“Memórias de um Temp(l)o é uma boa notícia para os Açores e para a cidade de Ponta delgada”, diz curador da nova exposição da Igreja de São José

A paróquia inaugurou esta quarta-feira uma exposição com 48 peças que guarda “os nomes, os rotos e a história” da comunidade

Foto: Igreja Açores/PSJ

Ponta Delgada oferece, a partir desta quarta-feira, a exposição “Memórias de um Temp(l)o”, na Igreja de São José, uma iniciativa no âmbito das comemorações dos 500 anos do Convento de São Francisco.

A mostra, com curadoria partilhada pelo padre Duarte Melo, no acompanhamento espiritual,  e de Paulo Brasil, é muito mais do que uma simples mostra de obras de arte sacra ,  é um espaço de memória, encontro e contemplação.

Composta por 48 peças, a exposição revela um percurso patrimonial ancorado em grandes linhas históricas, mas com um enfoque na vivência espiritual e no legado imaterial que estas obras representam. Entre as obras em destaque, encontra-se um impressionante quadro de Nossa Senhora da Conceição, pintura do século XVI em óleo sobre madeira de cedro, de produção local e de grande relevância para os estudos da História dos Açores. Há ainda uma escultura de Cristo atado à coluna de 1629, uma representação pungente do sofrimento humano, e um Cristo crucificado indo-português do século XVII, peça intacta que sublinha a importância do arquipélago nas rotas dos descobrimentos e na abertura do mundo ao mundo.

A exposição conta também com uma obra contemporânea especialmente criada para assinalar o quinto centenário do convento: uma imponente pintura de Urbano, que ofereceu a obra à mostra. Trata-se de uma árvore simbólica, evocando a espiritualidade franciscana e o cuidado com a “casa comum”, oferecida pelo pintor Urbano para assinalar os 500 anos do Convento de São Francisco.

Segundo o padre Duarte Melo, “esta exposição não é apenas um conjunto de peças, mas um espaço de memória. Cada uma delas carrega um segredo, uma história de sobrevivência e de conhecimento, quase epifânica.”

“Esta exposição reafirma que o património da Igreja é um bem público ao serviço do Evangelho. Na sua visibilidade, na sua expressão, na sua potência, somos convidados a aproximar-nos do mistério de Deus” destacou ainda o sacerdote.

As 48 peças que integram a exposição são diferentes nas suas determinadas estéticas e linguagens patrimoniais, desde a paramentaria às alfaias litúrgicas, passando pela pintura e escultura e percorrem a história deste espaço, que é também a história desta geografia humana e arquitectónica e patrimonial, desde o século XVI até aos nossos dias.

“ Mapeiam um percurso ancorado em grandes linhas  históricas, mas não é uma exposição de história. Todas as peças, na sua singularidade, guardam um segredo que o tempo não apagou. Cada uma conta uma história carregada de memória, de memória amadurecida e até de sobrevivência” referiu o padre Duarte Melo.

“São peças gigantes, com nome, registo e até motivo de inventário. Nenhuma delas se deixou cristalizar. Elas chegaram até nós para estabelecer connosco um lugar de defesa e de salvaguarda do património”, prosseguiu.

“Na arte sacra não existe fronteira nem blasfémia” enfatizou ainda sublinhando que esta exposição “é uma boa notícia para os Açores e em especial para a cidade de Ponta Delgada” porque revela “um tempo que a memória não apagou”.

O presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, marcou presença na inauguração e destacou que Iniciativas como esta elevam comunitariamente o nosso povo. Mesmo sem uma adesão de massas, o tempo acabará por valorizar este património”, dada a sua importância estratégica.

“Através do resgate do património fazemos a elevação da nossa identidade “ disse o chefe do executivo regional que concede o seu alto patrocínio às comemorações dos 500 anos do Convento, mas também a esta exposição.

“O erário público compromete-se com estas iniciativas como é seu dever. Não se trata de uma confessionalidade a que o erário público se vincula mas sim uma identidade que eu exalto em iniciativas como esta”.

A exposição Memórias de um Temp(l)o ficará visitável a partir desta quinta-feira. Os textos disponibilizados em QRcode são bilingues. A equipa já está a trabalhar na edição do catálogo.

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