Igreja devia aproveitar celebração dos Santos Populares para evangelizar

Opinião de Maduro Dias foi expressa ao programa de Rádio Igreja Açores

As festas dos Santos Populares são momentos “únicos” na vida das populações açorianas que “devem ser aproveitadas pela Igreja para evangelizar”, de acordo com “novos enquadramentos e orientações”, disse ao programa de Rádio Igreja Açores o historiador Francisco Maduro Dias.

A menos de 24 horas da celebração do primeiro dos três santos populares- Santo António, São João e São Pedro-, vividos com muito fervor no arquipélago, e que abrem o tempo das festas de verão em honra dos padroeiros, o investigador lembra que a Igreja “deve encontrar formas de cristianizar em vez de querer impor o que que quer que seja”.

“Estas festas constituem um momento propicio de afirmação da mensagem cristã, e a pretexto delas, poderíamos fazer uma mais intensa e eficaz catequese” precisa o historiador que lamenta a ”tentação da igreja em criticar mais determinadas práticas do que em encontrar alternativas”.

“É uma questão de acrescentar mais. Temos o Santo António da Grota do Monte Brasil, desde o século XVII; temos o São João em Angra e o São Pedro na Silveira… mais do que encontrarmos pontos de separação entre igreja e sociedade devemos procurar pontos de união, aumentando o grau de complexidade intelectual da divulgação e vivência destes santos”, refere ainda o investigador.

“A igreja também deve ter esta função de enriquecer os raciocínios que estejam disponíveis para pensar” acrescenta.

A relação da igreja com a piedade popular tem sido tema de análise e reflexão tanto do lado do clero como dos leigos, tendo ambos já reconhecido que será necessária uma crescente evangelização da piedade popular mas que ela cumpra também uma das suas “promessas” de ser evangelizadora.

Há cerca de um ano D. José Cordeiro, responsável pelo Secretariado Nacional de Liturgia numa nota pastoral escreveu que o dia da festa do padroeiro “não pode ser um dia de evasão” e deve ser integrado no “dinamismo da evangelização”.

D.José Cordeiro realçou que em determinados locais as festas “transformam-se em simples entretenimento” e com “outros interesses comerciais e lúdicos e não tanto a vivência cristã”.

O  prelado que, recentemente, escreveu uma nota pastoral sobre «O sentido autêntico das festas cristãs» sublinha que a parte do convívio e da relação é “extremamente importante”, mas “não nos podemos servir dos santos ou dos padroeiros para outros fins”.

A piedade popular é “um enorme tesouro na vida da Igreja”, mas são “necessários novos enquadramentos e orientações”, apelou D. José Cordeiro.

50 anos depois da «Sacrosanctum Concilium» (Documento conciliar sobre a Liturgia), estas normas ainda não entraram na dinâmica eclesial porque falta “o sentido autêntico” da festa cristã.

É preciso uma “formação permanente dos leigos” e, de um modo especial, “das pessoas que estão nas comissões e nas mordomias”, acrescentou o bispo de Bragança-Miranda.

Para D. José Cordeiro, as festas “não podem ser uma coisa desligada do Ano Litúrgico” e o seu programa “deve ser harmonioso”.

Com a celebração da festa de Santo António dá-se inicio nos Açores às chamadas festas de verão, em que para além dos santos populares muito celebrados em todas as ilhas,  celebram os padroeiros.

Os três santos festejados em junho foram três testemunhas de Jesus Cristo, cada um à sua maneira: um frade do século XIII que assombrou o mundo com a sua sabedoria; um profeta publicamente elogiado por Jesus, que pagou com a vida o seu testemunho acerca da Verdade e um pescador, apóstolo de Jesus, cheio de audácias, de cobardias e de fé, a quem Jesus fez seu representante.

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