O império da partilha

Por Carmo Rodeia

Não há localidade açoriana que por estes dias não viva a festa do Divino Espírito Santo. Entre o fim de semana de Pentecostes e o da Trindade todos os açorianos, vivam na ilha ou na diáspora, qualquer que ela seja, esforçam-se por prestar uma digna homenagem à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

As festas do Espírito Santo fazem parte da alma açoriana, ao ponto dos nossos políticos terem instituído a segunda feira de Pentecostes como dia dos Açores. Quem nelas participa vive como se fosse uma enorme família, com refeições e festa q.b. Neste Império do Espírito e da Partilha, que no fundo é o verdadeiro Império do Amor, homens e mulheres são convidados a viver a utopia da solidariedade, concretizando o sonho de uma sociedade livre, fraterna e feliz.

“O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.”

A afirmação contida nos Atos dos Apóstolos é desafiadora: é como se Jesus nos dissesse eu posso ter acabado mas a missão continua; por isso tratem de deixar de olhar para o Céu e metam mãos à obra porque a vossa missão é na Terra. E até deixou a fórmula: o desafio é o de viverem na confiança (“Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim dos tempos”) e no amor (“Deus amou de tal maneira o mundo, que lhe deu o seu próprio Filho”).

Mas depois, é como dizia Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres”. E o que quisermos não pode ser senão fazer a Sua vontade que é como quem diz amar o próximo como Ele nos amou.

O caderno de encargos não é pequeno, pois o verdadeiro amor não tem medida e deve atender à satisfação das necessidades corporais e espirituais do nosso irmão, que nos está próximo.

“O Amor é a flor, e a Misericórdia é o fruto”, dizia Santa Faustina.

Todo o ato de amor resulta em misericórdia, não há como fugir desta verdade pois praticar obras de Misericórdia é amar concretamente a Jesus nos irmãos.

Cada um dentro de suas possibilidades e dons, pode em diversos momentos da vida fazer obras de misericórdia.

 

Para uns é mais fácil visitar enfermos, para outros é mais fácil ensinar os ignorantes. Mas para todos, em alguma fase da vida, surgirão os momentos de “perdoar as injúrias” e “sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo”.

A diocese de Angra tem insistido muito nas suas orientações diocesanas, dos últimos três anos, pelo menos, que é preciso evangelizar a religiosidade popular e tem dado como exemplo, justamente, as festas em honra do Divino Espírito Santo.

Se conseguirmos, cada um de nós, ser outro Paráclito, que é como quem diz, consoladores e defensores dos nossos irmãos, sobretudo dos pobres, excluídos e não amados estaremos a afirmar os mais nobres valores que devem estar subjacentes à condição humana. Estaremos a realizar festa do Espírito Santo todo o ano e … a evangelizar.

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