“Não somos nem estamos melhor que os outros” na relação com o ambiente, refere Félix Rodrigues

O investigador açoriano reflete sobre as opções éticas a que a encíclica e a plataforma Laudato Si, lançada esta semana, desafiam

A relação entre os açorianos e o ambiente tem de ser melhorada, defende o professor universitário Félix Rodrigues em entrevista ao programa de rádio Igreja Açores a propósito da Plataforma Laudato Si, lançada esta semana pelo Papa Francisco.

“O verde dos Açores não significa total sintonia com o que fazemos.Já tivemos uma melhor relação com a natureza; atualmente esta relação com o ambiente tem de ser melhorada e pensada” refere o investigadora da Universidade dos Açores.

“É necessário que invertamos as nossas escolhas e as façamos a partir do bem do outro que é humano mas também que não é humano” esclarece exemplificando com aspectos que têm de ser melhorados: “Se formos fazer contas per capita rapidamente concluímos que não somos melhores que os outros. Por estarmos isolados viajamos mais e essas viagens de avião, ou viagens grandes de barco, são viagens muito penalizadoras para a atmosfera.  Desarborizámos e precisamos de mais árvores para conservar a biodiversidade”, acrescenta.

Por outro lado, ter uma boa relação com a natureza é “no quotidiano optarmos sempre por escolhermos o que está próximo, sem exageros; temos que pensar sobre o bem  e o mal que resulta das escolhas que fazemos”, refere Félix Rodrigues lembrando que nas propostas do Papa há um valor ético que está subjacente e é transversal a toda a encíclica publicada há 6 anos.

“O papa aconselha-nos a caminhar sobre nenúfares sem os destruirmos ou danificar. O que é que isto significa? Em termos éticos ter um balanço entre o ter e o ser. Vivemos numa sociedade muito consumista e estas questões éticas e morais são as grandes questões que temos  de ter em conta”, conclui.

O Papa lançou a Plataforma de Ação ‘Laudato Si’, no final do ano dedicado à sua encíclica de 2015, sublinhando a necessidade de enfrentar a atual “crise ecológica sem precedentes”.

“Há algum tempo que esta casa que nos hospeda sofre com as feridas que causamos por uma atitude predatória”, refere, numa mensagem em vídeo, sublinhando que “essas feridas se manifestam de forma dramática numa crise ecológica sem precedentes, afetando o solo, o ar, a água e, em geral, o ecossistema em que vivem os seres humanos”.

Francisco destaca que a pandemia veio sublinhar a interdependência entre os seres humanos e a natureza.

“Precisamos de uma nova abordagem ecológica, que transforme a nossa forma de viver no mundo, os nossos estilos de vida, a nossa relação com os recursos da Terra e, em geral, a forma como olhamos o homem e vivemos”, sustenta.

O Papa propõe uma “ecologia humana integral”, que ajude a superar estilos de vida “irresponsáveis” que estão a ameaçar o futuro.

“Vamos cuidar da nossa mãe Terra, vamos superar a tentação do egoísmo que nos torna predadores dos recursos, vamos cultivar o respeito pelos dons da Terra e da criação, vamos inaugurar um estilo de vida e uma sociedade que finalmente seja ecossustentável”, apela.

Temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Recebemos um jardim das mãos de Deus, não podemos deixar um deserto para os nossos filhos”, afirma.

Francisco adianta que a Plataforma de Ação ‘Laudato Si’ propõe uma “jornada” de sete anos para que todas as comunidades católicas “se tornem totalmente sustentáveis, no espírito da ecologia integral”.

O desafio foi lançado, em particular, a sete realidades: famílias; paróquias e dioceses; escolas e universidades; hospitais; empresas e negócios agrícolas; organizações, grupos e movimentos; institutos religiosos.

“Trabalhando juntos. Só assim poderemos construir o futuro que desejamos: um mundo mais inclusivo, fraterno, pacífico e sustentável”, sustenta o Papa.

percurso é inspirado pelos sete objetivos da ‘Laudato Si’: “a resposta ao grito da Terra, a resposta ao clamor dos pobres, a economia ecológica, a adoção de um estilo de vida simples, a educação ecológica, a espiritualidade ecológica e o compromisso comunitário”.

“Há esperança. Todos podemos colaborar, cada um com a sua cultura e experiência, cada um com as suas iniciativas e capacidades, para que a nossa mãe Terra volte à sua beleza original e a criação volte a brilhar segundo o desígnio de Deus”, refere Francisco.

A nova plataforma, disponível em nove línguas, incluindo o português, conta com o apoio do Movimento Católico Global pelo Clima e de todos os Institutos Religiosos.

O Papa Francisco assinalou o quinto aniversário da sua encíclica ecológica e social, lançando um ano especial a 24 de maio do 2020.

O Vaticano apresentou, durante esta celebração, um “manual” de aplicação da ‘Laudato Si’ com mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.

(Com Ecclesia e Vatican News)

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