Do Carnaval às cinzas

O dia de carnaval, que se assinalou esta terça-feira, está ligado ao início do tempo litúrgico de 40 dias da Quaresma, com a celebração das Cinzas, em datas determinadas pela Páscoa.
A maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte, este ano a 31 de março.

A quaresma começa na quarta-feira de cinzas e termina na Quinta-feira santa. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.

A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Na Quaresma, Cristo convida-nos a mudar de vida. A Igreja convida-nos a escutar especialmente a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem ao nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar a nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

40 dias

A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia: os quarenta dias do dilúvio, os quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.

Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica viria a promover alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma.

Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de caráter cómico.

No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.

Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma.

A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico.

A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dos únicos dias de jejum e abstinência obrigatórios.

Nos primeiros séculos, apenas cumpriam o rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa.

A partir do século XI, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma.

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