Frades dominicanos orientam formação do clero na Terceira

Frei José Nunes e Frei Bento Domingues falam da importância da pregação, com especial enfoque na homilia

Depois de São Miguel esta segunda feira é a vez do clero da Terceira se reunir na Casa de Retiros de Santa Catarina, em Angra do Heroísmo, para ouvir os frades dominicanos Frei José Nunes e Frei Bento Domingues sobre a pregação.

Trata-se de uma iniciativa da Ordem dos Dominicanos em Portugal que a Diocese de Angra aceitou no âmbito da formação permanente do Clero.

“Nós vamos falar sobre a pregação em geral, em especial da homilia, pois este é o nosso carisma há 800 anos e gostaríamos de partilhar este saber sem sobranceria e cientes de que  há gente que não é da ordem dominicana e que até pode pregar melhor que nós, mas sempre temos alguma experiência acumulada”, disse ao Sítio Igreja Açores Frei José Nunes.

A iniciativa,  que se insere num vasto programa comemorativo dos 800 anos da ordem dos Dominicanos em todo o mundo, a assinalar em 2016,  resultou de uma decisão do capitulo geral, que se realizou em Roma em 2010 e visa “reavivar a chama da pregação” através de escolas ou cursos gerais de pregação.

“Quem prega tem que ter uma familiaridade muito grande com a palavra de Deus; temos que fazer Lectio Divina porque é preciso estudar, aprofundar e depois saber transmitir, de acordo com as leis da comunicação; é preciso buscar imagens e isso dá muito trabalho”, refere o Frei José Nunes.

É o caso da homilia onde a mensagem tem que “ser clara, apelativa e direta” de forma a que as pessoas estejam atentas e “retenham” qualquer coisa.

“A palavra de Deus é sempre a mesma mas a vida das pessoas muda”, sublinha o sacerdote lembrando que, na preparação de uma homilia, a par do conhecimento da palavra também tem de “se escutar o povo”.

“Nós cristãos temos de ter dois documentos na mão: a Bíblia e o jornal”, diz Frei José Nunes, citando um frade dominicano francês, pois “só se consegue fazer uma boa pregação, uma boa homilia se estivermos contextualizados com a realidade. Se não olharmos à volta e não virmos o que se passa e fizermos uma interseção entre a palavra de Deus e a vida nunca faremos leituras crentes da fé”.

Para Frei José Nunes, hoje os fieis estão “mais exigentes” e como “não podemos ter um saber enciclopédico” temos “o dever de comunicar com outras ciências que nos auxiliam na pregação”.

“Temos de saber dialogar com o mundo da estética, das artes, da economia, da filosofia de todos os outros saberes, em geral, pois se nós não tivermos esta dimensão, não conseguiremos ler a realidade e ficaremos sempre aquém, sem sabermos falar a linguagem do nosso tempo”, refere o responsável pela formação sublinhando que “esse é o grande desafio da homilia: falar a partir das linguagens de cada tempo e de cada contexto, olhando sempre para a realidade concreta”.

E, depois , “é levar uma palavra de esperança- o primado da Graça- porque as pessoas não querem recados; estão muito mais disponíveis para uma palavra positiva”, conclui lembrando que esta “formação” já passou por seis dioceses portuguesas.

Os irmãos pregadores, mais conhecidos por irmãos dominicanos, estão hoje dispersos por mais de cem países e são cerca de 6000 em todo o mundo.

À semelhança de S. Domingos dedicam-se fundamentalmente à pregação. Vivem em comunidades cujo ritmo de vida é fundamentalmente cadenciado pela celebração da liturgia – Eucaristia e Ofício Divino – e pela dedicação assídua ao estudo, comprometendo-se a viver em todas as circunstâncias os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência.

A data oficial da sua fundação é 22 de Dezembro de 1216. Porém, como realidade viva, os irmãos pregadores começaram já a existir desde que S. Domingos, em 1215, começou a reunir à sua volta alguns discípulos.

A ordem tem também elementos femininos. As monjas dedicam-se totalmente à oração e ao louvor, alimentadas pela Palavra de Deus na celebração, no estudo e no silêncio da Lectio Divina e toda a sua vida é modelada pela busca de Deus.

Em Portugal há três Mosteiros autónomos de Monjas Dominicanas Contemplativas: Lisboa, Fátima e Lamego.

O laicado dominicano é também muito ativo. Alguns destes leigos, são movidos pelo Espírito Santo a realizarem uma vida segundo o espírito de S. domingos e reúnem-se em comunidades laicais (fraternidades, equipas, etc.) constituindo, com os outros grupos dos vários ramos uma só Família Dominicana.

Participam da missão apostólica da Ordem dos Pregadores pelo estudo, pela oração e pela pregação, segundo a sua própria condição de leigos.

Existem, ainda, as irmãs dominicanas de vida ativa, que em Portugal estão distribuídas por quatro comunidades de vida apostólica: lrmãs Dominicanas Irlandesas; Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena; Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário e Irmãs Missionárias Dominicanas de S. Domingos.

Ao todo existem 70 frades em três conventos e duas casas; 23 monjas em três mosteiros, cerca de 200 freiras distribuídas por quatro congregações e 500 leigos em 17 fraternidades.

 

 

 

 

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