
O presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, da Igreja Católica em Portugal, disse hoje que “não” se pode permitir que “passem legislações que não contemplem” o “respeito absoluto pelo irmão”, à Agência Ecclesia, no Santuário de Fátima.
“Nós não podemos permitir que passem legislações que não contemplem este respeito absoluto pelo irmão, que não apelem a olhar cada homem, cada mulher, seja ele quem for e de onde vier, como alguém com quem eu tenho que construir a fraternidade no respeito, no diálogo, no reconhecimento do valor que tenho”, assinalou D. Armando Esteves Domingues.
A Conferência Episcopal Portuguesa promoveu esta manhã uma conferência sobre a declaração ‘Nostra Aetate’ (“Em nosso tempo”), documento do Concilio Vaticano II, através da Subcomissão de Diálogo Inter-Religioso, da Comissão Missão e Nova Evangelização.
“Quando se discutem as leis dos imigrantes, como outras legislações, era muito importante que os nossos católicos tivessem conhecimento destes documentos”, realçou o presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, referindo-se à ‘Nostra Aetate’, e também à “maravilhosa declaração da fraternidade humana”, a Declaração de Abu Dhabi, assinada pelo Papa Francisco e pelo grande-imã de Al-Azhar, Ahmad al-Tayeb, a 4 de fevereiro de 2019, nos Emirados Árabes Unidos.
“E que pudessem também fazer dele alimento para o convívio entre todos os povos, entre o acolhimento, sem exclusão, acolher mesmo os imigrantes, mas com dignidade. Lutar para que não sejam cidadãos de segunda, que não sejam espezinhados, mesmo esta questão da reconstrução familiar, como é importante que nós sejamos capazes de colocar as pessoas também juntas”, acrescentou D. Armando Esteves Domingues, bispo de Angra.
Em 2025 comemora-se o 60.º aniversário da publicação da ‘Nostra Aetate’, aprovada a 28 de outubro de 1965 pelo Concílio Vaticano II, e que se tornou um marco no relacionamento da Igreja Católica com as religiões não-cristãs.
Nesta declaração conciliar, intitulada ‘Em nosso tempo’, em português, lê-se, por exemplo, que não se pode “invocar Deus como Pai”, se há recusa em tratar como irmãos alguns homens criados à sua imagem e semelhança, ou que a Igreja reprova toda e qualquer discriminação e violência praticada por motivos de raça, cor, condição ou religião.
“Quanto gostaria, quanto seria necessário que as nossas entidades públicas, os políticos, os legisladores, tivessem no coração, e na preocupação, aquilo que são verdades inalienáveis, direitos reconhecidos”, assinalou D. Armando Esteves Domingues, lembrando que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi publicada em 1948, por isso, os homens já tinham “uma carta de referência que todos aprovaram”, antes da ‘Nostra Aetate’.
A Subcomissão de Diálogo Inter-Religioso, dos bispos católicos de Portugal, nasceu em novembro de 2023, o presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização que se consolide e que “em todas as dioceses se desenvolvam atividades, as mais diversas” porque “este diálogo é caminho fundamental para o respeito e construção de uma paz duradoura”.
D. Armando Esteves Domingues acrescenta que querem que tenha consequências sociais, e exemplifica que, nas escolas, as crianças convivem umas com as outras, “naturalmente começam “a conhecer como é que eles fazem”, e, “em muitas” aulas da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica os professores “aproveitam as festas de religiões” para a partilha de tradições, porque “é no conhecer que as pessoas se respeitam”.
O prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso da Santa Sé, o cardeal D. George Koovakad,, esteve no Santuário de Fátima, no âmbito das comemorações do 60.º aniversário da publicação da declaração conciliar ‘Nostra Aetate’, sobre a relação da Igreja Católica com as religiões não-cristãs, esta quinta-feira, dia 16 de outubro.

“As religiões, na sua essência, são fontes de fraternidade e solidariedade. Elas ensinam-nos a demonstrar amor, compaixão, perdão e misericórdia uns pelos outros”, referiu o cardeal George Koovakad, convidado da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no âmbito das comemorações do 60.º aniversário da publicação da declaração conciliar ‘Nostra Aetate’, sobre a relação da Igreja Católica com as religiões não-cristãs.
A iniciativa foi promovida pela Subcomissão de Diálogo Inter-Religioso da CEP e começou às 10h30, com a celebração da Eucaristia na Capelinha das Aparições, na Cova da Iria.
Perante representantes de várias confissões, o responsável da Cúria Romana sustentou que “o diálogo inter-religioso nada mais é do que um encontro entre pessoas, um encontro de corações, de mentes, de projetos com perspetivas de paz e harmonia”.
Para o prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso, é preciso promover entre os crentes “uma amizade respeitosa, apesar das diferenças e da diversidade”, partilhando “valores e convicções religiosas e preocupações comuns sobre a sociedade, que dão origem a um compromisso comum de trabalhar juntos pelo bem comum”.
“O Papa Francisco destacou-se por cultivar este tipo de amizade”, recordou, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.
O cardeal George Koovakad proferiu uma conferência sobre “a génese, história e relevância atual” da declaração ‘Nostra Aetate’, promulgada em 1965 pelo Concílio Vaticano II.
O documento é considerado histórico, marcando uma viragem na relação da Igreja Católica perante outras religiões, ao afirmar o respeito pelos valores espirituais presentes nessas tradições e condenar toda e qualquer discriminação por motivos de fé.
A declaração, que rejeita o antissemitismo, está ligada ao pontificado do Papa João XXIII, que convocou o Vaticano II, e ao seu encontro com o judeu francês Jules Isaac, sobrevivente do Holocausto.
“É inegável que a importância e a relevância da ‘Nostra Aetate’ para os nossos tempos se mantêm desde o momento em que surgiu e começou a exercer a sua influência na área do diálogo inter-religioso e em iniciativas e compromissos afins”, apontou D. George Koovakad.
O cardeal indiano falou de um “cenário angustiante e perturbador” na atualidade, marcado pela violência, que exige dos membros das várias religiões um trabalho comum para “encontrar respostas a essas questões em conjunto e construir a paz no mundo”.
Em declarações à Agência Ecclesia, o líder da Mesquita Central de Lisboa, xeque David Munir, sublinha a importância do diálogo, lembrando que algumas pessoas “utilizam a religião para fazerem conflitos, em vez de unir os povos”.
O responsável muçulmano elogiou as iniciativas que promovem o encontro entre crentes e desejou que, em Portugal, se mantenha a tradição de “partilhar a mesma mesa com pessoas das outras confissões”.
Timóteo Cavaco, presidente da Aliança Evangélica, também esteve em Fátima, destacando o percurso realizado nas últimas décadas.
“É muito importante ter este tipo de celebrações porque elas ajudam a olhar para trás e ver o caminho que já foi feito e ao mesmo tempo, precisamente, pensar no futuro”, assinalou.
O líder evangélico desejou que todos estejam “dispostos a conhecer o outro, a conhecer as convicções do outro, não só naquilo que ele é, mas também nas suas convicções”.
O programa da comem oração concluiu-se com um almoço que reuniu bispos, delegados diocesanos e líderes de outras religiões na Casa de Nossa Senhora do Carmo.
(Com Ecclesia)