Frei Bento Domingues diz que ninguém pode calar o direito à indignação

No arranque da 19ª semana semana bíblica diocesana dos Açores, as revelações da Bíblia foram transpostas para a atualidade. O frade dominicano utilizou várias parábolas para dizer que temos uma “governação que nos despreza”.

A Bíblia não é um livro cientifico mas é a literatura de um povo e foi essa literatura que ajudou esse povo a ter esperança, disse Frei Bento Domingues na abertura da 19ª semana bíblica diocesana dos Açores que arrancou esta segunda feira à noite na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Ponta Delgada.

“Temos de acreditar que Deus não morreu e que nos vai ajudar rumo a novos céus e a novas terras”.

A partir do tema “Fé e Revelação”, Frei Bento Domingues apresentou a Bíblia como um livro que tem uma imensa atualidade e aproveitou para apontar os paralelismos que existem entre as escrituras e a vida contemporânea.

“Tal como o senhor perguntou a Caim o que tinha feito ao Irmão, também nós temos de perguntar aos nossos governantes o que estão a fazer ao povo”, disse Frei Bento Domingues para de, imediato, encontrar outro paralelismo entre a sagrada escritura e os tempos de hoje.

“A história do capitalismo selvagem é antiga. `Os que muito têm muito lhes será dado; os que nada têm com nada hão de ficar´. O que é isto senão a antevisão do capitalismo selvagem que vivemos em que os mais fortes exploram os mais fracos”, adiantou Frei Bento Domingues, lembrando a cada passo da sua intervenção que “não há palavras inocentes” mas sim “fundamentalismos” que pretendem justificar algumas atitudes e comportamentos.

Tal como Jesus demorou tempo a converter-se também os homens, “pela sua natureza finita demoram” , mas “não devem ter medo de perguntar, de ter dúvidas”, disse o teólogo, porque além de fazerem parte da sua condição são a “única oportunidade para aprofundar a fé”.

“O direito à indignação” e a “revelação profética de que há outro caminho” é, por assim dizer, “uma esperança que nos dá aquela energia virtuosa” para progredir, adiantou ainda o teólogo.


“No dia em que desistirmos de sermos nós, de ir ao encontro dos outros e da nossa história passamos a ateus retintos ou seja passaremos à condição de ignorantes”, concluiu o frade dominicano, que assina semanalmente uma coluna de opinião no Jornal Público.

A Bíblia deve ser, por isso, “uma fonte de inspiração para novas escrituras adaptadas à realidade dos nossos dias que leiam, interpretem e mudem o mundo”.

Frei Bento Domingues é um dos três oradores convidados para esta semana de formação e discernimento bíblico, conjuntamente com Frei Herculano Alves e Pe Ricardo Henriques, Professor no Seminário Episcopal de Angra.

Na sessão de abertura o Vigário Episcopal para São Miguel, Pe Cipriano Pacheco, que também intervirá no encerramento da semana bíblica som uma reflexão sobre o “Átrio dos Gentios, diálogo entre crentes e não crentes, aproveitou para dizer que a temática proposta para esta semana – Palavra, Fé e Vida- é muito “atual” porque o grande desafio, sobretudo agora que terminou o Ano da Fé, é justamente “passar a palavra de Deus para a vivência dos homens”.

Durante a semana serão abordados temas como “A Fé na Vida e na História do Povo de Deus”; “Jesus Cristo Autor e Consumador da Fé”; “A fé em tempos de crise no povo bíblico e hoje” e, terminará, na sexta feira com uma dissertação sobre o “Átrio dos Gentios, diálogo entre crentes e não crentes.

A 19ª semana bíblica diocesana dos Açores é uma organização conjunta do Secretariado Secretariado Bíblico de São Miguel, em colaboração com a Diocese de Angra e o Movimento de Dinamização Bíblica Nacional.

Scroll to Top