Igreja/Media: “Temos de aprender a comunicar” – padre Paulo Duarte

Foto: Agência ECCLESIA/OC

O padre Paulo Duarte, sacerdote jesuíta, afirmou esta tarde em Coimbra, no primeiro painel das Jornadas de Comunicação promovidas pela Igreja,  a necessidade do “discernimento” sobre como comunicar e estar nas redes sociais, pedindo maior “formação” para os responsáveis da Igreja.

“Temos de aprender a comunicar”, indicou o religioso.

“Enquanto instituição, deveria haver mais formação na comunicação”, insistiu.

O sacerdote integrou o grupo de missionários digitais e influenciadores católicos que viveram evento inédito do Ano Santo, no final de julho, em Roma.

Em 2013, com a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, deu-se o “boom”, com o começo de várias partilhas nas redes sociais, bem como a sua história pessoal como antigo comissário de bordo, embora refira que a sua intenção seja sempre oferecer “contributos para a reflexão”.

“Se estiver constantemente a expor-me, quem é que eu quero comunicar?”, questionou.

O religioso elogiou a “grande autenticidade” dos Papas Francisco e Leão XIV, que ajuda a passar a mensagem.

“Quando há força de verdade, quando há autenticidade, há uma vontade de estar”, apontou.

O padre Paulo Duarte sustentou a necessidade de “educação para o silêncio”.

“Também estamos a precisar de pausas de silêncio, verdadeiramente, para o equilíbrio”, realçou.

A iniciativa anual do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja decorre este ano em Coimbra, até sexta-feira, sobre o tema ‘Comunicar sem corantes nem conservantes’.

Os trabalhos começaram com uma conversa entre Clara Almeida Santos, que é professora no Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e o sacerdote jesuíta, adjunto do diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal, em torno do tema ‘Ser, parecer ou aparecer: fronteiras na comunicação’, com moderação de Nelson Mateus, jornalista da SIC.

Clara Almeida Santos questionou os presentes sobre o tempo que estão “disponíveis” para ouvir os outros.

“Se está toda a gente a gritar, como é que nos ouvimos uns aos outros?”, questionou, convidando a “sussurrar”, como forma mais “eficiente” de comunicar.

A docente universitária apresentou dados sobre a produção de conteúdos que acontece a cada minuto, na internet, destacando como grandes elementos da transformação mediática “a rapidez e a multiplicidade”.

“Vivemos num tempo em que somos quase obrigados à multiperformance”, advertiu.

A realização de “cada vez mais tarefas” é “incomportável”.

“Temos de nos perguntar, coletivamente, o que estamos a fazer com o tempo”, apelou.

A convidada assinalou que a universidade e a Igreja partilham um “problema de marketing”, por terem um “legado” histórico e querer mostrar uma imagem de “modernidade”.

O Seminário de Coimbra recebe entre hoje e amanhã as Jornadas Nacionais de Comunicação Social 2025.

O presidente da Comissão Episcopal responsável pelas Comunicações Sociais sublinhou a importância de construir “comunidade”, numa mensagem para as próximas Jornadas Nacionais do setor.

“Quero recordar este lugar central da comunicação na nossa vida como seres humanos. Ela distingue-nos, de facto, como seres humanos, permite-nos partilhar as nossas interioridades, aquilo que vai dentro da nossa vida, permite-nos também fazer comunidade”, refere D. Nuno Brás, bispo do Funchal, numa saudação aos participantes.

O diretor da Agência ECCLESIA adiantou, por outro lado, que os trabalhos vão abordar os desafios que surgem num setor marcado pela progressiva digitalização, promovendo o encontro entre profissionais que partilham a mesma “identidade”.

“Diante da opinião pública nós somos todos um, temos todos a mesma identidade, não somos a Diocese A nem a Diocese B, não vale a pena estar a dispersar esforços. Acho que é necessário envolvermo-nos todos nesta causa da comunicação, onde o digital e o humano cada vez se conjugam mais”, indica Paulo Rocha.

“Temos muitos participantes que fazem parte de grupos de comunicação, de congregações religiosas, de movimentos, etc. Há uma aposta grande nesta comunicação e, sobretudo, na partilha de projetos que queremos que se estenda o mais possível a toda a gente”, acrescenta o entrevistado.

Questionado sobre o impacto da Inteligência Artificial na comunicação, Paulo Rocha admite que há “ótimas ferramentas” ao dispor, mas fala no risco de um “artificialismo”, que pode levar ao declínio da “inteligência natural”.

“Ouvimos falar muito de algoritmos, ouvimos falar de manipulações da opinião pública em campanhas eleitorais, mas se calhar não estamos tão despertos para o nosso quotidiano, para as nossas relações”, adverte o jornalista, citado pela Agência Ecclesia.

As Jornadas Nacionais de Comunicação 2025 partem das intervenções do Papa Leão XIV e da última mensagem do Papa Francisco, para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, abordando os desafios do digital e o valor do humano, na área dos media.

Na primeira audiência pública, a 12 de maio, com milhares de profissionais da Comunicação Social que acompanharam o Conclave, Leão XIV sustentou que a comunicação é “criação de uma cultura”, assinalando o impacto da evolução tecnológica, especialmente da inteligência artificial.

Na última mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2025, com o título ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’, o Papa Francisco desafiou os jornalistas a “compromisso corajoso” perante a desinformação.

D. Joaquim Dionísio, vogal da Comissão Episcopal responsável pelo setor dos media, saudou os presentes, no início dos trabalhos, apontando a comunicação como “uma realidade que ajuda na missão de evangelizar”.

“A nossa Igreja também se diz e se mostra graças à vossa palavra, ao vosso empenho e à vossa disponibilidade”, disse o bispo auxiliar do Porto, na abertura dos trabalhos.

(Com Ecclesia)

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