Faial festeja Dia dos Pobres e centenário da Festa de Santa Cecília: “uma sadia provocação para nos ajudar a refletir sobre o nosso estilo de vida e as inúmeras pobrezas da hora atual”

Administrador Diocesano presidiu à festa da santa mártir que é patrona dos músicos

O cónego Hélder Fonseca Mendes desafiou esta manhã os faialenses, participantes na Eucaristia que assinalou o centenário da Festa de Santa Cecília na Horta, a aproveitar o Dia Mundial dos pobres, que se celebra este domingo, para fazer um exame de consciência sobre o “estilo de vida”, interrogando-se se a “pobreza de Jesus é a fiel companheira”.

“O Dia Mundial dos Pobres faz-nos uma sadia provocação para nos ajudar a refletir sobre o nosso estilo de vida e as inúmeras pobrezas da hora atual” afirmou o sacerdote lembrando algumas das ideias da mensagem do Papa para este dia, na qual fala da experiência da fragilidade e da limitação, impostas pela pandemia, mas também da pobreza que mata e humilha, na experiência da guerra e de uma cultura do descarte.

“Oxalá este Dia Mundial dos Pobres se torne uma oportunidade de graça, para fazermos um exame de consciência, interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel companheira de vida” afirmou o sacerdote tecendo um paralelismo entre a liturgia proclamada neste 33º Domingo do Tempo Comum e a vida de Santa Cecília, que ciente do amor de Deus, a ele tudo sacrificou.

“Trata-se de uma exortação à perseverança e à vigilância, ao discernimento contra a alienação e o engano, para que não nos deixemos tomar pelo medo e pela angústia” afirmou o cónego Hélder Fonseca Mendes, a propósito da liturgia que nos aponta para o fim dos tempos mas sem cedências às tentações apocalípticas, pois a preocupação não é fim do mundo mas a coragem de viver o presente.

“Celebramos a Eucaristia `enquanto esperamos a vinda gloriosa vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo´. O nosso destino está no futuro e chama-se Deus. O futuro já está no hoje de cada dia. Por isso não vivemos na ociosidade, mas na luta e no trabalho, por construir uma nova criação, novos céus e nova terra, onde habite a justiça e a paz”, afirmou.

“A perseverança que salva a alma não é nada de intimista, mas um ato de responsabilidade histórica de quem ousa pensar o futuro para além e depois de si. Longe de ser sinal de um pretenso fim do mundo iminente, estes acontecimentos são compreendidos como ocasião de martiria, isto é, de testemunho”, afirma o sacerdote.

Centrando-se na figura que a igreja faialense hoje celebra- Santa Cecília-, o cónego Hélder Fonseca Mendes percorreu a sua história de santidade para elogiar o desprendimento total de Cecília a Deus e a valia do seu testemunho que levou à conversão do marido e de tantos cristãos, inspirando músicos e compositores, em especial no Faial onde a festa se realiza há um século.

“Estamos diante de um testemunho vivo, de homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, que ao longo destes 100 anos, não só fizeram com prazer coisas belas através da música, como tornaram belas a suas vidas pela graça de Deus, tal como Cecília, sempre a cantar «um cântico novo» até à morte”, afirmou.

“A partilha do saber, o tocar juntos, cada um o seu papel na harmonia de um todo – tal como a verdade que é sinfónica – faz-nos mais ricos, com o sentido de precisarmos uns dos outros, para que na diferença de cada um, com as mesmas chaves de leitura, a comunhão aconteça”, terminou.

A partir das 19h30 terá lugar a sessão solene evocativa deste centenário que terá um momento evocativo pelo maestro José Amorim Carvalho, seguido do concerto de órgão pelo Organista titular da Sé Patriarcal de Lisboa, professor António Duarte e a inauguração da Exposição “O Martírio do Cristianismo” no Museu de Arte Sacra da Horta, com uma conferência do padre Pedro Lima, professor de Teologia Dogmática no Seminário Episcopal de Angra. Esta exposição estará patente ao público até dia 25 de novembro e reunirá um conjunto de imagens de santos mártires.

Santa Cecília é uma santa cristã, padroeira dos músicos e da música sacra, que no Faial tem particular destaque tendo a sua festa sido pretexto para várias formações no âmbito da música sacra e coralista envolvendo coros e maestros reputados, como foi o ano passado com a presença de Rui Baeta.

A evocação da música prende-se com o facto de Santa Cecília ter cantado a Deus antes de morrer. Não se tem muitas informações sobre a sua vida, estimando-se no entanto que o seu martírio terá acontecido entre os anos de 176 e 180, durante o império romano de Marco Aurélio. Santa Cecília é a santa da Igreja Católica que mais está representada nas igrejas de Roma e é uma das santas mais veneradas na idade média, segundo a história da Igreja.

Um facto curioso é que o seu corpo foi encontrado incorrupto no ano de 1599.

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