidade possível quando a caridade se torna critério de justiça. O Evangelho continua a perguntar-nos, hoje: “A quem amas, e como o serves?”

Dilexi te — “Eu Amei-te”. A voz de Cristo ressoa no texto, e a pergunta fica suspensa: quem a vai ler? e quem a vai viver?

 “Dilexi te — uma reflexão obrigatória para quem tiver ouvidos e coração”.

 

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