Em Santa Luzia do Pico o céu desceu à terra

Foto:Igreja Açores/Ouvidoria do Pico

Cerca de cem figurantes interpretam e recriam Auto de Natal, retomando iniciativa desenvolvida pela primeira vez em 1953

A noite do dia de Reis ficará gravada a “letras de ouro” na freguesia e paróquia de Santa Luzia do Pico, onde cerca de uma centena de figurantes levou à cena um majestoso Auto de Natal, assistido por várias centenas de pessoas que naquela noite se dirigiram ao largo da Igreja daquela pitoresca localidade da costa norte da ilha do Pico, informa uma nota enviada ao Igreja Açores.

“Recordando os autos que ali se realizaram nos anos de 1953, 1962 e 1992, agora em 2024, pela quarta vez foi representado este o Auto de Natal, promovido por um dinâmico grupo de residentes e naturais de Santa Luzia, que desde há quatro meses têm vindo a preparar e ensaiar esta magnânima interpretação” refere a nota.

Composta por quatro quadros, desde o salão paroquial ao largo posterior à Igreja, com a narração dos padres Tomás Brito e Marco Martinho, as bíblicas cenas envolventes ao nascimento do Menino Jesus, foram-se desenrolando perante os olhares penetrantes da enorme moldura humana.

Os quadros e o texto usado nos diálogos dos vários intervenientes retomam ao primeiro auto realizado no ano de 1953, numa adaptação do livro “Mártir do Gólgota” de Enrique Perez Escrich, escritor romancista e dramaturgo espanhol do século XIX, numa iniciativa de um grupo de paroquianos de Santa Luzia liderado pelo seu amado Pároco de então, o saudoso padre José Mendonça, sendo ensaiador o querido filho da terra padre Adolfo Ferreira.

A noite iniciou-se com a passagem de José e Maria, que se encontrava para ser mãe, sentada num burrinho, batendo às portas das moradias de Belém, que se fechavam uma a uma porque não havia lugar para eles na hospedaria. Após a passagem do jovem casal desvendou-se o quadro dos pastores, que vestidos a rigor, com os seus bordões na mão aqueciam-se de roda de uma fogueira. Reclinados sobre fardos de palha acordam sobressaltados com o pregão do Anjo Gabriel que dos céus lhes trazia o anúncio do nascimento do Messias. Acolhendo com alegria a boa nova trazida pelo anjo, os pastores cantando partiram em direção à lapinha de Belém.

Seguidamente defronte do coreto abriu-se o pano do segundo quadro com a nobre sala do palácio do Rei Herodes, que acompanhado pelos seus servos e o seu exército, acolheram a chegada a Jerusalém dos Magos vindos do Oriente, guiados por uma estrela. Herodes e a sua corte ficaram em sobressalto com as palavras que os ilustres visitantes lhes transmitiram sobre o nascimento do Rei dos Judeus. Atormentado por tal notícia Herodes é consolado pelas danças e cantares das suas concubinas.

Já no largo posterior à Igreja paroquial, lá ao longe ouvia-se o cantar dos pastores que se dirigiam apressadamente para a gruta de Belém e pelo caminho iam anunciando a boa notícia que o anjo lhes trouxe sobre aquele Menino. No caminho dos pastores ergueu-se o terceiro quadro com a Fonte do Profeta Elias, onde os Árabes receberam destes o feliz anúncio que os levara a deixarem as suas pastagens e calcorrearem as campinas de Belém pelas estradas que à gruta do presépio conduziam. Cantando os pastores para lá se dirigiram para adorar aquele Menino e entregar-lhe as suas humildes ofertas.

O último quadro recriou a simples gruta, estábulo de animais, que se tornou a mais bela habitação da terra, coroada por uma multidão do exército celeste que com as suas vestes de intensa candura angelical, fizeram resplandecer o Menino Jesus deitado na manjedoura, para ao qual se dirigiram os pastores e em rima ofereceram-lhe os seus presentes, juntando-se a estes dezenas de figurantes que também vestidos de pastores subiram à gruta para em rima entregarem ao Menino as suas ofertas, que depois do espectáculo foram arrematadas no salão paroquial, a favor das despesas inerentes a esta representação. Saliente-se que de entre estes figurantes alguns deles representaram nos três autos anteriores, estando presente uma anciã com 96 anos, que no primeiro auto de 1953 tinha sido o anjo anunciador.

A cena final completou-se quando uma cintilante estrela se aproximou do presépio guiando os magos montados a cavalo, que aos pés do Menino deixaram os seus tesouros.

(Com o Padre Marco Martinho)

 

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