Mensagem da Páscoa do Bispo de Angra

Veja aqui o texto completo da mensagem de D. António de Sousa Braga.

MENSAGEM PASCAL

As pessoas estão a ficar acabrunhadas, com as persistentes notícias sobre a crise, as suas consequências, que já se fazem sentir, com a incerteza da sua duração e, portanto, do futuro que nos espera. Nada de novo debaixo do Sol… – escreve o autor sagrado – para tudo há um momento e um tempo para cada coisa (Ecl 1, 9 e 3, 1).

Diz-se que a crise é inédita. Portanto, inovadoras deverão ser as respostas. No entanto, há dados adquiridos e permanentes. O ser humano é sempre o mesmo. E o desígnio da salvação de Deus mantém-se. A Ressurreição de Jesus, que celebramos na Páscoa, não é mito, nem lenda. É dinamismo renovador no seio da história humana. Em Jesus Ressuscitado, já vencemos tudo o que oprime a humanidade. Aqui está o fundamento da esperança, que nos compromete, como crentes e cidadãos, que querem ser parte activa da solução da crise.

1. Como tudo na vida, este é um momento oportuno de graça: o hoje da graça. Pode ser uma chance para um salto de qualidade, com vista a uma convivência humana mais justa, solidária e fraterna. Como acontecia com o Ano Jubilar dos Judeus, cada 50 anos: ano da graça, para emancipar as pessoas e reparar injustiças, restituir as propriedades confiscadas e repor a justiça social.

Foi nesse sentido que, na Sinagoga de Nazaré, Jesus aplicou a Si a profecia de Isaías, segundo a qual o Messias, ungido pelo Espírito, proclamaria um ano da graça do Senhor, anunciando a Boa Nova aos pobres e libertando os oprimidos (cf. Lc, 4, 18-21). O próprio Jesus inicia a Sua pregação, proclamando que o Reino de Deus estava a chegar: convertei-vos e acreditai na Boa Nova (Mc 1, 14).

A Boa Nova é a presença salvadora de Deus na Pessoa de Jesus. Culminando no Mistério Pascal: Paixão – Morte e Ressurreição – Ascensão. Jesus anuncia e realiza o Reino de Deus. Com palavras, gestos de libertação e com a entrega da Sua vida na Cruz: em conformidade com os desígnios do Pai e como expressão da máxima solidariedade com a raça humana. Por isso, Deus O exaltou, ressuscitando – O. Confirmando, assim, a Sua Mensagem e o Projecto do Reino.

2. Jesus está vivo, presente e operante no meio de nós. A Sua Ressurreição é um novo tipo de presença: invisível, mas real. Uma presença espiritual. Porque se realiza através do Espírito Santo. «Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós… Rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para estar sempre convosco, o Espírito da Verdade… Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito» (Jo 14,16-18 e 26).

Assim, a missão salvadora de Jesus continua no mundo, através da presença e acção do Espírito Santo. Ressuscitando e subindo ao Céu, Jesus promete e envia o Espírito Santo. Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis Minhas testemunhas…, até aos confins da terra (Act 1, 8). O dom por excelência do Ressuscitado é, pois, o Espírito Santo.

Por isso, nos Açores se assinala o Tempo Pascal, com as festas populares em honra do Divino Espírito Santo, sob a forma de «Império». São expressão de partilha e de solidariedade, de entreajuda e de fraternidade, ou se quiserem, do «Império do Espírito Santo» (é assim que, nalgumas Ilhas, se denominam estas festas; noutras, a expressão indica o edifício, onde se guarda a coroa do Divino Espírito Santo).

3. Estamos perante uma crise, não só financeira e económica, mas também política e espiritual. Uma crise de valores, que reclama mais espiritualidade: vida «segundo o Espírito» – na expressão paulina – quer dizer, sob o «Império do Espírito Santo»: o Reino de Justiça, de Amor e de Paz, que Jesus veio estabelecer na terra.

Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais se vos dará por acréscimo (Mt 6, 33). Foi a recomendação de Jesus. Desta forma, a resposta radical à crise global do mundo de hoje estará no «Império do Espírito Santo». Se nos deixarmos guiar e transformar pelo Espírito Santo, esta crise que atravessa o mundo pode ser uma oportunidade para abrir caminho à «civilização do amor», em que haja lugar para todos no banquete da vida.

Urge que esses valores, tão humanos e cristãos, das festas populares em honra do Divino Espírito Santo, sejam vividos, não apenas um dia por ano, mas todos os dias, ao longo do ano; sejam, de facto, paradigma da convivência entre as pessoas e os povos.

Fundamento da fé cristã, a Ressurreição de Jesus é, portanto, a fonte da verdadeira esperança. Porque é garantia do que se espera e certeza do que não se vê, a fé é esperança (cf. Heb 11, 1). Porque acreditamos na Ressurreição de Jesus e na força transformadora do Seu Espírito, nós cristãos temos de ser homens e mulheres de esperança. Que se comprometem no presente. Certos de que a meta final é a vitória da vida com abundância. Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto (Jo 12, 24). Foi assim com Cristo-Cabeça; será assim também com os membros do Corpo. Podemos bem dizer: «o melhor ainda está para vir».

Feliz Páscoa!

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