Novena dos Espinhos começa com um apelo ao “diálogo social autêntico” que liberte a sociedade dos “espinhos do individualismo e dos interesses particulares”

Foto: Igreja Açores/CR

Celebração, que se pensa ter sido iniciada em 1771 pelas Clarissas do Convento da Esperança,  é um dos três momentos fortes das celebrações do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que se inicia sempre na quarta-feira seguinte à das Cinzas

A Novena dos Espinhos, que começou hoje em Ponta Delgada, no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, foi marcada por um apelo ao “diálogo social autêntico” entre gerações, que respeite “valores” que potenciem a defesa “do bem comum”.

A partir da interpelação feita por São Paulo aos Romanos sobre quem nos afasta do amor de Cristo, o padre Hélio Soares, o primeiro de três pregadores que participarão nesta novena, que se estenderá até dia 29 de fevereiro, lembrou os novos espinhos que hoje estão “cravados na nossa existência” como o “relativismo, o individualismo, a falta de diálogo e a perda de valores”.

“Nestes pseudo diálogos mais próximos do monólogo que acontecem hoje a nível institucional e individual, de que as redes sociais (um lixo autêntico!) são um exemplo, predominam a falta de sinceridade, de honestidade, de frontalidade e o costume de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes” referiu o sacerdote opondo a necessidade de promover “um diálogo aberto e respeitoso, onde se procure alcançar uma síntese que vá mais além, que tenha em conta o bem comum” .

“Parece que o outro nem existe”, sintetizou.

“A falta de diálogo supõe que ninguém, nos diferentes setores, está preocupado com o bem comum, mas em obter as vantagens que o poder lhe proporciona ou, na melhor das hipóteses, em impor o seu próprio modo de pensar” prosseguiu o sacerdote sublinhando que só há progresso e respeito pelo outro quando existir “a capacidade de dar e receber” sempre numa lógica de “verdade”.

Por isso, o sacerdote apelou ao surgimento de novos “heróis” que quebrem a lógica do mundo e se inspirem na Palavra de Deus.

“Os heróis do futuro serão aqueles que souberem quebrar esta lógica mórbida, ultrapassando as conveniências pessoais, e que decidam sustentar respeitosamente uma palavra densa de verdade, sinceridade e tolerância. Queira Deus que estes heróis se estejam a gerar silenciosamente no coração de cada um de nós, da nossa sociedade”, disse.

“Contribuir para estender este amor de Jesus pressupõe este diálogo social autêntico; pressupõe aceitar o ponto de vista do outro valorizando aquilo que existe em comum, mesmo que os pontos de vista sejam diferentes”, disse.

O sacerdote começou por enquadrar esta festa no contexto da história do Convento da Esperança e da cidade de Ponta Delgada, fazendo-a remontar a 1771, altura em que as religiosas Clarissas solicitaram a Roma a sua celebração.

“Diante da realidade espiritual do período moderno, interessa-nos reafirmar a importância dada à contemplação da Humanidade de Cristo” referiu destacando o apelo à conversão a que o sofrimento de Jesus convoca.

“Há que escutá-los e acolhê-los deixando-nos tocar e iluminar pela Palavra”, referiu, lembrando que o sinal redentor é a cruz e não os grandes feitos, assentes no poder pessoal.

“O grande sinal que o Pai nos envia é Jesus, que carrega sobre si as nossas culpas, para nos salvar. Sinal do céu é o Crucificado. Voltar-nos para Ele e contemplá-lo, contemplar as suas chagas e, particularmente, o seu Lado aberto e o seu Coração trespassado é o início e o caminho da conversão”, referiu ainda.

“Quando ultrapassarmos a barreira do individualismo, isto é, uma conversão pessoal transformadora, estaremos recetivos a novos caminhos”, afirmou frisando que o amor de Jesus “une e não separa”.

“Construir as pontes do Amor de Jesus, pressupõe o diálogo social autêntico; pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. A partir da própria identidade, o outro tem algo para dar, e é desejável que aprofunde e exponha a sua posição para que o debate público seja ainda mais completo”, concluiu.

O programa da ‘Novena dos Espinhos’, sempre às 18h00 locais  prossegue com mais dois de pregação por parte do padre Hélio Soares: amanhã o tema será uma passagem do Evangelho de São Mateus-  “Este é o meu filho muito amado” -, e no dia 23, o evangelista escolhido é São Marcos com a passagem: ‘Levantaram-se alguns e proferiram falsos testemunhos contra Jesus’.

De 24 a 26 de fevereiro, a reflexão do cónego Manuel Carlos Alves, reitor do Santuário, vai ser inspirada nos Atos dos Apóstolos, na Carta aos Colossenses e na encíclica ‘Laudato Si’ do Papa Francisco.

O terceiro pregador da ‘Novena dos Espinhos’, o padre José Paulo Machado, vai falar sobre “justiça”, no dia 27, depois inspira-se na Carta aos Gálatas (28) e na Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, a 29 de fevereiro.

No dia da Festa dos Espinhos, 1 de março, a pregação inspira-se na Carta aos Filipenses: “Ao nome de Jesus se dobre todo o joelho”.

“Todos são convidados a participar nesta Novena e nesta Festa, em que procuramos aprofundar a nossa relação com Deus e com os irmãos, com particular destaque para os mais pobres que seja uma oportunidade para nos aproximarmos do Senhor Santo Cristo e assim caminharmos rumo à Páscoa”, afirmou o cónego Manuel Carlos Alves, reitor do Santuário no inicio da celebração.

A Novena dos Espinhos é uma das três festas do Festa dos Espinhos, com a festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, no sexto domingo da Páscoa, e a festa do Cristo Rei, no último domingo antes do Advento; estas celebrações podem ser acompanhadas à distância, na página do santuário na internet.

Os santuários da Diocese de Angra – cinco santuários diocesanos, três cristológicos e dois marianos – escolheram a oração como tema e prioridade para este ano pastoral.

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