Ilha mais pequena dos Açores é a primeira a honrar o Divino Espírito Santo

 

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Domingos do Espírito Santo começam a ser celebrados este fim-de-semana

O segundo Domingo da Páscoa, designado liturgicamente como Domingo da Divina Misericórdia, marca o arranque das Festas do Divino Espirito Santo nos Açores, com as insígnias- coroa e bandeira- a percorrer as casas das famílias a quem a sorte de O ter em casa, durante uma semana, bateu à porta. No corvo, a mais pequena ilha do arquipélago, as Semanas do Espirito Santo começaram no domingo da Páscoa com uma procissão que precedeu a Missa Pascal, desde a Casa do Espírito Santo de Vila Nova do Corvo até à Igreja Matriz .

“O movimento das coroas e das bandeiras começa logo no Domingo de Páscoa e é nessa altura que se iniciam as Semanas do Espírito Santo em que as famílias O recebem na sua casa e rezam o terço, estando toda a gente convidada” referiu ao Sítio Igreja Açores o padre Aurélio Sousa, que este ano está pela primeira vez a viver esta tradição na ilha do Corvo como pároco.

“No Domingo de Páscoa, antes da Missa, há um cortejo com coroas e estandartes da casa do Espirito Santo até à Igreja e dali seguem para as casas familiares. Em cada domingo até ao que precede o Domingo de Pentecostes, o movimento é semanal”, refere o sacerdote lembrando que a passagem de testemunho se faz no final de cada eucaristia dominical até ao fim de semana antes do Pentecostes.

“Nesse fim de semana as coroas e as bandeiras regressam à Casa do Espirito Santo e aí reza-se todos os dias o terço, orientado pelo pároco” refere.

No domingo de Pentecostes as coroações reúnem-se todas na Igreja e a seguir há o cortejo para a Casa do Espirito Santo e realizam-se as tradicionais sopas.

No Corvo há ainda o “Espírito Santo de Verão” destinado aos emigrantes que visitam a ilha.

“Embora sejam cada vez menos, na verdade, esta festa foi pensada para eles, para poderem experimentar este culto a que estão tão ligados” refere o sacerdote.

Habitualmente a dinâmica destas festas começa a intensificar-se no segundo domingo de Páscoa, sendo muito mais expressiva na semana que vai do Pentecostes à Trindade.

No Ramo Grande, na ilha Terceira, a festa é particularmente intensa e importante ao ponto de os dias de bodo serem os principais dias do ano na vivência da religiosidade popular.

“Esta é a expressão religiosa que permanece mais forte e ainda com um enorme entusiasmo e motivação de todo o povo” refere ao Igreja Açores o padre Emanuel Valadão, ouvidor da Praia da Vitória, na ilha Terceira.

“Acima de tudo é o facto do povo sentir esta presença da Pessoa do Espírito Santo na sua vida concreta e depois a manifestação da vontade de Lhe render homenagem, organizando uma festa”, esclarece.

“Quando há uma relação forte não há nada que nos impeça de viver a fé; é curioso porque durante a pandemia e o interregno forçado que houve na celebração destas festas (por razões sanitárias) não se perdeu o entusiasmo”, sublinha o sacerdote.

“Mesmo quando existe uma dificuldade ou outra, nomeadamente em encontrar mordomos, porque a função é mais exigente, as próprias Irmandades com a sua dinâmica própria encontram soluções o que mostra que esta vivência religiosa está muito enraizada nos açorianos”.

Em Santa Maria, este ano, a festa volta a ser celebrada no Pentecostes com uma festa de ilha, centrada na freguesia de Santo Espírito, paróquia de Nossa Senhora da Purificação.

“Pretendemos envolver toda a ilha na mesma celebração, quer no que respeita à coroação quer a própria função, com sopas”, adiantou ao Igreja Açores o padre Rui Silva.

A festa é marcada por grande simplicidade e toda a ilha é envolvida refere o sacerdote que é ouvidor e, por isso, se não houver qualquer promessa serão coroados o irmão mais velho e o mais novo que participam na festa e a coroação decorrerá no domingo da Trindade, uma semana depois, também em Santo Espírito.

A maioria dos Impérios decorre entre o Pentecostes e a Trindade.

O primeiro Império de Pentecostes celebra-se na ilha do Pico, no lugar da Silveira e decorre no sábado.

O voto que deu origem a este Império data de 1720 altura, em que depois de uma forte crise sísmica, se criou o mistério da Silveira, no concelho das Lajes. Três anos depois foi erguido o Império que se assume hoje como um dos mais antigos da Ilha do Pico na cronologia do povoamento desta ilha. Todos os anos este Império organiza a sua festa cativando a presença de muitos forasteiros.

Na Silveira a presença dos foliões mantém-se intacta com duas gerações o que não acontece em muitos lugares. Outra particularidade deste Império são as sopas, para as quais toda a população é convidada e participa cantando “vivas e louvores ao Senhor Espírito Santo”, com cânticos próprios.

O cortejo sai de casa do mordomo com as várias insígnias (estandartes e coroas), acompanhadas pelos foliões e pela filarmónica, rumo à igreja paroquial onde é celebrada a Santa Missa e a coroação. Segue-se o almoço de sopas do Espírito Santo, onde se sentam à mesma mesa os irmãos das irmandades com as suas famílias e todos aqueles que são convidados para a “função” ou “gasto de coroa”, como se diz em algumas freguesias da ilha montanha.

A meio da tarde realiza-se a procissão de recolha das rosquilhas ou vésperas que as senhoras levam à cabeça em açafates ornamentados com artísticas toalhas com os bordados da ilha e com as flores da época. Iguarias que depois, são distribuídas por todos os que passam na festa.

Uma das particularidades desta ilha, à semelhança do Faial e de São Jorge (as chamadas ilhas do triângulo) são os estandartes em forma retangular e enrolados numa vara que mantém nos seus quatro cantos uma “flor de lis” bordada, referência explícita aos primeiros povoadores destas ilhas, os flamengos vindos da Flandres.

Depois deste Império, as Festas em Honra do Divino Espírito Santo estendem-se até terça feira e depois são retomadas no fim de semana da Santíssima Trindade.

Ao todo no Pico realizam-se 45 Impérios, tantos quantas as irmandades existentes na ilha.

Também na ilha Terceira, o Dia do Bodo é o mais importante do ano, e embora existam dois domingos de bodo- o de Pentecostes e o da Trindade- na verdade, o primeiro é o mais importante.

No Ramo Grande, onde se vive mais fervorosamente esta tradição, multiplicam-se os impérios com os tradicionais carros de bois e a distribuição de pão e massa.

A tradição manda que se enfeitem os carros, com os mais bonitos panos de linho branco e os açafates para carregar o pão que se distribui a quem está no terreiro junto ao império.

Além do pão e do vinho, há sempre música.

É no segundo Bodo que se tiram os pelouros (que noutras ilhas se apelidam de sortes) para o próximo ano, isto é, se decide quem vai ficar com as insígnias do divino nas sete semanas de se seguem à Páscoa.

O culto ao Divino Espírito Santo é uma das marcas da religiosidade popular açoriana. Na ilha Terceira, este culto está documentado desde 1492, quando faziam o Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecostes, à porta de uma capela do hospital do Espírito Santo. Mesmo nos tempos de maior dificuldade, e de oposição da própria hierarquia, o culto nunca deixou de ser celebrado nos Açores. Hoje são os próprios papas que elogiam “o sopro do Espírito santo”, como uma “nova primavera para a Igreja”, como afirmou São João Paulo II. Também Francisco sublinha que a celebração do Pentecostes representa “o antídoto para o frenesim contemporâneo” e que este este é o momento de dizer” Vem, vem Espirito Santo vem. Aquece o meu coração”.

O dia dos Açores é assinalado na segunda-feira de Pentecostes.

O Dia dos Açores foi instituído pelo parlamento açoriano em 1980, visando celebrar a autonomia política e administrativa da região, sendo celebrado na segunda-feira do Espírito Santo.

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