Igreja alerta para a “urgência” de respostas “mais efetivas” aos problemas de saúde mental nos Açores

Dia Mundial da Saúde Mental assinala-se amanhã

Os poderes públicos “têm de investir mais” nos problemas da saúde mental, não só “ao nível do tratamento mas também da prevenção”, alerta o presidente do Centro Paroquial de Bem Estar de São José, em Ponta Delgada, que promoveu esta semana, o IV Roteiro da Saúde Mental nos Açores.

A iniciativa, feita em parceria com o Instituto São João Deus- Casa de Saúde de São Miguel, o Instituto das irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus- Casa de Nossa Senhora da Conceição e a Associação para a Promoção da Saúde Mental (ANCORAR)- decorreu esta semana, em São Miguel, com a realização de workshops dedicados á saúde mental, envolvendo especialistas, técnicos e familiares de pessoas portadoras de doença mental.

“As doenças mentais geram desamparos na sociedade, não só junto dos doentes mas dos seus familiares que nâo tem apoio de retaguarda e isso exige da parte dos governos uma atenção muito especial”, disse ao Sítio Igreja Açores o Presidente do Centro Paroquial de Bem Estar Social de São José, Pe Duarte Melo, em jeito de balanço deste Roteiro.

“O nosso objetivo foi provocar a reflexão pública sobre a saúde mental e despertar a consciência cívica quer da comunidade quer dos poderes instituídos”, precisou o sacerdote recordando que muitas destas doenças “são reflexo de uma sociedade pouco humanizada e centrada em determinados valores”.

De acordo com o sacerdote, que é também o responsável diocesano pela pastoral social na diocese de Angra, “qualquer um pode sofrer de doença mental” e estas doenças “acarretam sempre grande sofrimento e nós temos de agir”.

Por isso, durante os workshops, em que participaram vários especialistas que sublinharam a “escassez de meios” para tratar e acompanhar estes doentes e os seus familiares, ficou o alerta sobre a necessidade de se criar uma rede de suporte domiciliário que atendesse “sobretudo as famílias”.

Trata-se de uma realidade já em prática no continente português e que “deveria ser implementada na região” através da criação de equipas multidisciplinares disse, por outro lado, Vitória Furtado, psicóloga do Centro Paroquial e Bem Estar Social de São José que faz o acompanhamento de doentes na Vila Azálea, em Ponta Delgada..

É a única instituição de retaguarda que acompanha doentes mentais estabilizados mas que não têm suporte familiar. De resto, na região, excluindo os três hospitais- Horta, Ponta Delgada e Terceira- que tratam a doença em fase aguda, o tratamento, acompanhamento e institucionalização dos doentes mentais é feito por dois institutos religiosos- Irmãos de São João Deus (homens) e Hospitaleiras do sagrado Coração de Jesus (mulheres)- que gerem as quatro casas de saúde que existem em São Miguel e na Terceira.

“Há ilhas que estão completamente desprotegidas e não podemos ficar de braços cruzados”, diz o Pe Duarte Melo que destaca que o “grande desafio é criar redes complementares a partir das estruturas já existentes, sem aumentar custos, para responder às exigências do momento, que são cada vez maiores”.

E dá como exemplo os Centros de Saúde que “poderiam atuar mais neste campo da saúde mental”.

Vitória Furtado vai mais longe e lembra que também é necessário criar Centros de Atividades Ocupacionais.

“Os CAO´s são muito importantes e constituem uma resposta ao problema de muitas famílias que não sabem como lidar com esta doença”, diz a psicóloga denunciando o “estigma que persiste” quer do doente que recusa ser doente mental quer da própria família. Acresce, ainda, a necessidade de criação de programas específicos para doentes mentais.

“Muitas destas pessoas que possuem doença mental crónica têm de se reformar mas continuam válidas para a sociedade e precisam de ser reintegradas. A ocupação é importantíssima e se puderem ser remuneradas ganham um estimulo ainda maior”, conclui.

Amanhã celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental.

 

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