Monsenhor José Constância fala num momento de “profundo significado eclesial”
A primeira visita pastoral que D. Armando Esteves Domingues iniciará este sábado nas Flores reveste-se para a ilha de um “significado eclesial profundo” afirma o atual ouvidor, Monsenhor José Constância, numa entrevista ao Sítio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo na Antena 1 Açores e no rádio Clube de Angra.
“Não é um acontecimento pastoral mas eclesial profundo; é para as Flores como será para cada uma das ilhas onde se realizar uma visita pastoral. Diria mesmo que se trata de um acontecimento único, desde logo pela sua periodicidade- de cinco em cinco anos- mas pelo facto do Senhor Bispo ter escolhido este lugar para iniciar as visitas do seu episcopado” refere o sacerdote que sairá das Flores a meados de outubro depois de um ano de trabalho junto da comunidade católica mais ocidental da Europa.
“Entendemos esta primazia como um consolo também por sermos uma ilha mais afastada” refere ainda lembrando que o modelo proposto pelo bispo de Angra também permitirá “uma comunhão e um contacto real com a vida concreta das comunidades”.
“Deve ser um momento de avaliação, de crescimento evangélico e de compromisso comunitário. Um momento de avaliação quer dizer um momento de balanço. Não como uma empresa humana, mas vendo os aspetos positivos os sinais através dos quais o Reino cresceu e dizendo: Que bom! Encarando de frente os fracassos, os aspetos negativos e afirmando: que pena! Tentando tirar lições e trabalhando para o futuro com a expressão: E que tal, que vamos fazer?”, afirma o sacerdote que quer uma igreja local “comprometida”.
“A Visita Pastoral deve ser também um momento de compromisso: que podemos e devemos fazer para que a nossa Ouvidoria, na nossa Diocese, seja aberta a todos e formada por todos, verdadeiramente sinodal” esclarece.
Deste ano em que esteve ao serviço da comunidade florentina, Monsenhor José Constância salienta a existência de um catolicismo ainda muito arreigado à tradição e, por outro lado, algum “desapego e indiferença” por parte das gerações mais novas, que “não deixando de ter necessidades espirituais optam por outros caminhos”.
“O religioso já não está no centro da vida; o Cristianismo Católico é maioritário mas florescem outras realidades a que temos de estar atentos para compreender e agir” refere.
Um dos aspectos a merecer atenção, diz o sacerdote, é a pastoral da mobilidade humana dado que a ilha regista uma presença internacional muito significativa, não só por via do turismo mas também porque muitos estrangeiros se têm ali fixado.
“É uma ilha de presença internacional. O turismo traz muita gente e de maio a outubro a ilha é diferente pelo tempo e pela chegada e partida de tanta gente. A ilha parece que se transforma num laboratório de vivência humana e também religiosa e isso carece de atenção por parte da Igreja”, diz.
“Nesta babel de contactos sempre tem a presença humana de muitos cristãos que acolhem, mas do ponto de vista organizativo não temos uma pastoral da mobilidade humana devidamente organizada”, lamenta.
“Temos que nos organizar melhor e perguntar qual o modelo de Igreja aqui e agora durante todo o ano e como podemos beneficiar e dialogar com estas novas realidades resultantes da mobilidade humana”, conclui.
Por outro lado, o sacerdote, que é diretor do Instituto Católico de Cultura, lamenta que a doutrina e a moral ainda sejam “passadistas” desafiando todos a “uma reflexão sobre o modelo eclesial da ilha”. De há década e meia a esta parte, a ilha está juridicamente organizada numa ouvidoria gerida in solidum por três sacerdotes e um diácono, mas para Monsenhor Constância falta fazer a integração dos leigos para além da lógica sacerdotal.
“Nós temos a nomeação in solidum dos padres, mas o grande desafio era colocar o povo também in solidum e das experiências mais recentes resulta uma abertura, mas não obstante todo este trabalho, que resultou na recuperação patrimonial de muitas igrejas, não sei honestamente se daí resultou um maior envolvimento do povo de Deus” refere apontando para várias fases deste modelo nem todas igualmente conseguidas.
“As visitas pastorais não são ponto de chegada; entramos numa nova fase de renovação pastoral, é um ponto de partida e o caminho para chegarmos a uma Igreja Povo de Deus está a ser trilhado” refere ainda, defendendo também uma maior proximidade entre o centro da diocese e as ilhas mais pequenas.
“A grande saída evangélica é colocar a Igreja das Flores, sobretudo, nas mãos dos Leigos e Leigas”, conclui.
A entrevista de Monsenhor José Constância pode ser ouvida na integra no programa de Rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo na Antena 1 Açores e no rádio Clube de Angra.