“Ecos” do Conselho Presbiteral – 2023 (3) Os padres, a mudança e a evangelização

Por Monsenhor José Constância

A vivência da 46ª sessão do nosso Conselho Presbiteral, que já não se efectuava há dois anos por causa da pandemia, e da “sede vacante” realizou-se a 25, 26 e 27 de abril passado com o tema :- “O presbítero numa Igreja toda Evangelizadora”.

A Assembleia centrou todos os seus trabalhos na vida dos presbíteros(padres) da nossa Diocese, suas realidades de vida, os seus principais problemas e como resolvê-los.

De resto, a sessão ou sessões foram feitas à base da leitura e constatações realistas da síntese de respostas vindas das Ouvidorias e do resultado dos trabalhos de grupos que se expressaram nos plenários e nas votações.

Por mim, neste comentário pessoal e livre que faço hoje, como “eco” deste tema, gostava de o resumir em três pontos. O 1º Realidades, divergências, tensões, lacunas e omissões de nós presbíteros; o 2º Prioridades saídas das respostas dos padres na assembleia e o 3º o que ouso chamar por conclusão para nos convertermos todos, a começar por mim.

Todo o Conselho versou sempre a temática dos padres, mesmo nas informações dadas e num ou noutro assunto que teve em conta a vivência e a fraternidade em presbitério.

Partimos sempre do ponto central de uma Igreja presente no mundo dos Açores em Sinodalidade, cuja finalidade da mesma é a Evangelização. Os presbíteros fazem parte da Igreja e existem e vivem por causa da sua missão. Nada de nos enredarmos nas nossas questões internas e muitas vezes clericais.

1º Realidades, divergências, tensões, lacunas e omissões de nós presbíteros

A Igreja dos Açores já não é cristandade. Há uma grande mudança que afecta os religiosos e especificamente o “Cristianismo Católico”. A realidade de vida é toda outra e há uma tensão entre valores tradicionais(espirituais) e modernidade, mesmo entre o clero, os religiosos/as e as famílias com a consequente relativização da fé, materialismo e individualismo de padres e falta de testemunho credível. Nós padres e as nossas comunidades saídas da pandemia, temos olhares diferentes e divergências de opinião e de orientação sobre as respostas a dar pelas paróquias hoje. As tensões e preocupações são grandes porque a pouca corresponsabilidade eclesial e económica lançam grandes interrogações e acentuam o desânimo e a depressão. Isto gera tensões que o padre como homem

e cristão sente nesta sociedade. As tensões, etc. trazem isolamentos, faltas de fraternidade, dificuldades em apoio, mesmo da instituição.

Há lacunas que sentimos: afinal como ser sinodal, como sermos homens do povo? A ausência de jovens e de gente válida na comunidade. E depois: a pobreza, os conflitos e as dependências da hora atual tornam-nos impotentes para resolver muita coisa. A nossa boa vontade é muita, mas somos omissos por ignorância, preguiça e ação de conjunto. Falta-nos uma cultura atual, pedagogias novas para lidarmos com comunidades rurais e citadinas.

Como mudar? Que fazer, para sermos evangélicos num mundo tão secularista? Que “agenda de Igreja” para este mundo? Estas constatações vieram ao de cima com sinceridade e abertura. Tudo estimulado pelo nosso Bispo que disse que falássemos usando a expressão característica: «soltem a língua», «soltem a fala».

2º Prioridades saídas das respostas dos padres na assembleia

Nós padres fomos unânimes em afirmar o que vem no comunicado final: “Necessitamos de uma grande renovação e de muito acompanhamento”. As propostas que estavam subjacentes à síntese dos trabalhos que vieram das ouvidorias e que foram elencadas, mais o diálogo nos grupos e nos plenários foram no sentido de tomarmos muito mais a sério uma espiritualidade sacerdotal incarnada, uma formação contínua englobante (e pelas idades dos padres), com ações pelas zonas pastorais, ouvidorias e no todo da Diocese que respondam a questões atuais das Ciências Humanas, da Bíblia, da Teologia e da Pastoral.

Para acompanhar, orientar e coordenar a formação dos presbíteros foi votada a criação de um Vigário Episcopal para o Clero que ajude todos nas horas fáceis e difíceis, nas depressões e na fraternidade que importa criar e recriar no presbitério dos Açores. Para além disto, uma acção de conjunto que abranja nomeações a favorecer o “in solidum” e o trabalho concertado mesmo com leigos. Houve a proposta de trabalho piloto nas cidades e na pastoral especializada. O Senhor Bispo indo ao encontro das dificuldades reais do presbitério, secundando as propostas mais relevantes, abriu-se a que o padres que necessitem de mudanças pastorais, que queiram fazer anos sabáticos missionários e ajudar outras dioceses que se dirigissem a ele expondo por escrito o que pretendiam. Estas mudanças ou transferências pastorais com a renovada equipa de Ouvidores na Diocese, na assistência espiritual dos Serviços Pastorais e movimentos eclesiais, bem como o trabalho pastoral dos leigos e sua formação, tudo coordenado também por leigos competentes, ajudará o amanhã da nossa Igreja. Os presbíteros foram realistas, mas não se limitaram a carpir os aspectos negativos das suas vidas, nem permaneceram numa crítica inútil. Demos as mãos e vamos construir o presente e o futuro!

3º A nossa conclusão necessária

Creio que nada se fará por cada um de nós padres, pelas nossas equipas de ouvidoria, ou pela equipa central da Diocese, com o Bispo que nos foi concedido, se não tivermos em conta ou se não vivermos uma conclusão absolutamente necessária na Igreja Diocesana. Vale mais na atualidade aquilo que nós testemunhamos do que aquilo o que nós pregamos. Esta afirmação foi feita, recentemente, pelo Papa Francisco no Vaticano a um grupo de peregrinos de uma Diocese de Itália: “Vale mais na Igreja o que nós testemunhamos do que o que nós pregamos” É verdade!

Temos bons documentos na Igreja em geral e na nossa Diocese, ricas análises, discursos, homilias, escritos, sermões que dizem tudo o que se deve fazer. Nós padres somos os primeiros a fazer assim.

Se a vida da nossa Diocese não for um testemunho de fraternidade entre todos e entre nós padres; se a vida litúrgica e de piedade não irradiarem força de santidade; se o nosso trabalho cultural e social for uma mera execução de programas, de protagonismos e exibicionismos; ninguém tomará a sério a nossa Igreja e nós padres não seremos os humildes servos da vinha do Senhor que todo o povo espera encontrar.

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