“Estar a gerir o dia-a-dia sem horizonte temporal foi a maior dificuldade”

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Cónego Hélder Fonseca Mendes alerta para uma certa contradição entre a doutrina conciliar e o conceito de sede vacante

Teologicamente falando a noção de sede vacante “não bate certo” com a Teologia conciliar e muito menos com esta ideia de sinodalidade e corresponsabilidade dentro da Igreja afirma o cónego Hélder Fonseca Mendes, que cessa funções de Administrador Diocesano 14 meses depois da sua eleição pelo Colégio de Consultores, após a saída de D. João Lavrador para Viana do Castelo no final de novembro de 2021.

“É uma questão muito antiga, que os Açores viveram por muitas vezes, a mais antiga foi durante 33 anos, durante o período filipino, mas na verdade não estamos preparados para a sede vacante e, teologicamente falando, a sede vacante nem bate certo com a teologia conciliar sobretudo a que vai de Paulo VI até aos dias de hoje” afirma o sacerdote.

“Quando uma diocese entra em sede vacante todos os seus órgãos caem, isto é, o bispo sai e desmancha-se tudo”, quando na verdade “era nessa altura que esses órgãos seriam mais importantes para aconselhar e orientar nas decisões” refere o sacerdote que serve na diocese há 34 anos, repartidos entre a direção do Serviço de Catequese e a vigararia-geral, tendo desempenhado o lugar de Vigário-geral junto de dois bispos, D. António de Sousa Braga e D. João Lavrador, com quem diz ter “aprendido muito”.

“Quando é mais preciso o apoio de todos cai tudo; há um desfasamento entre a doutrina do concílio, o que se defende na sinodalidade e a sede vacante; é um tempo de gestão e por isso fica difícil planear” afirma.

Na hora em que deixa o governo da diocese, ainda que com poderes limitados, o cónego Hélder Fonseca Mendes lembra que procurou ser “próximo” visitando ilhas, contactando pessoas dentro e fora da Igreja, num tempo que enfrentou a maior dificuldade de todas: “tenho problemas em lidar com o que não é programado ou imprevisto e isso limitou-me”.

Na entrevista que vai para o ar na íntegra este domingo, depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, o pároco da Sé reconhece que foi um período em que “tudo foi novo para todos, incluindo para mim”

“A diocese não para e foi necessário responder a algumas necessidades” afirmou elencando várias das iniciativas que tomou, das visitas que efetuou e das pessoas que procurou consolar. Elege a morte de D. António de Sousa Braga como um momento de especial comoção.

“Foi um momento de  grande tristeza não só porque tinha morrido o bispo mas porque era também um irmão. Foi um momento doloroso, tal como a morte do padre Cipriano”, acrescentou lembrando igualmente a Crise Sísmica de São Jorge e a visita do Núncio à Região, durante a Semana Santa.

Questionado sobre a diocese que deixa ao novo bispo responde: “A diocese que temos, no mundo que temos, com a história e as dificuldades que temos e os desafios que temos;  da evangelização é o maior de todos” afirma lembrando ainda o desafio do combate à pobreza estando ao lado dos pobres e a necessidade de comunicar o Espírito de Deus aos batizados.

Quanto à oportunidade  de poder ser bispo responde: “Não sei se estava preparado; estava no dia-a dia-a dia a trabalhar; poderia ser uma possibilidade, mas se estaria preparado? … Acho que não. Lendo a obra de São Gregório Magno, acho que não, não estaria preparado, porque é uma missão muito grande, com muita responsabilidade. Cuidar da vida espiritual própria e do governo  parece-me bastante difícil. Por isso de alguma maneira também saio descansado de não ficar com esse cansaço e essa responsabilidade”.

A entrevista ao Administrador Diocesano vai para o ar este domingo no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio-dia, e pode ser ouvida aqui, na íntegra.

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