MOMENTOS DE ELEVAÇÃO E DE RESPONSABILIDADE

Furtado Dias era o comandante da PSP de Ponta Delgada e coordenou juntamente com o comando de Angra a visita do papa em termos de segurança.

Recordando a visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II, em 11 de maio de 1991, a São Miguel (tendo sido antecedida com a visita à Terceira) e como responsável pela segurança procurarei transmitir os aspetos (alguns) de segurança que envolveram tal visita.

Por decisão do Comando – Geral da PSP e atendendo ao pouco tempo que mediava entre uma e outra visita, ao Comando de Angra de Heroísmo foi atribuída uma tarefa e ao Comando de Ponta Delgada outra diferenciada.

Antecederam a estes acontecimentos reuniões preparatórias que envolveram responsáveis e representantes da Santa Sé, representantes do Bispado, representante do Comando – Geral da PSP e um leque de outras autoridades locais.

Para os menos informados, qualquer deslocação de uma alta entidade a um local obriga a serem feitas várias considerações e cenários que são escalpelizados todos os pontos de vista e informações que se obtenham, porque uma visita deste cariz implica muito debate.

Senti as preocupações que se manifestavam do outro lado (representantes da Igreja) e fazia sentir, esclarecendo o melhor possível, que a localização dos Açores (São Miguel) associado a outros argumentos não deveria ser vista em pé de igualdade com outras paragens onde se vivia com menos segurança. Houve algum debate e como este assunto transportava muita responsabilidade ficou-se a aguardar a decisão final.

Decidida a visita, a minha preocupação resumia-se em: estudar o percurso, confirmar o lugar da cerimonia e o inicio dos trabalhos para montar o cenário da celebração e visualizar toda a sequencia.

Concluí que só precisava de um reforço de três equipas de «snipers» que pudessem cobrir todo o percurso e a cerimónia. Estas equipas ocupariam quatro locais por mim escolhidos e a primeira equipa após a passagem da coluna deslocar-se-ia para uma quarta posição pois as outras duas já se encontravam posicionadas. Os trabalhos do cenário foram vigiados desde o início, 24 h sobre 24 h, pela PSP, para além de uma equipa de minas e armadilhas intervir para confirmar a segurança.

Toda a zona envolvente tinha que estar liberta de obstáculos, nomeadamente viaturas, e para tal alertou-se a população para o efeito mencionando as vias que estavam condicionadas.

Aconteceu que uma viatura ficou estacionada na Avenida Kopke (junto à muralha do Forte de São Brás do lado poente) e foi rebocada. Em questões de segurança nunca se sabe o que pode acontecer.

Recordo com muita emoção a descida da Avenida Príncipe do Mónaco ao ver a Rotunda repleta de escoteiros a acenar com um lenço amarelo, a entrada na Rua de Lisboa que se ouviu um bruar da população e ao virar para a Avenida Roberto Ivens o mar de gente que se estendia até á Praça 5 de Outubro já repleta e parte da Avenida Infante D. Henrique.

Foi de facto um momento de elevação e não é fácil descrever.

O regresso de S.S. João Paulo II ao aeroporto, agora passando pela Rua Teófilo Braga e Rua de Santa Clara, o povo quer nos passeios quer nas varandas aclamavam-no e «pediam para ir mais devagar para poderem admira-lo».

Alguns minutos passados chegou a comitiva ao aeroporto e o embarque foi imediato, cumprindo-se assim todo o programa de uma visita memorável.

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