Folia do Carnaval precede tempo de jejum e penitência na Quaresma

A Lua liga estes dois tempos assinalados de forma peculiar na diocese de Angra

O Carnaval e a Quaresma são dois tempos da vida de um cristão intimamente ligados e determinados pela Páscoa que é sempre celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se siga ao equinócio da primavera, no hemisfério norte, pelo que o carnaval acontece entre 3 de fevereiro e 9 de março, sempre 47 dias antes.

Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica promoveu alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma.

Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.

Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espectáculos de carácter cómico.

No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.

Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma.

A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico.

Na diocese de Angra, o Carnaval reparte-se entre os bailes nos grandes salões, como o Coliseu Micaelense (Ponta Delgada), a Sociedade Amora da Pátria (Horta) ou os salões da sociedades filarmónicas, um pouco por todas as ilhas, e os desfiles trapalhões, mas é sobretudo na Terceira  que o Entrudo se vive de forma mais especial, com as danças e bailinhos de carnaval. A tradição está neste momento a ser valorizada pelos responsáveis regionais da Cultura que inscreveram esta prática no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial desde o passado dia 17 de fevereiro.

De amanhã até terça-feira mais de 30 salas de espetáculos da ilha Terceira, nos Açores, recebem centenas de músicos e atores amadores, que atuam de forma gratuita, madrugada dentro, em manifestações de teatro popular com crítica social, intercalados com música e coreografias, a que chamam de danças de pandeiro ou de espada, bailinhos e comédias.

Quarta feira, dia 26 de fevereiro,  enterra-se o entrudo e começa a Quaresma que é um período de 40 dias. A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dos únicos dias de jejum e abstinência obrigatórios.

O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos; a abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre.

A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma, mas pode ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, com um carácter penitencial.

Nos primeiros séculos, apenas cumpriam o rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa.

A partir do século XI, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma.

Na Liturgia, este tempo é marcado por paramentos e vestes roxas, pela omissão do ‘Glória’ e do ‘Aleluia’ na celebração da Missa.

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