Domingo de Pentecostes é um dos mais importantes no arquipélago com impérios e bodos em todas as ilhas

Pico e Terceira são as ilhas onde o dia de Espirito Santo é um dos mais importantes do ano. Governo volta a conceder tolerância de ponto aos trabalhadores da administração pública nas ilhas do triângulo

O Presidente do Governo dos Açores concedeu tolerância de ponto aos trabalhadores da Administração Pública Regional cujos serviços estejam sediados nas ilhas de São Jorge, Pico e Faial no dia 6 de junho, terça-feira do Espírito Santo.

O despacho de Vasco Cordeiro publicado em Jornal Oficial refere que a “celebração do Espírito Santo se reveste de profundo significado para o Povo Açoriano, sendo o seu culto celebrado em toda a Região”.

Segundo o mesmo despacho, “tradicionalmente, as festividades que lhe são dedicadas nas ilhas do Faial, Pico e São Jorge prolongam-se para além da segunda-feira do Espírito Santo, que este ano ocorre no dia 5 de junho, Dia da Região Autónoma dos Açores”.

O fim de semana de Pentecostes, que nestas ilhas se prolonga até terça feira, é um dos mais longos e importantes do calendário das festas populares nestas ilhas do triângulo, especialmente na ilha do Pico.

 

Na Ilha do Pico

 

Entre sábado de Pentecostes e o domingo da Trindade, uma semana depois, celebram-se mais de 4 dezenas de impérios, nas 19 paróquias da ilha montanha. Durante mais de uma semana, a ilha do Pico, nos Açores, vai estar “rendida” ao Divino Espírito Santo.

A Festa do “Sábado do Espírito Santo”, como é conhecido, começa por ser vivida na Silveira do Pico. É, aliás, a única festividade de Pentecostes nos Açores, a acontecer num sábado e remonta a 1720, altura em que a população fez um voto, na sequência de uma erupção vulcânica que formou o atual Mistério da Silveira.

Juntamente com o Faial, São Jorge e Terceira, o Pico é uma das ilhas do Grupo Central  do arquipélago dos Açores, onde as Festas do Divino Espírito Santo são vividas de uma forma mais intensa. Embora o culto ao Divino Espirito Santo seja uma “marca identitária da açoreanidade”, a verdade é que é no Grupo Central que elas conservam uma vivência mais comunitária.

As 45 irmandades da ilha montanha que trazem à rua o Divino Espírito Santo, vão realizar as suas coroações, procissões e convívios, tendo sempre como mote a partilha.

Nas festividades deste ano serão oferecidas mais de 20.000 refeições, 15 mil só no próximo fim de semana, numa quantidade equivalente a 10 toneladas de carne e mais de 20 mil pães.

Os cortejos processionais e os arraiais são abrilhantados pelas 13 filarmónicas da ilha e ainda pelos grupos de foliões.

Nestas 45 festas além das tradicionais sopas do Espírito Santo serão servidas carne cozida e assada, massa sovada e arroz doce.

Em cada arraial são distribuídas as rosquilhas, vésperas ou pão a todos aqueles que passam pela freguesia.

De referir que as rosquilhas- “reliques”-  e o pão são ofertados nos impérios do lado sul da ilha (desde a Madalena até à Calheta de Nesquim) e os bolos de véspera nos impérios do norte da ilha (desde as Bandeiras à Calheta de Nesquim). A Paróquia da Calheta de Nesquim é a única que oferece rosquilhas e bolos de vésperas.

O maior império da ilha (e provavelmente dos Açores) é o da Terça-feira do Espirito Santo na Vila da Madalena, em que são distribuídas cerca de 10 mil rosquilhas, muitas delas partilhadas com forasteiros que acorrem à ilha montanha provenientes do Faial e de São Jorge.

Além destas 45 irmandades, que realizam as suas festas nestes dias, há outras seis que promovem a sua festividade noutras alturas do ano, com coroações, sopas e distribuição de rosquilhas.

As festas do Espírito Santo constituem um traço comum a todas as ilhas dos Açores embora sejam vividas com algumas especificidades em cada uma delas.

Na ilha Terceira

Na Terceira o dia de Bodo, no próximo domingo, é um dos dias mais importantes do ano.

As festas nesta ilha têm uma força muito original e são vividas sobretudo na zona do Ramo Grande, onde a economia continua a ser predominantemente agrária, sendo bastante conhecidos, por exemplo, os impérios da Vila Nova e das Lajes pelo número de pessoas envolvidas.

A peculiaridade principal deste culto no arquipélago é ser popular e desenvolver-se sob a forma de império, ou seja na dinâmica do império que tem as suas origens nos reis e nobres e que o povo achou tão interessante que se organizou em irmandades para repetir a mesma dinâmica. O rito da coroação, por exemplo,  diz que o Império do Espírito Santo é dos que são como as crianças, como os pobres, como os presos, etc. Se uma pessoa destas governa o dito império, a lógica do governo é outra do que a que os impérios que este mundo promove, sendo que o culto tem uma forte carga profética e política, sem qualquer pretensão de imitação de papéis ou destituição de poderes.

À volta dos Impérios desenvolvem-se durante vários dias as festividades do Espírito Santo, imbuídas de um ideal caritativo e compostas por um conjunto de cerimónias religiosas e profanas: a “coroação” do Imperador Menino, o desfile de cortejos e o bodo de pão e de carne.

Durante cada semana das festividades veneram-se as insígnias do Divino na casa do Imperador e reza-se o terço à noite perante a coroa e a bandeira. Na sexta-feira, os bois são enfeitados e realiza-se a “procissão do vitelo”. Posteriormente, sacrificam-se os animais necessários para o bodo que o Imperador oferecerá no domingo aos convidados, retalha-se a carne para a sopa, o cozido e a alcatra do jantar e para as pensões a distribuir pelos pobres da freguesia. No sábado faz-se a distribuição de esmolas, compostas de carne, pão e vinho, benzidas pelo padre.

No domingo de manhã realiza-se a primeira procissão, encabeçada pela bandeira do Espírito Santo. Na cerimónia da “coroação”, dentro da igreja,  o padre toma o cetro, dá-o a beijar a quem coroa e entrega-lho, e depois faz o mesmo com a coroa, colocando-a sobre a sua cabeça; asperge o Imperador, incensa-o e entoa-se o “Veni Creator Espiritus”. Depois da coroação a Coroa e a Bandeira vão em procissão até ao Império, de onde saem à noite para outra casa.

Refira-se a título de curiosidade que na ilha Terceira a própria paróquia pode ser imperatriz da festa recebendo na Igreja as insígnias do Espírito Santo. É o caso por exemplo da paróquia de Santa Margarida, no Porto Martins, que foi imperatriz no ano de 2015, recebendo as insígnias do Espírito Santo durante uma semana

É também no domingo que se realiza o bodo ou a “função” para o qual todos são convidados, ricos e pobres, habitantes ou forasteiros. A ementa da “função” é composta pela sopa do Espírito Santo, alcatra, pão, armazenados nos Impérios ou nas despensas, pela massa sovada ou pelas rosquilhas (Pico) e vinho. Os irmãos escolhidos para realizar o bodo designam-se de Mordomos.

As festas do Espírito Santo começam no domingo imediatamente a seguir à Páscoa tendo como ponto alto nas ilhas referidas o domingo de Pentecostes e o da Trindade. Na ilha Terceira, os impérios prosseguem durante o verão, até ao Império de São Carlos, em setembro.

Na ilha Terceira, o culto do Espírito Santo está documentado desde 1492, data em que já se fazia o Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecostes, à porta de uma capela pertencente ao hospital do Espírito Santo.

A festa constava da missa do Espírito Santo, “coroação” e bodo e, se algum irmão  da confraria “tomasse o império” sem ter meios  para o desenvolver seria ajudado pelos restantes membros da irmandade.

Quando se instituíram as Santas Casas da Misericórdia na ilha Terceira, a de Angra, em 1495, e depois a da Praia, em 1498, instalam-se nos templos do Espírito Santo, acabando por se tornar as responsáveis pela organização dos bodos no dia de Pentecostes, facto que não afetou a criação de irmandades em todas as freguesias destes dois concelhos

As festas do Espírito Santo nos Açores possuem uma estrutura tradicional comum mas apresentam bastantes variantes entre as várias ilhas do Arquipélago e, dentro da mesma ilha, entre os vários Impérios.

O ciclo das festividades é, no entanto, comum. Este domingo e no próximo vivem-se os bodos e no final do bodo do próximo domingo tiram-se “as sortes” para conhecer os irmãos que vão ficar com as domingas, sete, do ano seguinte. Quem tirar a primeira “dominga” ficará com o Espírito Santo todo o ano em casa, ou seja, a Bandeira e a Coroa ficarão na casa desse irmão, em lugar de destaque.

 

Scroll to Top