A cerimónia, que contou com uma conferência do jovem padre Pedro Lima, destacou o papel determinante que o sacerdote teve na vida espiritual, social e cultural da ilha do Faial e da História dos Açores
“O Padre Júlio fez da sua vida o trabalho; foi um homem completo, que agarrou a vida para saber viver”, afirmou esta manhã o padre Pedro Lima, o conferencista convidado pela Fundação Mater Dei que assinalou este sábado o décimeo aniversário da morte do seu fundador, o padre Júlio da Rosa, sacerdote faialense que serviu a paróquia das Angústias e a ilha do faial durante cerca de 60 anos.
Na sua intervenção, o padre Pedro Lima descreveu Monsenhor Júlio da Rosa como um sacerdote “com coração de pai”, alguém que soube viver de forma diferente “num mundo de fotocópias e modas”, enfrentando incompreensões, mas mantendo-se firme na missão. Recusou canonizá-lo ou transformá-lo em figura idealizada: “Não apresento uma biografia, apresento um exemplo — o de um pai espiritual, quase como um avô que entra em casa e quer deixar um legado.”
O presbítero, licenciado em Teologia Dogmática pela Universidade Gregoriana de Roma e que se encontra, neste momento, a servir em Angra na paróquia de Santa luzia e também no continente como assistente da Pastoral Operária, destacou ainda o caráter visionário do sacerdote: um homem avançado no seu tempo, profundamente marcado pelo espírito do Concílio Vaticano II, atento ao mundo cultural e artístico, sempre preocupado com os jovens e otimista quanto ao futuro.
“O futuro é promissor”, recordou das palavras do homenageado.
“O padre faz o povo e o povo faz o padre”, acrescentou, citando a visão crítica mas construtiva que Júlio da Rosa mantinha sobre a própria Igreja.
Esta foi a segunda grande iniciativa da Fundação Mater Dei ao sacerdote que foi seu fundador : no ano passado, a instituição celebrou o centenário do seu nascimento. Criada pelo próprio em 1997, a fundação assume hoje como missão divulgar a História dos Açores e combater “a falta de memória” de personalidades que contribuíram para o seu desenvolvimento.
O presidente da fundação, o historiador Carlos Lobão, sublinhou que o Padre Júlio da Rosa procurava a sabedoria “como dom de Deus” e fez da solidão “o horizonte que permitiu olhar em frente”. Recordou que o sacerdote cultivou uma vida de estudo, serviço e fortalecimento da comunidade, tornando-se um dos grandes vultos da história coletiva açoriana.
Entre os testemunhos emocionados esteve o de João Azevedo, anfitreão que acolheu no seu espaço a homenagem, que afirmou: “O Padre Júlio fazia parte da nossa família.” Uma frase que, segundo vários presentes, reflete a proximidade e a marca deixada pelo sacerdote em sucessivas gerações da ilha.
A cerimónia evocou também o testamento espiritual de Júlio da Rosa, com destaque para a novena de Natal estruturada por ele: o desejo de Deus, o desejo de Maria antes da Anunciação, o horizonte escatológico da vida cristã e a mensagem do presépio, “onde há lugar para todos”.
No evento foi ainda apresentada a evolução do projeto da sede da Fundação — agora Casa Monsenhor Júlio da Rosa — com 800 m² e uma biblioteca em construção, preparada para acolher 192 metros lineares de acervo documental. O edifício integra um terreno de dez alqueires que se estende até à estação meteorológica da Horta e inclui dois fornos de cal que deverão ser recuperados. As doações ao espólio continuam a chegar à fundação.
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