In illo tempore

Por Renato Moura

Em 20.07.1976 foi instalada e iniciou um trabalho pioneiro, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Já lá vão 47 anos e isso justificou o título de “naquele tempo”, em que tudo era muito diferente dos tempos actuais. O processo democrático estava no seu início e os Açores procuravam encontrar forma de fazer leis adaptadas às suas ilhas e montar um governo e administração capazes de responder aos problemas específicos de cada ilha. Se o conseguiram, se hoje o estão a fazer e em que medida, deveria ser uma avaliação permanente de todos os responsáveis políticos (que demonstram dificuldade no confronto com aquele tempo e seus actores), mas também dos cidadãos, dos jornalistas e dos comentadores.

Falar desse tempo é recordar a ponderação na aceitação de cargos políticos e a responsabilidade que se colocava no seu exercício, pois muitas das tarefas que foi preciso empreender eram completamente novas. Depois viram-se exemplos de tanta gente que aceitou cargos com prejuízo das suas carreiras profissionais, das suas famílias, dos seus vencimentos. E o mais relevante era perceber que tudo isso se fazia numa missão de serviço, sem aspiração de fazer carreira. Nalguns casos sem receber absolutamente nada.

Importa referir que há umas dezenas de anos atrás o mesmo acontecia em toda as actividade da sociedade. Então a disponibilidade para servir como dirigente ou colaborador nas instituições e colectividades locais era enorme, sem receber absolutamente nada por isso.

Claro que os tempos mudaram, argumenta-se que a sociedade evoluiu e por isso se compreenderão comportamentos absolutamente diversos. Mesmo assim justificar-se-ão análises, que permitam perceber se foi para bem ou para mal.

Na verdade, hoje assiste-se a uma corrida e disputa para atingir alguns cargos, talvez por serem bem remunerados ou, mesmo sem o serem, permitirem uma afirmação pública que constitua credencial para acesso a outros. Não vejo nisso grande mal, são aspirações legítimas, se os pretendentes sentirem ter capacidade para os desempenhar. Se o fizerem com espírito de servir e não à procura de louvores excepcionais, que o simples cumprimento do dever não justifica; só a excelência legitima encómio.

Preocupante é ver a falta de disponibilidade para colaborar – que na Ilha das Flores se está a tornar constante – sem remuneração nem fama, em instituições e colectividades, sociais e religiosas, a ponto de levar à inactividade ou encerramento de algumas.

É tempo de aparecer a iniciativa corajosa e a força da juventude.

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